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De olho na Lua

Alunos de Diadema desbravam o universo em curso eletivo e no clube de astronomia

Joyce Cunha
Do Diário do Grande ABC
04/09/2022 | 08:56
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Celso Luiz


“Em uma escala solar, a gente não equivale nem à ponta de uma agulha. Somos tão pequenos perto de tantas coisas grandes que dá curiosidade.” Essa poderia ser a observação de um astrofísico ou um cientista renomado sobre a importância do estudo da astronomia, mas não. A afirmação é de Luigi Sanches Pereira Monteiro, 12 anos, aluno do 7º ano da Escola Estadual Professora Antonieta Borges Alves, situada no bairro Conceição, em Diadema.

Desde que ingressou no PEI (Programa de Ensino Integral), em 2020, a unidade oferece, entre outros, o curso eletivo de geografia física para 80 estudantes com idade entre 13 e 15 anos, do 7º ao 9º ano do Fundamental 2. Sob a liderança do professor e geógrafo físico Milton Pereira de Barros, 54, as aulas, que começaram como mais um projeto complementar, já renderam 14 medalhas à escola na OBA (Olimpíada Brasileira de Astronomia) e a criação de um clube temático.

Luigi foi um dos participantes da competição nacional, a OBA, em um episódio que parecia estar “escrito nas estrelas”. “Foi por acaso. O professor passou uma lista na sala e coloquei meu nome, sem saber bem o que era. Decidi participar e entrei faltando dois dias (para a prova). Estudei de um jeito mais rudimentar as Leis de Kepler”, diz o aluno que pretende, em breve, matricular-se na eletiva de astronomia.

Com a vaga já garantida em uma das turmas, Agata Pinheiro, 15, do 9º ano, não pretende seguir carreira nesta que é a ciência que estuda os corpos celestes e fenômenos que acontecem fora da atmosfera terrestre. Ainda assim, as aulas de geografia física facilitaram o entendimento de teorias matemáticas, entre outras. “Desde pequena sempre tive fascínio pelos planetas. (Nas aulas) aprendemos a calcular a distância do Sol e das estrelas e fizemos uma rosa dos ventos”, contou sobre as recentes descobertas.

NOVOS MUNDOS

O professor Milton, que hoje inspira os alunos de suas turmas eletivas de geografia física, também foi inspirado em sua adolescência, quando cursava o ensino médio na Escola Estadual João Ramalho, no Jardim Elisa, em Diadema. “Eu tinha um problema sério. Eu odiava física. O professor explicava e ninguém entendia nada. Um belo dia, ele decidiu ir para o lado da astronomia. Pronto: mudou a cabeça de todos os alunos”, lembrou.

Os cálculos começaram a fazer tanto sentido que a turma formou a Sociedade de Astronomia e Astrofísica de Diadema, que seria o embrião para a criação do Observatório de Astronomia da cidade, anos depois.

O professor de Milton era Ozimar da Silva Pereira, mestre em física pela USP (Universidade de São Paulo).

“Ele foi um divisor de águas na vida de muitos alunos. Não estava em nossos planos, por sermos estudantes e moradores da periferia. Quais são os sonhos que os alunos de periferia têm? Terminar o colegial e ir trabalhar. Ele mudou isso. A maioria desses alunos estão hoje inseridos em centros científicos, observatórios astronômicos e planetários pelo Brasil”, explicou Milton. “Antes (a física) para mim não servia para nada. Graças àquelas aulas eu passei a fazer parte desse mundo”, concluiu.

MISSÃO DA NASA AO ESPAÇO É ACOMPANHADA POR ESTUDANTE

As turmas do curso eletivo de geografia física da Escola Estadual Professora Antonieta Borges Alves, em Diadema, estão atentas às atualizações da Artemis 1. A missão não tripulada da Nasa (Agência Espacial Norte-Americana), que teve lançamento novamente suspenso ontem, testará capacidades da espaçonave Orion e do foguete SLS (Space Launch System), sendo base para a exploração humana ao espaço profundo. A duração estimada é de 37 dias. De acordo com a Agência Espacial, o voo abrirá caminhos para as próximas etapas da Artemis, inclusive a primeira missão tripulada desde 1972. 

Na última segunda-feira (29), o mundo parou para acompanhar o lançamento. No pátio da escola diademense, o professor Milton Pereira de Barros montou telão e estrutura para os estudantes não perderem o evento histórico para a astronomia. A tentativa inicial também foi cancelada pela Nasa após a identificação de problemas técnicos no motor do foguete. Entre os estudantes do curso eletivo está Júlia Paiva, 14 anos, do 9º ano. A aluna, que é filha do professor Milton, esperou ansiosa pelo lançamento. “Essa é uma oportunidade para expandir nossos horizontes. E, ao mesmo tempo em que estamos aprendendo, também nos divertimos”, afirmou. 

Quem também observou com atenção a atividade foi o aluno Matheus Henrique de Assis Nascimento, 14, 9º ano. “Eu sou realmente apaixonado por astronomia”, disse o jovem, que é um dos integrantes do clube de astronomia da escola. “Eu quero ampliar meus conhecimentos na área. A astronomia realmente transformou o mundo de hoje. Conseguimos saber, somente olhando para o Céu e para as constelações, quando vai haver período de seca, quando haverá colheita”, exemplificou. 

Somadas as iniciativas desenvolvidas pela escola, que integra o Programa de Ensino Integral do governo de São Paulo, o professor da eletiva projeta ainda mais avanços. “Gosto de desenvolver essas atividades com eles. Temos, além da eletiva, os estudos para a Olimpíada Brasileira de Astronomia e o clube de astronomia. A cada ano que passa isso vem aumentando. Temos condições para que a escola seja um polo astronômico na cidade”, afirmou Milton. 




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