A primeira grande mostra da obra do pintor El Greco nos Estados Unidos em 20 anos deve ser aberta no Metropolitan em 7 de outubro. Organizada pelo Metropolitan e a Galeria Nacional de Arte em Londres, a exposição reúne 80 obras de todo o mundo e estará aberta até 11 de janeiro, antes de viajar para Londres em fevereiro. Pesquisas descobriram muito sobre Domenikos Theotokopoulos, o artista mais conhecido como El Greco, nas últimas duas décadas, e a mostra explorará todos os aspectos de sua obra, com ênfase particular em suas pinturas místicas tardias.

As pinturas exuberantes de El Greco eram consideradas um pouco bizarras durante o século XVI e início do XVII, quando este artista nascido na Grécia estava produzindo seus retratos marcantes e suas pinturas religiosas monumentais, cenas mitológicas e paisagens turbulentas.

Mas desde o século XIX, quando um grupo de críticos, artistas e colecionadores redescobriu sua obra, El Greco tem sido uma fascinação duradoura para os artistas modernos. Delacroix possuía uma cópia de O Despojamento de Cristo; John Singer Sargent comprou uma cópia de São Martin e o Mendigo; e Cézanne copiou o retrato de Uma Dama em um Casaco de Peles.

Picasso também era um fã. Les Demoiselles d’Avignon, uma de suas pinturas mais famosas, foi inspirada em parte pela Abertura do Quinto Selo (A Visão de São João) de El Greco. No fim de sua vida Picasso até criou uma paródia de O Enterro do Conde Orgaz, transformando o corpo do conde em um frango assado e substituindo uma figura que era um auto-retrato de El Greco por uma imagem de si mesmo vestindo um suéter listrado.

No fim dos anos 1930 o pintor expressionista abstrato Jackson Pollock estudou El Greco também, preenchendo cadernos de rascunho com desenhos anatômicos, estudos de tecidos e cenas religiosas que prenunciavam suas famosas pinturas gotejadas. El Greco continua a inspirar uma nova geração de artistas contemporâneos. O pintor nova-iorquino John Currin se lembra que sua primeira grande experiência em um museu foi ir ao Metropolitan Museum of Art quando ele tinha dez anos e ver Abertura do Quinto Selo.

“Ele teve um grande efeito em mim”, disse Currin, que é um jovem pintor simbólico ardente. “Na primeira vez que você vê essas pinturas, elas são tão poderosas que te deixam tonto”.

“Um dos fatores interessantes, além do alcance da obra de El Greco, é enxergar o modo como os antigos mestres influenciaram a arte moderna”, disse Keith Christiansen, curador do departamento de pinturas européias no Metropolitan e um dos curadores da exposição. “Nós queremos que as pessoas pensem sobre a atemporalidade desta arte, que vejam como o passado ressoa com o presente”.

Para enfatizar esse ponto, os organizadores trataram de ladear as obras com comentários de artistas do século XX sobre El Greco. Algumas etiquetas de parede incluirão fotografias de obras de artistas dos séculos XIX e XX, como Cezanne, Thomas Hart Benton e Picasso. Na Robert Wood Johnson Jr. Gallery, próxima ao Metropolitan, o museu mostrará cinco desenhos de Pollock que são pelo menos vagamente baseados nas pinturas de El Greco.

A última grande exposição de El Greco nos Estados Unidos foi aberta na Galeria Nacional de Arte em Washington em 1982.

Embora a nova exposição tenha sido organizada cronologicamente, há algumas exceções. Penduradas juntas pela primeira vez estão três versões da imagem de um garoto soprando uma brasa para acender uma vela. Uma destas, emprestada do Museu Nacional de Capodimonte, em Nápoles, Itália, data do início da década de 1570; outra, do Harewood House Trust em Yorkshire, Inglaterra, é do final da década de 1570; e uma terceira, da Galeria Nacional da Escócia em Edimburgo, é do final da década de 1580 ou do início da década de 1590.

“Eu queria trazer à tona a forma como o artista pega um assunto e o visita novamente em diferentes ocasiões de sua carreira”, disse Christiansen.

A Galeria Nacional em Londres sondou o Metropolitan sobre a possibilidade de fazer a mostra em conjunto. David Davies, um estudioso de El Greco baseado em Londres e curador convidado da mostra, queria ligar-se com o Metropolitan porque muitas das mais belas obras de El Greco estão nos Estados Unidos. “As mesmas pessoas que colecionavam os impressionistas também colecionavam El Greco”, afirmou Christiansen.

Uma delas foi Louisine Havemeyer, uma grande colecionadora no início do século XX e uma das doadoras mais importantes do Metropolitan. Em 1901 ela foi para a Espanha, onde Mary Cassatt a levou para o Palácio Onate, em Madri. Lá ela viu pela primeira vez o famoso retrato de um cardeal, que se acreditava ser o Grande Cardeal Inquisidor Nino de Guevara, vestido em mantos de carmesim brilhante com óculos pretos redondos e um olhar intenso. Três anos mais tarde ela comprou esse retrato e o deixou para o Metropolitan em 1929.

Os estudiosos consideram esse retrato como um marco na história da pintura de retratos européia. “Você se sente como se estivesse em frente do grande inquisidor”, disse Christiansen. “Tudo sobre ele tem um tipo de tensão, porque não tem a ver com aparências, mas com caráter e emoção. É um retrato de proporções psicológicas”.

A imagem do cardeal está pendurada em uma galeria dedicada aos retratos de El Greco. Também está em exposição Um Artista (Provavelmente Jorge Manuel Theotokopoulos)”, uma pintura impressionante do filho de El Greco, que trabalhava no estúdio de seu pai.

Cada galeria tem exemplos da natureza etérea, quase alucinatória, das obras de El Greco. Há paisagens com céus estranhamente escuros e tempestuosos e cenas religiosas tão coloridas que um dos técnicos que ajudavam a descarregar A Adoração do Nome de Jesus olhou para a tela brilhantemente colorida e exclamou: “Ele usou todos os lápis de cor da caixa”.