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Pais denunciam maus-tratos em escola de Ribeirão Pires

Grupo de 10 pessoas relata situações que ocorrem desde 2008; instituição nega todas as irregularidades

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
12/04/2022 | 00:32
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Grupo de dez pessoas, que reúne pais de ex-alunos e ex-funcionários da Escola Waldorf Pomar, em Ribeirão Pires, acusa a instituição de praticar, desde 2008, maus-tratos e abuso verbal contra as crianças, além de perseguição a trabalhadores e famílias que questionassem a instituição. As denúncias têm como alvo a diretora e fundadora da escola, Cínzia Amaral, e sua filha, Raíssa Amaral, que é professora no estabelecimento, que atende do berçário ao 9º ano do ensino fundamental.

Uma das principais denúncias é a da filósofa Daniele Bruno, que registrou BO (Boletim de Ocorrência) relatando que Raíssa gritava muito com seu filho, usava termos classificados pela mãe como constrangedores e praticava assédio verbal, além de relatar fala violenta proferida pelo professor de música, Renan Marques Regados. No documento, a mãe diz que a criança foi colocada para fora da sala em ambiente vasto e sem supervisão de adultos, em área próxima à mata. Daniele chegou a mandar um celular para tentar gravar os diálogos dos professores e preferiu pela transferência para outra instituição de ensino.

A diretora Cínzia negou que a criança tivesse sofrido qualquer tipo de maus-tratos. Já Raíssa admitiu que tem tom de voz alto e que, muitas vezes, acaba elevando-a, mas também negou que grite com as crianças. Sobre a fala do professor de música, que teria dito “vocês só aprendem na porrada? Então vão ter porrada”, o docente argumentou que dois alunos de outra turma brigaram em ocasião e as crianças presentes passaram a gritar “porrada, porrada”. Que algo que ele disse nesse contexto poderia ter sido mal interpretado. “Aqui na escola todas as crianças são responsabilidade de todos, e se o aluno estava fora da sala, com certeza outras professoras o estavam olhando”, afirmou a diretora sobre a exclusão do aluno da sala.

Daniele, é a única mãe do grupo que permitiu que fosse identificada. A direção da escola também registrou BO contra a filósofa por calúnia, após ela fazer postagens em suas redes sociais pedindo que as pessoas respondessem o que ela faria se alguém maltratasse crianças em uma escola. As respostas incluíam termos como flechada, paulada e fogo e, apesar de não citar o nome unidade escolar, a instituição classificou o gesto como incitação à violência.

Outros nove pais e ex-funcionários também fizeram diversas acusações contra a escola. Segundo os relatos, as situações ocorreram entre 2008 e 2020 e vão desde manipulação emocional das crianças e dos pais (especialmente os separados) pela professora Raíssa e pela diretora Cínzia, até casos de agressão contra crianças (um aluno bateu na professora e ela devolveu, um aluno cuspiu na professora e ela devolveu), até episódios em que Raíssa teria segurado uma criança para que outras a agredissem (como resposta ao aluno ter agredido uma colega) e um episódio em que ela teria lavado com sabão a boca de um estudante que falou um palavrão.

Raíssa negou todas as acusações e garantiu que nunca agrediu nenhuma criança. A professora disse que, segundo a pedagogia Waldorf, crianças em crise podem ser contidas com os chamados “abraços de urso” e que nessas ocasiões, muitas vezes, foi agredida por estudantes. Que nunca lavou a boca de ninguém com sabão e que sobre o episódio de ter segurado um aluno, ela o estava contendo durante uma crise. A escola nega também a acusação de manipulação emocional e argumenta que na pedagogia Waldorf tudo é resolvido de forma muito próxima entre a família e a escola. “Talvez, no começo, a gente não tenha adotado a melhor forma de separar as coisas”, ponderou Cínzia.

Há também relatos sobre problemas trabalhistas, como jornadas de trabalho extensas, auxiliares de sala sem salário e trabalhando apenas por bolsa para os filhos, entre outras situações. Em 2018, o MPT (Ministério Público do Trabalho) chegou a vistoriar o local e exigir série de adequações. A escola alegou que cumpre as obrigações trabalhistas e apresentou certidão negativa de débitos trabalhistas, emitida em 1 de abril de 2022.

Quando questionados sobre porque levaram tanto tempo para denunciar o que ocorria na escola, de forma geral, os pais afirmam que acreditam muito na metodologia, que tentaram alertar a direção sobre os problemas e que esperavam que as coisas mudassem.  


Federação afirma que vai averiguar acusações


A Federação das Escolas Waldorf no Brasil foi informada sobre as denúncias de maus tratos feitas por grupo de pais e ex-funcionários da Escola Waldorf Pomar de Ribeirão Pires. A entidade informou, em nota assinada por Denise Seignemartin, que está apurando os fatos para que possam se pronunciar com clareza, mas que isso leva tempo, porque querem ouvir a escola e as referidas famílias. A federação informou ainda que, a princípio, não há registros de queixas contra a escola, mas que certamente não podem ficar omissos diante de tal denúncia e que, por isso, farão a devida averiguação.

A Seduc (Secretaria de Educação do Estado de São Paulo) informou que a DE (Diretoria de Ensino) de Mauá, responsável pela cidade, enviou três supervisores à escola para averiguar relatos e as aulas ocorreram normalmente. A DE esclareceu que, dentro de suas funções compete verificar se as unidades particulares possuem capacidade física e pedagógica para manterem atividades e disse que sobre possíveis crimes, cabe à SSP (Secretaria da Segurança Pública) se manifestar.

Questionada sobre o BO (Boletim de Ocorrência) aberto pela mãe de um aluno, a SSP informou que o caso foi registrado como não criminal na delegacia eletrônica e encaminhado para a unidade de Ribeirão Pires. A pasta informou que equipe analisa os fatos relatados e comunicou os órgãos de educação pertinentes, assim como o conselho tutelar, para as devidas providências. A secretaria disse que, após a tratativa da questão pelas referidas instituições, havendo elementos que indiquem a prática de crimes, será instaurado inquérito policial pela autoridade responsável para as devidas providências de polícia judiciária.

O Conselho Tutelar de Ribeirão Pires informou que o atual colegiado atende a Escola Waldorf Pomar a partir do ano de 2020 sem nenhuma situação referente a maus-tratos ou qualquer outra situação que desabone a instituição. Que os anos anteriores foram atendidos por outros colegiados, mas que também não existem registros de denúncias que configurassem investigações.




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