Esportes Titulo Conflito no Leste Europeu
Renan Oliveira recorda tensão vivida na Ucrânia

Centroavante nascido em Santo André joga no Kolos Kovalivka e contou detalhes do que passou e sentiu

Dérek Bittencourt
Do Diário do Grande ABC
16/03/2022 | 00:01
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Celso Luiz/ DGABC


O centroavante andreense Renan Oliveira já está de volta aos braços da família há duas semanas, mas algumas imagens não saem e talvez nunca sairão da cabeça do jogador, que teve de deixar a Ucrânia, onde defende o Kolos Kovalivka, na elite do futebol daquele país, em razão da invasão da Rússia. Ontem, ele esteve no estúdio do Diário para participar do Diário Esportivo (confira o programa na íntegra no QR Code ao lado) e partilhou passagens dos momentos de tensão que viveu desde o início dos ataques russos até que ele pôde, enfim, fugir à Romênia, com ajuda de seu clube, e pegar um voo para o Brasil.

“A parte mais triste do que presenciei estando neste conflito foi ver os pais indo, deixando filhos e mulheres (na fronteira com a Romênia), se despedindo e voltando, porque iriam se preparar, fazer os treinamentos para estar junto do exército. Foi um choque, o que mais me marcou, ver a criança sem saber se veria novamente o pai, ou a mulher sem saber se veria o marido. Porque não tem como calcular o que pode acontecer”, relatou, referindo-se ao fato de os homens ucranianos entre 18 e 60 anos não poderem deixar o país para ficar à disposição do serviço militar.

Renan contou que deixou tudo o que tinha em Kiev, onde morava, permaneceu quatro dias no hotel do Kolos – que conta com seguranças e até um bunker para que todos (inclusive familiares) possam ficar protegidos –, até que o presidente da agremiação disponibilizou uma van para que ele e quatro outros atletas pudessem viajar por 16 horas até a última cidade ucraniana antes da fronteira. “Seguimos os últimos 11 quilômetros a pé até a Romênia. Caminhamos duas horas, duas horas e meia. Tinham cerca de 6.000 pessoas esperando para conseguir atravessar”. No caminho, porém, sentiu alguns efeitos da realidade que estava tentando deixar para trás. “Os próprios civis estavam fazendo barreiras na estrada, parando e revistando os carros, porque tinham boatos de que russos estavam tomando os carros de civis e matando o pessoal na rua”, afirmou.

O andreense disse que mantém contato frequente com amigos e companheiros na Ucrânia. Inclusive, dois atletas do Kolos se juntaram ao exército para defender o país. De tudo o que viveu, ouviu e sentiu, ficam lições. “A gente tem que viver o dia de hoje, porque não sabe o que pode acontecer amanhã. É muito triste ver aquilo e não saber se vão conseguir se reestruturar, porque o país está sendo destruído. Já tem cidades sem ninguém porque destruíram tudo. Criei afeto e carinho grande pelo país, pelas pessoas. Há 15 dias eu estava lá, então me preocupo com aqueles que ficaram.”

Renan, assim como os demais brasileiros que atuam na Ucrânia, conseguiu voltar ao solo brasileiro e, segundo ele, reencontrar os familiares foi um dos maiores prazeres. “O que mais precisava neste momento era chegar no Brasil e a família ver que eu estava bem. Este contato com eles (no aeroporto, logo após desembarcar em Guarulhos) foi o maior alívio e conforto, quando pude abraçar minha mãe e ela viu que eu estava bem”, finalizou.

(colaborou Yasmin Assagra)

Centroavante busca clube provisório

Desde que chegou ao Brasil, Renan Oliveira busca manter a forma física e, ao mesmo tempo, aproveita para rever familiares e amigos. No entanto, espera em breve retornar à Europa para retomar a carreira – a Fifa permitiu que atletas estrangeiros que atuam no futebol ucraniano e russo possam se transferir a outras equipes até 30 de junho. O andreense diz haver negociações. A única certeza é a de que não volta à Ucrânia.

“Estou me preparando, busco treinar todos os dias para estar preparado para a oportunidade que aparecer”, disse Renan. “Meu empresário está conversando e negociando para encontrar a melhor forma para que eu possa voltar a atuar, aqui no Brasil ou lá fora. Só na Ucrânia não tem condições agora”, completou.

Apesar de ser andreense, o começo do centroavante – que iniciou como zagueiro – não foi na cidade. Seu primeiro clube, ainda na base, foi o Nacional. De lá, foi para o Juventus. Depois, fez testes no Japão, mas retornou e defendeu o São Bernardo FC em uma edição da Copa São Paulo de Futebol Júnior. Posteriormente, assinou com o EC São Bernardo, mas sequer jogou pelo Cachorrão e logo foi emprestado ao futebol da Eslováquia. Passou ainda por Malta antes de chegar à Ucrânia. Defendeu também o Gil Vicente, de Portugal, e, posteriormente, assinou com o Kolos Kovalivka.




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