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Desempenho econômico do Brasil em 2021 e perspectivas
Sandro Renato Maskio
07/03/2022 | 08:34
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Na última sexta-feira, o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) divulgou o desempenho da economia brasileira em 2022. Crescimento do PIB (Produto Interno Bruto) de 4,6% ficou abaixo das projeções do Ministério da Economia em novembro de 2021. No acumulado do biênio 2020/2021, devido à retração de 3,9% no ano retrasado, a economia expandiu 0,52%. Uma avaliação imediatista poderia enfatizar que em 2021 a economia reagiu e conseguiu retomar o nível de geração de riqueza após a retração de 2020, quando a pandemia afetou todo o mundo de forma negativa. Poderia ainda registrar que, no mesmo biênio, o desempenho brasileiro foi superior ao observado na França, Reino Unido, Alemanha e Japão.

A avaliação da trajetória do PIB, sem menosprezar a importância das variações de curto prazo, deve ser contextualizada em um horizonte, no mínimo, de médio prazo. Para tanto, gostaria de fazer algumas provocações para reflexão dos leitores.

Primeiro, o biênio 2021/2020 sucede a década de 2010, que registrou o pior desempenho da história econômica registrada do País. Entre 2010 e 2020, a economia brasileira cresceu 2,7% no acumulado do período. Esse baixo desempenho, especialmente na segunda metade da década passada, proporcionou a formação de uma capacidade ociosa na economia brasileira ao longo dos últimos anos. Isso, a priori, contribui para a retomada das atividades sem grande esforço de investimento.

É bem verdade que em 2021 a taxa de investimento subiu para 19,1% do PIB, o que não se via desde 2014, possivelmente movimentado pela necessidade de adequações e modernizações nas estruturas produtivas instaladas.

ECONOMIA

O segundo ponto que chama atenção é a baixa expectativa de crescimento nos próximos anos. Entre outros fatores, esse cenário é provocado pela deterioração dos setores de infraestrutura. O gargalo que enfrentamos na geração de energia elétrica, por exemplo, que explica a aplicação de bandeiras tarifárias de custo mais elevado, é um dos principais obstáculos para o crescimento econômico dos próximos anos. Se não se consegue ofertar o volume adequado de energia elétrica, não há margem operacional para elevar a demanda pela mesma, o que limita a expansão da atividade produtiva.

A desorganização da cadeia global de fornecimento de insumos produtivos provocada pelo caos logístico com a retomada das atividades após os momentos mais críticos da pandemia, pelo descompasso entre a capacidade de oferta e a demanda de diversos fatores, a exemplo dos microchips, deverá continuar impactando negativamente o ritmo de retomada da atividade das economias em 2022, e quiçá em 2023.

O terceiro ponto refere-se ao fenômeno de elevação da inflação em nível global, como reflexo do desajuste das cadeias de produção no mundo e que se refletirá, como em 2021, na inflação doméstica. Neste ponto, um primeiro reflexo da guerra entre Rússia e Ucrânia é a elevação do preço do petróleo e consecutivamente de seus derivados, bem como os preços do setor agrícola do Brasil, que é grande importador de insumos da Rússia. 

Por fim, compromete a retomada econômica a falta de uma política estruturada, de médio e longo prazos, voltada a estimular o crescimento e apoiada no desenvolvimento produtivo e tecnológico, com vistas a ampliar a competitividade da economia brasileira. Estas são ações que estão no centro das estratégias de fomento adotadas nos Estados Unidos e Europa em 2020 para estimular a recuperação de suas economias.

Até o momento não está clara qual a estratégia econômica a ser defendida pelos presidenciáveis. Ou se a melhor estratégia será não ter estratégia. É um tema demasiadamente robusto e com certa complexidade, mas que exige reflexão de todos nós.  

 Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de Estudos do Observatório Econômico e professor do curso de ciências econômicas da Universidade Metodista de São Paulo




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