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‘Feira hippie’ cinquentona

Nascida na Praça do Carmo, no Centro de Santo André, atividade agora está em outros 2 pontos

Da Redação
Do Diário do Grande ABC
02/01/2022 | 00:01
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DGABC/ Claudinei Plaza


Ela nasceu no início dos anos 1970, época em que os hippies, no auge do movimento, estendiam seus panos no chão para expor seus produtos, feitos artesanalmente. Daí o nome que até hoje está na memória afetiva de quem mora há muitos anos em Santo André: feira hippie. O tempo passou, os hippies hoje são bem poucos, mas a essência de comercializar somente artesanato continua. Agora, 50 anos depois, a feira conta com 75 artesãos, que se distribuem em três pontos: Praça do Carmo, Parque Antonio Flaquer (Ipiranguinha), na Vila Alzira, e Parque Regional da Criança – Palhaço Estremilique, no Parque Jaçatuba. 

“A Feira de Economia Criativa, como é chamada hoje, não é simplesmente uma feira. É um símbolo da cidade, que teve origem em um movimento cultural e social e tem uma história que vem sendo escrita há 50 anos sem interrupções, exceto no período de isolamento, acompanhando as mudanças da sociedade com o passar do tempo”, destacou a diretora do departamento de apoio ao trabalhador, Maria de Lourdes Lopes.

Segundo a diretora, foi na Praça do Carmo, no Centro da cidade, ao pé da Catedral Nossa Senhora do Carmo, que tudo começou e onde atualmente atuam cerca de 50 dos 75 artesãos autorizados a participar da feira. Ela nasceu de forma espontânea e foi absorvida pelo poder público para que fosse realizada de forma organizada. 

“Nós abrimos outros pontos fora do Centro, para alcançar os consumidores dos bairros”, contou. De acordo com Maria de Lourdes, a ideia para este ano é dar oportunidade para quem deseja ingressar na Feira de Economia Criativa e fortalecer, inclusive, a presença da atividade nos pontos mais afastados da região central, principalmente no Parque Ipiranguinha.

“Um novo edital de chamamento público deverá ser publicado. Isso é necessário, ainda mais neste momento de crise. É preciso dar oportunidade às pessoas que precisam de ter geração de renda. Às vezes, a pessoa tem dificuldade para voltar ao mercado de trabalho, gosta de ser empreendedor ou não tem perfil de funcionário. São vários motivos para as pessoas optarem pelo trabalho na feira”, acrescentou a diretora.

O chamamento público é um instrumento utilizado pela administração pública para divulgar seu interesse em firmar parcerias, e também para explicar quais as regras para que esta parceria se concretize. Para participar da feira é necessário, por exemplo, que os produtos vendidos sejam artesanais. O interessado passa por uma bancada examinadora, que analisa a confecção do produto e o sabor, no caso das barracas de alimentação.

DESDE 1972

Na época em que Valdir Araújo começou a vender suas peças de couro na feira ainda não era necessário atender ao chamamento. Valdir, como os hippies, em 1972 estendeu um pano no chão e colocou os cintos, bolsas e carteiras que produzia e produz até hoje. Ele, que é dos artesãos mais antigos, lembra que na época não havia calçadão e os carros ainda passavam na rua da igreja.

“Próximo daqui ficava a extinta Mesbla, que promovia até desfile de moda na rua. As coisas mudaram muito, mas fui me adaptando. Já fiz muitas feiras na minha vida, por exemplo, em São Paulo, em Embu das Artes, em São Vicente, mas hoje estou só aqui e aqui vou ficar”, comenta Araújo. 

A artesã Andréa Lopes chegou alguns anos depois, em 2003, e também não pretende deixar tão cedo de participar da feira. “Eu só tenho a agradecer. A feira ajuda na parte financeira e a cabeça também. Paguei escola particular para as minhas duas filhas comercializando os produtos que faço”, diz Andréa. 

A artesã conta que começou a participar da feira “meio no susto”, com apenas seis camisetas. Hoje ela vende, além de camisetas com detalhes em alto relevo, luvas pedagógicas para contação de histórias, dedoches – que são fantoches de dedos –, marcadores de página e até chaveiros. Tudo feito em algodão e feltro. “O que leva a feira a fazer sucesso é o artesanato. É o nosso diferencial. Quem comprar uma peça minha sabe que não vou fazer outra igual”, destacou.

CURAU E PAMONHA

Nas barracas de alimentação, os produtos também são feitos de forma artesanal. Antonio José da Silva tem uma barraca de produtos de milho (bolo, curau, pamonha, suco) e faz tudo sozinho, usando o conhecimento que aprendeu quando vivia em Pernambuco. Veio para São Paulo em 1963 e, desde então, trabalha com gastronomia. Na feira, atua há oito anos. “Gosto muito de trabalhar aqui. Tenho uma aposentadoria para reforçar a renda, mas não pretendo parar. Estou na ativa ainda”. Silva tem 72 anos, é casado há 48, tem dois filhos, netos e bisnetos.

Para o secretário de Desenvolvimento e Geração de Emprego da gestão do prefeito Paulo Serra (PSDB), Evandro Banzato, a longevidade da Feira de Economia Criativa reforça a importância dos três pilares que são trabalhados no desenvolvimento econômico de Santo André: melhorar o ambiente de negócios, a competitividade das empresas e fomentar uma cultura de empreendedorismo, inovação e qualificação. 

“A feira mostra uma das pontas desse cenário, que é o apoio e a qualificação oferecidos durante o ano todo ao artesão, ao micro e pequeno empreendedor. Nessa gestão a gente olha para todas as pontas, desde o pequeno artesão até a grande empresa, que investe milhões”, disse Banzato.

Serviço

Feira de Economia Criativa

Praça do Carmo – às quartas, sextas e sábados, das 9h às 16h

Parque Regional da Criança> – domingos, das 9h às 16h

Parque Antonio Flaquer(Ipiranguinha) – domingos, das 9h às 16h




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