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A estagnação e seus efeitos
Sandro Renato Maskio
13/12/2021 | 00:02
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O PIB (Produto Interno Bruto) do terceiro trimestre do ano apontou retração de 0,1% em relação ao segundo trimestre, conforme apuração do IBGE. A análise dos dados trimestrais do PIB brasileiro desde 1980 nos mostra que julho-agosto-setembro tende a apresentar maior aceleração frente aos demais trimestres. Nesse período o setor produtivo acelera a produção para atender à demanda mais aquecida por bens de consumo no fim do ano, entre outros fatores. 

No acumulado de 2021, o crescimento do PIB registra alta de 5,7%, o que pode parecer notícia bastante animadora. Contudo, no fim do primeiro semestre do ano, a taxa de crescimento acumulada foi de 6,5%, sempre em comparação a igual período do ano anterior. 

Se o desempenho da economia brasileira no último trimestre do ano for igual ao apresentado neste terceiro trimestre, a economia brasileira acumulará crescimento de 4,6% em 2021. Para fecharmos o ano com expansão de 5%, o PIB do quarto trimestre deve crescer aproximadamente 1% em relação ao terceiro. 

Olhando friamente os números parece pouco. Contudo, excetuando 2020, quando a pandemia afetou negativamente o PIB de forma intensa no segundo e terceiro trimestres, desde fins da década de 2000 o Produto Interno Bruto do quarto trimestre não cresce 1% em comparação ao terceiro trimestre. 

Outro ponto a ser observado é que, em geral, analisando a série histórica, o PIB do quarto trimestre tende a apresentar movimento de desaceleração no ritmo da economia. Ou seja, dificilmente fecharemos o ano com crescimento de 5% do PIB. O que, no biênio 2020/2021, representaria alta acumulada de 0,64% diante da retração observada no ano passado. 

O que isso impacta diretamente em nossas vidas? 

Em primeiro lugar, quando a atividade econômica caminha a ritmo lento, com baixa expansão do volume produzido, a demanda por trabalho também anda a passos vagarosos. Nos 12 meses encerrados em setembro, a taxa de desocupação diminui de 14,9% para 12,6% da força de trabalho, com ampliação de 9,5 milhões de pessoas ocupadas. Contudo, deste total pouco mais de 62% engrossaram a massa de informais no mercado de trabalho. Além disso, 41% passaram a trabalhar por conta própria, sendo mais de 70% destes como informais. 

A intensidade de trabalhadores sendo empurrados para os meios informais demonstra a fragilidade do mercado de trabalho em gerar oportunidades. Isso tende a provocar, em médio e longo prazos, perda de produtividade do fator trabalho na cadeia produtiva brasileira. 

Em segundo lugar está a relação entre baixo desempenho na geração de riqueza e a lenta dinâmica do mercado de trabalho com a deterioração da geração de renda. Mesmo com acréscimo de quase 10 milhões de trabalhadores ocupados, nos 12 meses encerrados em setembro último a massa de rendimentos reais paga aos trabalhadores reduziu 0,7% e o salário médio, aproximadamente 11%. 

Esta sequência de correlação dos fatos tende a diminuir a capacidade de consumo do mercado interno. Isso se constitui em evento negativo para a trajetória do PIB nos próximos períodos. 

Um terceiro ponto a ser observado refere-se aos efeitos desta trajetória sobre a produtividade da economia. De um lado, quando a economia entra em uma roda de estagnação, há baixo nível de confiança do setor produtivo e retração nas intenções de investimentos, em especial os de maior risco associados ao desenvolvimento de competências tecnológicas e inovação. Há poucas semanas, nesta coluna, apresentei algumas informações que demonstram como a estrutura produtiva da economia brasileira perdeu complexidade nas últimas décadas. 

De outro lado, a falta de oportunidades no mercado de trabalho, que tem apresentado ampliação das ocupações informais e mais vagas em atividade menos complexas, tende a provocar queda na produtividade média do trabalho e menos oportunidade aos profissionais mais qualificados. 

Não se exclui o efeito de desestímulo aos mais jovens em investir em qualificação profissional, seja pela falta de capacidade financeira no curto prazo seja pela falta de expectativas de melhora em horizonte de médio prazo. 

Isso significa que nos próximos anos continuaremos a conviver com um crônico problema da economia brasileira, que é a baixa produtividade. Este é um tema que sem dúvida precisa entrar na agenda das políticas públicas o quanto antes. Será que algum presidenciável está olhando para esta questão? 

Material produzido por Sandro Renato Maskio, coordenador de estudos do Observatório Econômico da Faculdade de Administração e Economia da Metodista.




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