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Cinema traduz o Grande ABC
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
21/09/2002 | 17:00
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O cinema brasileiro debateu esta semana no Espaço Unibanco, em São Paulo, qual o meio termo ideal entre a “estética da fome” de Glauber Rocha e o Cinema Novo nos anos 60 e a “cosmética da fome” de Andrucha Waddington (Eu, Tu, Eles) e companhia neste século. Enquanto isso, novos cineastas do Grande ABC passam a buscar uma identidade audiovisual na região, também presente na tela grande.

Desde São Paulo S.A. (1965), de Luiz Sérgio Person, a região não era personagem marcante em um longa-metragem. A tragicomédia Aurélia Schwarzenega, escrita e dirigida pelo cineasta paulistano Carlos Reichenbach, e em processo de filmagem na região, tem história ambientada em São Bernardo e personagens que vivem no Grande ABC. Mas o imaginário é diferente daquele que Person sugeriu em São Paulo S.A., filme que será exibido em mostra especial em São Paulo nesta quarta-feira no Centro Cultural Banco do Brasil.

Neste clássico, uma cena demonstra a visão geral da região na época: um eldorado para onde o progresso se dirigia. Walmor Chagas e Otelo Zeloni, em um Fusca trafegando pela Via Anchieta, comentam as expectativas e perspectivas de desenvolvimento que a região demonstrava. As cenas mostram áreas vazias e obras executadas nas margens da rodovia, ao lado de indústrias montadas.

No longa de Carlão, as personagens principais são mulheres operárias, que vivem experiências de união, conflitos, segregação etc. em uma fábrica de tecelagem saindo da concordata e passando do meio industrial para o artesanal. O inverso, portanto, da industrialização maciça sugerida por Person.

Neste semestre, o Grande ABC será palco de outra produção, desta vez sobre um fato histórico nacional decorrente da industrialização, o documentário Os Peões do ABC (título provisório), de Eduardo Coutinho. O cineasta de Cabra Marcado para Morrer (1981/1984) quer relatar como foram as greves de 1978 a 1980 e reunir personagens que participaram do movimento que desafiou a ditadura militar na época.

Cineastas da região, por sua vez, produzem ficção em curta-metragem, fruto de iniciativas como a ELCV (Escola Livre de Cinema e Vídeo) de Santo André e as oficinas de vídeo de Diadema. Saíram, quase ao mesmo tempo, Os Alvos que Queremos Virgens, de Julião (roteiro), Diaulas Ullysses (direção) e Tânia Crespo (direção de fotografia), da ELCV, e Cinema Dilacerado, dirigido por Josiane Alfer, do Núcleo de Estudo, Produção e Difusão de Cinema e Vídeo Com-Olhar. Este, criado em Diadema a partir de oficinas gratuitas ministradas por Diogo Gomes dos Santos.

O primeiro, estrelado por Antonio Petrin, estreou no Teatro Municipal de Santo André dia 12 deste mês e será exibido na próxima quinta-feira (26) no Sesc Santo André, como convidado da 14ª Mostra de Vídeo Brasileiro da cidade. Cinema Dilacerado, que tem como tema a inexistência de sala comercial de cinema em Diadema, foi exibido no último Ecocine em São Sebastião, litoral norte de São Paulo.

Outro curta da ELCV é Todas as Horas do Fim, de Sonia Varuzza (roteiro), Fernando Bonfim (direção) e Danilo Javarotto (direção de fotografia), com a atriz Christiane Tricerri como protagonista, em fase de captação. O Núcleo Com-Olhar, de Diadema, prepara o curta de ficção Um Fechar de Olhos, que será em 2003 a primeira produção em película feita em Diadema sobre a cidade.




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