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O presente e o futuro da docência no Grande ABC

No Dia do Professor, educadores e universitário refletem sobre os desafios da profissão

Tahiná Lana
Do Diário do Grande ABC
15/10/2021 | 05:28
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André Henriques/ DGABC


Salas de aula lotadas, baixa remuneração e falta de incentivo à educação são alguns dos desafios que um professor enfrenta todos os dias. Mesmo com inúmeras adversidades, o desejo dos profissionais em contribuir para mudanças individuais e coletivas por meio da construção do saber fala mais alto. Para quem atua há muitos anos na área ou quem está apenas começando, o amor pela profissão e a vocação em ensinar são pontos norteadores para continuar.

No Grande ABC três histórias refletem esse cenário. Com diferentes trajetórias, dois professores da rede estadual da região e um aluno de pedagogia decidiram ingressar na profissão, mesmo sabendo de todos os impasses existentes, pelo mesmo motivo: o desejo de mudar o mundo por meio da educação.

“Quando os processos de aprendizagem são assertivos, mudamos pessoas, que, consequentemente, irão colaborar para mudar as realidades vivenciadas por elas”, relata André Sapanos, 34 anos, professor de história há mais de 15.

Sapanos, que atua na EE (Escola Estadual) Visconde de Mauá, é um dos 20.752 professores da rede pública de ensino na região, entre escolas municipais e estaduais. Contando as instituições privadas, no total são quase 30 mil professores no Grande ABC, desde a educação infantil até o ensino médio.

O professor de geografia, Cláudio Luiz Alvez de Santana, 49, também faz parte desse time. Com experiência de mais de 22 anos na área, o docente exalta a paixão pela profissão, mas não esconde as dificuldades que passou durante a carreira. As precárias condições de trabalho na rede pública de ensino já o levaram a pensar em desistir. “A falta de investimentos duradouros e a desvalorização salarial, sem contar as constantes cobranças que sofremos nas escolas, nos obriga a ter mais de um emprego e nos sobrecarrega, afetando a nossa saúde física e mental”, desabafa o professor de geografia do EE Américo Brasiliense, em Santo André.

Seu relato retrata a realidade brasileira, onde um em cada cinco professores, cerca de 20%, trabalham em duas ou mais escolas, segundo relatório da OCDE (Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico), com o apoio técnico da organização Todos Pela Educação.

Desistir ainda não é opção para o estudante de pedagogia, Thiago Alexandre Costa Rizzo, 21, que se forma em menos de dois meses. Em busca de impactar a vida dos alunos, o futuro professor espera saber lidar com todas adversidades que vem pela frente ou “pelo menos estar sempre disposto a lutar pelo o que acredito”, afirma Rizzo, que está com a disposição de um jovem professor e, além da graduação, ainda faz cursos de inglês e libras para atingir seu objetivo: ensinar línguas e comunicação.


Thiago Rizzo fez comunicação, mas escolheu pedagogia

Pedagogia sempre foi sua primeira opção, mas ele confessa que, por medo do que a família e a sociedade iriam pensar, acabou cursando por um ano e meio outra especialidade na área de comunicação.

Porém, seu propósito falou mais alto e Rizzo seguiu seu coração. “Percebi que por mais que eu tivesse medo de encontrar muitas dificuldades na minha profissão dos sonhos, tinha ainda mais medo de ser infeliz na profissão errada. Sabia que meu lugar era na área da educação”, declara o estudante.

DESVALORIZAÇÃO ASSUSTA

Mesmo que os educadores trabalhem com muito amor e dedicação, a desvalorização da profissão não pode ser romantizada. O Brasil é o País com a menor média de salário inicial dos professores, entre as 40 nações analisadas pela OCDE. Ainda segundo o documento, os professores recebem menos que outros trabalhadores com formação superior no Brasil, especialmente na educação infantil e no ensino fundamental, onde os salários são 80% menores.

“A questão salarial me preocupa bastante, pois o custo de vida está elevado, além dos gastos que temos para prepararmos aulas de qualidade e melhorarmos a nossa formação”, desabafa o professor de geografia, Santana.

Outro ponto importante para entender a situação dos docentes é a falta de investimento em educação. Conforme destaca a organização, o Brasil não aumentou o orçamento destinado para o ensino fundamental em 2020 e nem esse ano, diferente de outros países analisados pelo relatório.

Neste Dia do Professor, os docentes da região reivindicam mais investimento e reconhecimento. “A educação pública não pode ser um laboratório de gestões. Tem que ser uma política de Estado. As inúmeras mudanças de acordo com a gestão do momento prejudicam o processo de formação dos profissionais da educação e, consequentemente, atingem nosso maior foco: os estudantes”, finaliza Sapanos, professor de Mauá.

Para Santana, a valorização da profissão está atrelada com aumento salarial, plano de carreira, melhorias nas condições de ensino e trabalho, redução do número de alunos por sala de aula e permanência da liberdade dos professores.

Com olhar de quem ainda não vivencia essa realidade, Rizzo exalta a futura profissão. “Todos nós precisamos de alguém que nos ensine o que é necessário para se viver em sociedade. O professor, além de transmitir o conhecimento, estimula a encontrar em si mesmo e no mundo as respostas. Muitas das minhas maiores referências de ser humano, partiram da vivencia com professores”, finaliza.

Ações regionais valorizam atuação do professor

Para a qualificação profissional dos professores da rede municipal de ensino, Santo André conta com parceria com a UFABC (Universidade Federal do ABC) para formação on-line para educadores de alfabetização e para alfabetização matemática, assim como parceria com a Fundação Santo André que possibilita a oferta de pós-graduação em gestão escolar para os diretores das escolas geridas pela cidade. 

Os docentes do município também contam com apoio psicoemocional a partir do Programa Conviver Bem.

A Prefeitura lançou o programa Qualieducação, que busca proporcionar humanização do ensino, qualificação profissional e suporte tecnológico. A Secretária de Educação de Santo André, Cleide Bochixio destaca a importância do projeto para os profissionais da rede. “O programa vai muito além da aquisição de equipamentos tecnológicos. Está relacionado, principalmente, ao investimento em pessoas para que se apropriem das ferramentas para instaurar novas práticas pedagógicas e, assim, alcançar os alunos”, explica a gestora. 

Ribeirão Pires lançou o programa Florescer, que estabelece planejamento e metas para a formação dos profissionais. Entre as medidas já adotadas está o projeto de lei aprovado pela Câmara Municipal em junho deste ano, que garante a equiparação automática do salário dos docentes ao piso nacional dos professores. A partir de 2022, cada novo reajuste estabelecido pelo governo federal será aplicado automaticamente no município. 

A secretaria de Educação de Ribeirão também reforçou as equipes escolares com a convocação de professores aprovados em concurso público e novos estagiários, além de agentes escolares. A administração implantou, no segundo semestre deste ano, atendimento de apoio psicossocial escolar para o acompanhamento de profissionais da rede e estudantes. O serviço conta com psicóloga, assistente social e pedagoga.

Questionadas sobre as políticas públicas desempenhadas para a valorização dos profissionais na rede municipal, as cidades de São Bernardo, São Caetano e Mauá destacaram as ações realizadas durante a pandemia, como a inclusão dos profissionais de educação em grupos prioritários da vacinação contra a Covid, além da ampliação dos protocolos de higiene para o retorno às aulas presenciais. 




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