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'Fim da dengue depende da sociedade', diz especialista
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
02/03/2002 | 16:54
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O chefe do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP (Universidade de São Paulo), Almério de Castro Gomes, 60 anos, afirma que a solução para conter as epidemias de dengue no Brasil depende da participação da sociedade nas medidas de combate ao mosquito Aedes aegypti. Ele aponta como falha das políticas de controle a falta de campanhas educativas permanentes.

Diário – No Estado da Flórida, nos Estados Unidos, há condições climáticas favoráveis à proliferação do Aedes aegypti, mas lá não há epidemias há 100 anos. Por que no Brasil não se consegue controlar a dengue?
Almério de Castro Gomes – Nos Estados Unidos, há um controle grande do vírus causador da doença e se faz um trabalho eficiente para evitar a sua propagação. No Brasil, combatemos o mosquito e há casos em que pessoas ficam doentes e não procuram o serviço de saúde, o que faz com que outros mosquitos se infectem pelo vírus e proliferem a doença na população.

Diário – Que análise o sr. faz da dengue no Brasil?
Gomes – A reinfestação do Aedes aegypti no Brasil começou na década de 70 e se espalhou pelo país; o segundo passo foi a ocorrência de uma pandemia que aconteceu no mundo inteiro, o que fez com que o vírus passasse a circular livremente, por meio do intercâmbio de pessoas entre os países. No Brasil, a epidemia de dengue começou com o vírus dos tipos 1 e 2 e agora também foi detectado o sorotipo 3.

Diário – E no Rio de Janeiro? Como o sr. vê a epidemia?
Gomes – O problema é que, quanto mais locais de epidemia tiver no país, mais vírus haverá em circulação. O agravante no caso do Rio foi a detecção do tipo 3 do vírus em pessoas que foram contaminadas na própria cidade.

Diário – Quais as chances de a Grande São Paulo vir a ter uma epidemia?
Gomes – Por um lado, fico otimista ao ver que os serviços de saúde em São Paulo estão se empenhando em resolver o problema na cidade com o uso até do Exército. Mas é preocupante a concentração de pessoas suscetíveis à infestação do vírus em São Paulo. Todos os habitantes da cidade podem ser infectados.

Diário – Qual a forma de campanha ideal para combater o crescimento da dengue?
Gomes – A participação da mídia é essencial para que seja feito um trabalho correto de prevenção e controle da doença. O plano emergencial para os casos de epidemia tem de ser feito com o máximo de recursos disponíveis, como o uso de inseticida para combater os focos de mosquitos e a convocação do Exército. Depois do plano emergencial, tem de haver vigilância permanente para controlar a situação.

Diário – Quais as falhas na maneira como a epidemia atual está sendo combatida?
Gomes – O que considero fraco na política de controle são as campanhas educativas. Elas têm de ser intensificadas para garantir a participação da população no combate ao mosquito.




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