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Campanha faz 25 anos, mas Av.dos Estados ainda sofre

Movimento do Diário por melhorias obteve resultados, mas os problemas continuam

Bia Moço
Do Diário do Grande ABC
07/01/2021 | 08:13
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Nario Barbosa/DGABC


Exatamente há 25 anos, o Diário lançava a campanha SOS Avenida dos Estados, que tinha por objetivo buscar apoio da população para pressionar prefeitos e governo do Estado a promover ampla revitalização daquele que é um dos principais corredores de ligação entre o Grande ABC e Capital. As 36 mil assinaturas coletadas surtiram efeito e várias melhorias foram realizadas, mas não o suficiente para sanar todos os problemas, como constatou ontem a equipe de reportagem, que percorreu os 14 quilômetros de extensão da via, nos dois sentidos, entre a divisa de São Caetano com a Capital até Mauá, passando por Santo André.

Buracos, rachaduras, remendos malfeitos, desníveis no asfalto e calçadas quebradas são alguns dos problemas apontados por motoristas, moradores do entorno e comerciantes localizados ao longo da via, para os quais o trajeto é “cheio de emoções”. Há ainda outras reclamações, como a sensação de insegurança, devido a constantes assaltos, alagamentos e enchentes, além de o leito do Rio Tamanduateí geralmente estar tomado por lixo e mato.

No trecho que corta Mauá, a falta de iluminação pública é mais um problema, somada ao excesso de radares. Em outros trechos, sobretudo entre a divisa de Santo André com Mauá, a população tem de se arriscar andando nas beiradas da avenida, já que as calçadas estão intransitáveis.

Falta de pontos de ônibus, semáforos mal sincronizados e falhas da engenharia de tráfego completam o quadro de problemas. Motorista há 38 anos, Marcos dos Santos, 59, contou que até 1986 fazia entregas no tradicional Moinho São Jorge, em Santo André, e segue na área.

Para ele, algumas situações até pioraram de lá para cá. “Desde sempre a Avenida dos Estados teve problemas, mas, atualmente, o trânsito absurdo e a péssima qualidade do asfalto detonam com nossos caminhões, e com a gente também”, reclamou o profissional.

Já moradores e comerciantes apontam alagamentos e enchentes, problemas que castigam a área pelo menos desde a década de 1980, como principais pesadelos. O motivo, inclusive, foi observado por motoristas como “determinação de fuga do trajeto”, por medo de ficarem com seus veículos submersos.

Diretora comercial de uma loja de materiais para construção no número 6.639, no Parque Jaçatuba, em Santo André, Caroline Siqueira relatou que as enxurradas são as inimigas, também, dos pontos comerciais. “Não precisa chover muito. O pouco de água que cai já é suficiente para encher toda a via”, afirmou, contando que no início do ano passado ela e os funcionários ficaram “ilhados”. “Não tivemos prejuízo na loja, mas há outros comerciantes que sofrem com isso toda vez (que chove)”, revelou Caroline.

A criminalidade é outro fator que faz com que as pessoas tentem fugir de caminhos que passem pela Avenida dos Estados, o que nem sempre é possível. No semáforo em frente ao número 1.078, em Santo André, sentido Capital, Gilson Sampaio, 46, declarou que nunca teve problemas com assalto, mas que não se sente seguro na via. “Passo aqui neste trecho (em frente à comunidade do Jardim Alzira Franco) todos os dias. Não é segura (a avenida) em sua maior parte”, afirmou Sampaio.

ABANDONO
Outro motivo para lamento da população é o nítido abandono no entorno do Rio Tamanduateí, que, além de mato alto, tem lixo e entulho, como sofás e restos de móveis, tanto nas margens quanto no leito. O ponto mais crítico está no trecho de Mauá, na altura do número 8.000. O motorista de aplicativo Fernando Martinkowitsh, 44, disse que o local se mostra inseguro, justamente pelo descaso. “Não tem cuidado nenhum, não dá para ficar parado aqui em um semáforo à noite, sem saber o que te espera por trás desse matagal”, disse, apontando para um jovem que atravessava no sentido do rio com um alicate nas mãos.

A esperança de que a situação da avenida vá melhorar não faz parte do que a população acredita. Comerciantes na região do Alzira Franco, em Santo André, disseram que a quantidade de caminhões que circulavam na via diariamente – o fluxo semanal gira em torno de 100 mil veículos – não colabora para que o asfalto se mantenha em bom estado. 

Prefeituras garantem trabalhar na manutenção da via

Embora a situação da Avenida dos Estados deixe a desejar desde as condições precárias do asfalto à questão da segurança, as prefeituras de Santo André, São Caetano e Mauá – cidades cortadas pela via – afirmam que investem em melhorias.

No trecho de São Caetano a situação do corredor no momento é melhor do que nas cidades vizinhas – e do que nos anos anteriores. Embora a divisa com a Capital prejudique o cenário total, o trecho que pertence ao município tira elogios de motoristas, que chamam o trajeto de “tapetão”, devido ao bom estado de conservação do asfalto.

Segundo a administração, a qualidade da avenida é resultado de projeto da cidade, que recapeou a via entre 2018 e o ano passado. O Rio Tamanduateí, em parte responsável por enchentes em razão de chuvas fortes, foi murado e, no momento, a Prefeitura revitaliza as bocas de lobo. Além disso, o mato do entorno foi capinado.
Na cidade, o único ponto negativo destacado por motoristas que trafegam constantemente pela avenida é o medo de serem vítimas de criminosos em semáforos, sobretudo no período noturno.

Já em Santo André, a equipe do Diário flagrou funcionários da Prefeitura capinando o mato em alguns trechos da via mais próximos da região central, além da realização de recapeamento asfáltico na altura do número 70 – em fevereiro do ano passado, a cidade conseguiu, junto ao governo estadual, aporte de R$ 30 milhões para revitalização da avenida em todo o trecho que corta o município.

Segundo a Prefeitura, Santo André entregou na última semana a revitalização de trecho da Avenida dos Estados, entre a Rua do Ouro, no limite com São Caetano, e a Avenida da Paz. Também foi feito recapeamento asfáltico e implantada nova sinalização viária em trecho de 1,5 quilômetro no sentido de Mauá.

Em nota, a administração afirmou que as obras incluíram recuperação e desobstrução do sistema de drenagem, com reconstrução de bocas de lobo e galeria de águas pluviais, além de instalação de nova iluminação em LED e barreiras de proteção em concreto nas margens do Rio Tamanduateí, cumprindo a primeira parte de obras. A segunda e a terceira fases serão realizadas em parceria com o governo do Estado, até que toda a extensão da Avenida dos Estados seja recapeada e revitalizada.

Já o Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) afirma que o sistema de drenagem “passa por constantes investimentos”, e apontou que em 2020 foi entregue a ampliação de 25% da capacidade de armazenamento de água do Piscinão Santa Teresinha, que passou de 19 mil metros cúbicos para 23,8 mil metros cúbicos, “tornando-se o maior reservatório de gestão municipal”. O investimento foi de aproximadamente R$ 300 mil. 

Estado projeta canalizar cinco quilômetros do Rio Tamanduateí

Responsável pela manutenção em relação às questões que envolvem o Rio Tamanduateí, o Daee (Departamento de Águas e Energia Elétrica), órgão do governo do Estado, informou que no momento faz licitação de projeto executivo para canalização de cinco quilômetros do rio, com substituições das estruturas existentes.

 A intervenção será realizada no trecho entre a foz do Córrego Oratório e a UFABC (Universidade Federal do ABC), mas a proposta inclui a adequação de pontes e passarelas nos municípios de São Paulo, São Caetano e Santo André. O investimento aproximado é de R$ 2,4 milhões e teve seu contrato assinado em 2020 com recursos do Fehidro (Fundo Estadual de Recursos Hídricos) e do Daee.

 Como medida de combate às enchentes na região, o departamento aponta que retomou no ano passado o processo de financiamento e concluiu a licitação do Piscinão Jaboticabal, na divisa de São Bernardo, São Caetano e Capital, obra “que atenuará significativamente a vazão do Rio Tamanduateí”, obra que poderá reduzir os riscos de enchentes em pontos da Avenida dos Estados onde esse problema é histórico. A nova gestão aguarda a liberação do financiamento federal para dar início às obras do piscinão, que terá capacidade para armazenar 900 mil m³ de água e beneficiará diretamente as cidades de São Paulo, São Caetano e São Bernardo. A nota enviada pelo órgão cita outras intervenções realizadas na avenida.




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