Apesar de elogiado por críticos do porte de Décio de Almeida Prado e Antonio Candido, nao vem atraindo a atençao dos encenadores brasileiros e a data passaria em branco, nao fosse o trabalho de resgate da dramaturgia nacional realizado pelo Grupo Tapa, dirigido por Eduardo Tolentino.

Depois de montar Rasto Atrás, uma peça da maturidade do autor, o Tapa voltou a Jorge Andrade no espetáculo O Telescópio, primeira direçao do ator Zé Carlos Machado, em temporada no Teatro da Aliança Francesa. Para comemorar a data, o Tapa resolveu premiar o público com sessoes amanha, quinta e sexta a preços promocionais (R$ 5).

Primeira peça escrita escrita pelo autor, em 1951, premiada na ocasiao, O Telescópio é uma espécie de matriz da obra que viria a seguir. A açao transcorre numa casa de fazenda e mostra o conflito de geraçoes. Enquanto o patriarca (Genésio de Barros) se dedica a observar as estrelas através de um telescópio - símbolo do comportamento de uma classe que se nega a olhar a realidade ao seu redor -, os filhos disputam precocemente uma herança que claramente vao dilapidar.

Em sua encenaçao, Zé Carlos Machado reproduz no palco o movimento das estrelas no céu. Com figurinos inteiramente brancos num cenário negro, os atores "desenham" constelaçoes no palco e mesmo o espectador nao iniciado em astronomia poderá reconhecer constelaçoes como as Três Marias ou o Cruzeiro do Sul.

O Telescópio mostra idéias e êxitos de uma família fazendeira sendo dilapidados pelo hedonismo, pelo desmazelo e pela cobiça adquiridos na cidade pela nova geraçao", escreve Richard Morse no artigo Mito Urbano e Realidade, publicado no livro Marta, a Arvore e o Relógio, publicado pela editora Perspectiva, reunindo dez textos do autor.