A organizaçao nao-governamental Transparência Brasil, primeira do país no gênero, nasceu da indignaçao de acadêmicos, juízes, religiosos, analistas e técnicos de finanças públicas, empresários e prestadores de serviço, cansados do custo alto da corrupçao. Que, segundo as primeiras pesquisas da Transparência Brasil, custa ao país, por ano, R$ 6 mil per capita. "Isso significa que a criança miserável da foto de Sebastiao Salgado também paga R$ 6 mil reais, mesmo nada possuindo e nem tendo nada para comer," indigna-se a diretora da entidade e ex-juíza Denise Frossard. "A corrupçao custa tao caro, que até inviabiliza negócios importantes para o país e nos prejudica no cenário de uma economia globalizada. Seu efeito deletério é especialmente grave quando os recursos públicos, como é o caso brasileiro, sao escassos e as necessidades sociais desatendidas sao muitas".

É esse o sentido das fotos que Sebastiao Salgado, um artista de prestígio internacional, cedeu para os out-doors da campanha. De acordo com a juíza, "ele fotografa a miséria brasileira, que é fruto da corrupçao. Ele registra o resultado do propinoduto, a doença social brasileira na sua face mais dramática". Qualquer pessoa pode engajar-se na campanha, visitando o site da Transparência na Internet e fazendo as suas denúncias. "A sociedade civil está tao indignada, que ela é a nossa maior parceira na cruzada que iniciamos". Uma cruzada mesmo, que precisa enfrentar, conforme Denise Frossard, a resistência de velhos hábitos. "Há quem considere a corrupçao uma espécie de fatalidade nacional, mas eu nao concordo. É um comportamento adquirido. Pode mudar."

O fundadores da ONG estao trabalhando na organizaçao de um livro a ser lançado em setembro, em Sao Paulo. A primeira parte é a traduçao do Source Book da matriz internacional, com os princípios, conceitos e objetivos. A segunda sao artigos e ensaios dos especialistas da organizaçao nao-governamental sobre a corrupçao no Brasil, sugestoes de como combatê-la e de mudanças e aperfeiçoamentos na legislaçao. A coordenaçao e ediçao final da obra está a cargo do cientista político e professor da Universidade de Sao Paulo Bruno Speeck.