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Mundo Giramundo está em exposição no Sesc Sto.André
Cássio Gomes Neves
Do Diário do Grande ABC
08/06/2003 | 20:03
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Sabe montanha-encantada, aquele brinquedo comum à era romântica de parques como Cidade da Criança e Playcenter? Pois então, a exposição Mundo Giramundo – A Cidade dos Bonecos cria essa primeira impressão, de viagem lúdico-feérica, no Sesc Santo André, onde está abrigada desde sábado. Na comparação com a montanha-encantada, devem ser descontadas a estereotipia e a orientação do olhar (rigorosamente comprometido com o andamento de um trenzinho) e acrescentada a riqueza modernista, de unir folclore e racionalismo, da trupe mineira do Giramundo, grupo que está nesse negócio de teatro de bonecos há imodestos 33 anos. A exposição, composta por 639 marionetes vindas diretamente do museu Giramundo, em Belo Horizonte, tem entrada franca até 17 de agosto.

O sobe-e-desce do visitante é à vontade pela área de 1,5 mil m², assim que atravessados o túnel do tempo que reconta a história do Giramundo e a caverna com móbiles confeccionados com espelhos situados na entrada. Ao público é lícito atentar aos menores detalhes, maravilhar-se com a simbiose entre bonecos e a concepção cenográfica de J.C. Serroni.

“Nunca vi coisa igual. É uma integração impressionante entre o espaço e os bonecos”, afirma Álvaro Apocalypse, 66 anos, diretor e co-fundador da companhia Giramundo, presente na inauguração da mostra.

O “encontro perfeito” se dá pela fina observação da cenografia, majoritariamente elaborada em construções de compensado cru (sem tratamento ou verniz) para destacar os bonecos da imobilidade em que estão expostos e da chuva de fios que os sustenta. Nessas estruturas, convivem um museu giratório, um mirante que tem um dinossauro como tutano e o teatro de 160 lugares erguido em meio à exposição. Localiza-se ali também o Baú de Ossos, praça na qual o Giramundo destranca seus segredos, descreve os marionetes, alguns “esquartejados” para entendimento pleno da arte dos titereiros.

Convite – Ouve-se uma mãe: “Não põe a mão aí (nos bonecos)”; ouve-se uma criança: “Como eles (os bonecos) se mexem?”. Os convites são a eles todos, crianças e adultos, como prefacia o trabalho do Giramundo, que adapta desde contos de fadas ao universo do escritor Nicolai Gogol (1809-1852).

Murilo Rodrigues Teles, 5 anos, e a prima Bianca Carvalho Vaz, 9 anos, foram arrebatados pelo esqueleto da montagem de Diário de um Tímido Forasteiro (de 1990), ou “a caveira”, como eles dizem. Encanto igual teve Alanis Rodrigues, 4 anos, face a um dinossauro formado por vértebras e olhos vigilantes. “Só tinha visto (dinossauros) na TV”.

Apocalypse enxerga além da impermeabilidade da geração videogame. “O videogame tem regras, é uma ação plana. O Giramundo acredita no espetáculo ao vivo para ter na criança um cúmplice”, diz. Palavra dada, fato concreto. Apresentada ao teatro dos mineiros durante a peça Pedro e o Lobo (encenada no último fim de semana e todos até o dia 29), a gurizada se oferece à interatividade.

Os Orixás, inédita em São Paulo, clama pelo público adulto a partir do próximo dia 19, assim como Relações Naturais, baseada em textos do dramaturgo Qorpo-Santo (1829-1883) e montada pela primeira vez desde 1983. Antes, durante e depois das peças, torna-se recomendável – senão obrigatório – visitar o roto Dom Quixote na seção dos personagens de El Retablo de Maese Pedro (1976), o deus Pã em A Flauta Mágica (1991), os barrados no baile de Carnaval dos Animais (1996), os cubistas de Le Journal (1997), os indígenas em Cobra Norato (1979) e os presidentes Lula e Getúlio Vargas (1883-1954), todos recriados em madeira, arame e tramas de fios.




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