A verticalização desenfreada do Grande ABC, sem planejamento viário que acompanhe o crescimento populacional e o conseqüente aumento na frota de veículos, pode piorar mais ainda a vida dos motoristas. A avaliação foi feita pelos engenheiros Luis Célio Bottura e Sergio Ejzenberg, que, a convite do Diário, sobrevoaram a região.

A perspectiva do alto permitiu ver melhor a imensidão dos prédios enraizados nas ruas. Para se ter uma idéia, somente no ano passado, mais de 8,7 mil apartamentos foram comercializados - 80% a mais do que em 2009. "O poder público não pode intervir no crescimento da cidade, mas tem de coordenar através de políticas de uso do solo, por exemplo", falou Ejzenberg.

Em pouco tempo, se obras de desvios e alargamento de vias não forem executadas pelas prefeituras, os municípios vão encarar fenômenos como engarrafamentos portas de garagens de prédios particulares e filas bem maiores do que as registradas hoje nas principais avenidas.

"Podemos apontar algumas alternativas que podem resolver o problema momentâneo. Porém, é preciso pensar projetos para os próximos anos", ressaltou Bottura.

Além disso, os especialistas fizeram um alerta às prefeituras de Santo André e São Bernardo, especialmente: as áreas dos paços municipais estão mal utilizadas. São terrenos grandes, que comportariam obras de melhor aproveitamento para a população, como escolas. Mas hoje são grandes estacionamentos, que complicam o tráfego no entorno no início da manhã e fim de tarde - entrada e saída de servidores.

Esses locais serviriam até mesmo para projetos que poderiam aliviar o trânsito. Em São Bernardo, por exemplo, onde além de engarrafamentos os motoristas são obrigados a conviver com enchentes, os engenheiros indicaram a possibilidade de construir um piscinão sob o estacionamento e a área verde do Paço.

Outro alerta para a região: "O Grande ABC pode sofrer com o crescimento da Mooca, é preciso ficar atento a isso", falou Bottura. Conforme explicou, o bairro da Capital também está em expansão, e o tráfego sobre a Avenida dos Estados pode ser o termômetro desse crescimento.

TEM MUITO A PIORAR

Assim enxergam os engenheiros. Sem obras e investimento pesado em transporte público de qualidade, dirigir pelas ruas e avenidas do Grande ABC vai se tornar "um processo doloroso", nas palavras de Ejzenberg. "A verticalizão das cidades está se tornando mais intensa agora", comentou. "Sem as intervenções, dirigir vai ser algo doloroso. As pessoas vão começar a comprar próximo de suas casas, a cidade pode descentralizar."

Outra recomendação é uma mudança nas rotas para chegar a São Paulo. Bottura salientou que a Imigrantes, Anchieta, Avendia Dom Pedro II, Avenida dos Estados, Sapopemba e Aricanduva, além de outras vias paralelas, já estão saturadas. O jeito é procurar saídas "laterais" do Grande ABC para a Capital.