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Altamiro Carrilho encerra Semana Pixinguinha
Gislaine Gutierre
Do Diário do Grande ABC
30/05/2003 | 20:11
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A Semana Pixinguinha, que desde terça-feira vem prestando homenagens ao flautista, saxofonista e compositor Pixinguinha, encerra-se neste fim de semana com dois shows imperdíveis do flautista Altamiro Carrilho, 78 anos. As apresentações ocorrem neste sábado, às 21h e domingo, às 18h, com ingressos cujos preços variam de R$ 5 (comerciários) a R$ 14.

O espetáculo que Altamiro preparou para o evento é especial, com 90% do repertório calcado na obra de Pixinguinha. “Não vou fazer só músicas dele porque há muitas idênticas no estilo, na parte melódica e principalmente na parte rítmica. Mas vou intercalar com composições internacionais, porque não se pode concorrer com Pixinguinha. Ele foi o melhor mesmo”, diz.

Esses 10% do show serão compostos por pot-pourris com obras de Ravel, Brahms, Beethoven, Chopin e outros mestres da música erudita. E também Villa-Lobos, do qual pretende tocar, por exemplo, o clássico O Trenzinho do Caipira, com arranjos especiais. “Os dois foram grandes amigos. Vou falar sobre isso ao público”, diz.

Altamiro também fará comentários curiosos sobre a vida de Pixinguinha. “Todo mundo já ouviu falar dele, escutou suas músicas, mas as pessoas praticamente desconhecem a pessoa que foi”. E o flautista não economiza elogios ao falar do amigo, que todo ano recebia ele e centenas de músicos para celebrar seu aniversário (23 de abril, atual Dia do Choro). “Ele fazia uma festa com feijoada e iam músicos de todo o Brasil. Cerca de 200 pessoas. A reunião era feita no quintal, debaixo de uma enorme mangueira, porque na casa não cabia todo mundo. A gente começava a tocar ao meio-dia e ia até a madrugada”, afirma.

Entre os chorões que freqüentavam as festas, Benedito Lacerda, Eugênio Martins, Carlos Rato, Jacó do Bandolim e Waldir Azevedo. “Havia chorões e não chorões, porque quem queria conhecer essa música tinha de ir lá, beber direto na fonte”.

Pixinguinha e Altamiro gravaram juntos o clássico Um a Zero. Em condições adversas, é verdade, pois o amigo estava com a saúde debilitada. “Ele ficou na cabine de gravação. Não queriam que ele fizesse esforço. E nós fomos para o estúdio”, diz.

Mas Altamiro ganhou do conterrâneo uma música, com dedicatória especial na partitura original. É Gargalhada, criada em 1943, e que ele promete executar nos shows do Sesc Santo André. “Ela tem esse nome porque a flauta imita uma gargalhada. É muito difícil de tocá-la”, afirma.

Sobre o amigo, o flautista diz que foi “uma pessoa linda, calma, tolerante, paciente e acima de tudo, humilde”. Não a humildade que faz a pessoa considerar-se inferior, mas a que a coloca em pé de igualdade com os demais. “Ele era uma poesia bem escrita, e de um grande poeta”, afirma. Pixinguinha era capaz, por exemplo, de ficar horas a fio tocando em uma tonalidade só, caso o músico não soubesse a harmonia. “Esse é apenas um detalhe. Ele era uma pessoa muito querida”.

No Sesc Santo André, o público também terá a oportunidade de conhecer seu maior sucesso, Carinhoso, tocado de uma maneira especial. “Primeiro, a executo de maneira que o público pode acompanhar cantando. Na segunda parte, faço uma fantasia clássica, com arranjos que criei no dia em que Pixinguinha nos deixou, em matéria”, diz. O compositor estava no México quando viu a notícia pela TV. Cancelou a apresentação que faria naquela data e passou a noite elaborando esses arranjos.

Apesar de ser o grande expoente da flauta no Brasil, Altamiro não se considera “herdeiro” de Pixinguinha. “Herdeiro não digo, mas admirador. Ele foi um marco na música popular brasileira”.

Altamiro está otimista quanto ao atual momento do choro: “Na Europa, Estados Unidos, Ásia, África, todos estão interessados no choro, porque ele consegue reunir o popular e o erudito. Tem um jeito alegre e dançante, e ao mesmo tempo, dá ao músico a chance de mostrar seu virtuosismo”.

A boa notícia para os amantes do choro é que Altamiro prepara um novo disco, previsto para outubro, com o nome de 8 ou 80. “Na primeira parte, o repertório será bem suave e na segunda, o mais alegre possível. São extremos”, diz. O flautista ainda faz um lembrete: “este será o penúltimo”. Não que Altamiro pense em parar: “Nunca me refiro ao disco como o último, porque dá a impressão de derradeiro. Prefiro dizer sempre que será o penúltimo”.




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