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Crochê transforma vida de ex-detento em S.Bernardo

Morador iniciou a carreira na penitenciária e expôs seus produtos na São Paulo Fashion Week

Yasmin Assagra
Diário do Grande ABC
13/09/2020 | 23:59
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Nario Barbosa/DGABC
Nario Barbosa/DGABC Diário do Grande ABC - Notícias e informações do Grande ABC: Santo André, São Bernardo, São Caetano, Diadema, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra

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“Um ponto final na vida que eu levava e um ponto firme em minha nova vida”. Assim que Anderson Costa Figueiredo, 37 anos, morador do bairro Alvarenga, de São Bernardo, tenta esquecer as duas passagens que teve na prisão – uma por roubo, outra por tráfico –, a última em 2015. Do período, só quer lembrar do crochê, técnica que aprendeu ainda na penitenciária e que está mudando seu futuro, o levando, inclusive, ao São Paulo Fashion Week, maior evento de moda do País e o mais importante da América Latina.

Anderson já produziu mais de 1.000 peças em crochê. Ele conheceu a técnica por meio do projeto Ponto Firme, oferecido na Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos (<CF51>leia mais ao lado</CF>), e abraçou a profissão. “Confesso que fui meio obrigado a participar e tinha um certo preconceito com este trabalho. Mas hoje, só tenho a agradecer e lembrar em como isso mudou minha vida, da água para o vinho”, comenta.

Ainda com pouca experiência na técnica, no início do curso, Figueiredo diz que foi desafiado pelos colegas que não acreditavam que ele conseguiria sobreviver do crochê, ainda mais porque tem uma deficiência no olho esquerdo. O artista diz que lembra “como se fosse hoje”, de seu primeiro trabalho, uma rede de dormir, produzida ainda dentro da prisão, que demorou cerca de quatro dias para ficar pronta. 

Depois de cumprir sua segunda pena, o reconhecimento apareceu. Ainda pelo projeto Ponto Firme, que o abraçou para novas oportunidades, o artesão passou a vender seus trabalhos por meio de encomendas ou expor em lojas e ateliês. Seus produtos foram parar no maior evento de moda do Brasil, o São Paulo Fashion Week. Além disso, no Carnaval deste ano, no Rio de Janeiro, cantoras como Anitta e Preta Gil também estrelaram itens produzidos pelo artista são-bernardense e também por demais colegas do programa.

“Em 2017, inclusive, desfilei pela São Paulo <CF51>(Fashion Week)</CF> com nossas peças e, assim, vamos tentando divulgar os nossos trabalhos por meio do projeto”, destaca Figueiredo. O programa conta, em média, com 30 detentos. Além do são-bernardense, têm mais quatro que se mantém trabalhando já em liberdade, além de Gustavo Silvestre, responsável pelo Ponto Firme, estilista e designer-artesão, que ministra as aulas na penitenciária.

Diante da pandemia causada pelo novo coronavírus, Anderson também sentiu os reflexos da crise sanitária. Além da produção das peças de crochês, o artista, há quatro meses, iniciou vendas de frutas em uma barraca no Jardim Represa, próximo ao km 23 da Rodovia dos Imigrantes, na tentativa de conseguir suporte financeiro para cuidar de seus filhos, Guilherme, 14, Kayllane, 12, e Thiago, que está previsto para nascer no fim do ano, além da mulher Fernanda Batista, 33. 

Entre linhas e cores para confecção de suas peças e agora, a venda de frutas, o artesão busca o melhor para sua vida, de um jeito novo e com esperanças de tempos melhores. “Quero ter uma vida de verdade e sei que ainda tenho muito que aprender, mas, além disso, sei que estou no caminho certo”, finaliza Figueiredo. 

Projeto está em vigor desde 2015 na penitenciária de Guarulhos

Em iniciativa totalmente voluntária criada em 2015, o programa Ponto Firme, realizado dentro da Penitenciária Desembargador Adriano Marrey, em Guarulhos, tem como objetivo tornar mais produtivo o tempo de cumprimento das penas dos sentenciados. Semanalmente são ensinadas técnicas manuais da arte do crochê. O tempo dedicado às aulas contribui para a remissão de pena dos usuários, além de ajudar no desenvolvimento da concentração por meio da terapia manual. De acordo com legislação em vigor, pode redimir um dia de pena dos detentos a cada 12 horas de frequência em cursos. 

Atualmente, com a pandemia, a escassez dos materiais utilizados no projeto ficou maior. Empresas como a Novelaria e as Linhas Círculo entraram no circuito e ofereceram matéria-prima para que os trabalhos não fossem paralisados. Os organizadores agora buscam mais parcerias para expandir os serviços e conseguirem espaço para realizar reuniões e exposições das peças, tanto de quem permanece na penitenciária, quanto de quem já está em liberdade. 

“O trabalho dele(Gustavo Silvestre, idealizador) é realmente incrível. Muda nossas vidas e de quem realmente quer mudar. Sabemos que com a pandemia tudo ficou parado e essa busca pelo patrocínio ficou mais distante, mas vamos conseguir”, observa o são-bernardense Anderson Costa Figueiredo, 37 anos. Com a pandemia, alguns trabalhos do artista de São Bernardo sofreram redução nos valores, como, por exemplo, bolsas que antes eram vendidas por até R$ 150 e hoje saem por R$ 40. 

Para quem quiser conhecer mais e ajudar o projeto basta acessar o Facebook (@ProjetoPontoFirme) ou enviar mensagem pelo e-mail gustavo.silvestres@gmail.com. 




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