A partir desta sexta-feira, o Museu da Imagem e do Som (MIS) oferece uma rara oportunidade para quem quer conhecer a trilogia de um dos mais importantes nomes do cinema brasileiro: Ana Carolina. Seus três primeiros longas, "Mar de Rosas" (1977), "Das Tripas Coraçao" (1982) e "Sonho de Valsa" (1987), constituem um ciclo que disseca a alma feminina. A obra de Ana pode ser considerada, com justiça, um cinema de autor. Como tal, nao é para qualquer público.

Em "Mar de Rosas", Norma Bengell e Hugo Carvana formam um casal que parte com a filha em uma viagem ao Rio de Janeiro, que seria a última tentativa de salvar o casamento que está longe de fazer jus ao título do filme. Poderia ser definido como uma busca de culpados que nao têm culpa. Um filme perturbador. Já "Das Tripas Coraçao", com Antônio Fagundes e Xuxa Lopes, mostra a chegada de um interventor que pretende fechar um colégio feminino. Mas ele acaba tirando um cochilo de cinco minutos, durante os quais tem os sonhos que, para o espectador, sao o desenrolar da trama.

O filme teve problemas com a censura do regime militar, que ameaçou cortar 15 minutos. Isso desfiguraria o trabalho. Depois de muita negociaçao, ele acabou liberado com a condiçao de exibir uma tarja com os seguintes dizeres: "Este filme apresenta uma interpretaçao delirante, que nao corresponde à realidade".

"Sonho de Valsa" fecha a trilogia e é também o menos cortante, embora tenha outras qualidades. Nele, Tereza resgata seu passado, suas dúvidas, procurando um caminho para a felicidade e um encontro com a religiosidade. Traz ainda uma rara apariçao do cantor Ney Matogrosso como ator, numa interpretaçao que poderia ser classificada como um tanto desafinada.