O espetáculo Um Homem Indignado traz aos palcos do teatro do CCBB (Centro Cultural Banco do Brasil) Walmor Chagas, interpretando monólogo que ele mesmo escreveu e produziu. O ator desce da fazenda onde vive na Serra da Mantiqueira, em Guaratinguetá (SP), para abrir a curta temporada paulistana da peça e mostrar o que um homem comum tem a dizer a respeito das indignações da era contemporânea. "É minha pretensão expressar algo que quero dizer sobre as impressões do mundo. Em vez de escrever um livro, escrevi a peça", diz.

Uma dessas impressões é sobre o quanto a imagem influencia a cultura. "Tudo o que o povo sabe hoje, toda a política cultural, toda indignação popular dependem da televisão. Quero mostrar como a linguagem das letras e dos palcos, nas quais fui formado, não têm mais influência cultural", afirma. Outra de suas impressões está no que teve de fazer durante a semana que passou: atender a imprensa e dizer frases interessantes: "O ambiente de TV é assim, e acredito que em qualquer empresa também: só dizer o que é politicamente corretíssimo. E nisso está incluída muita mentira. Veja, jamais podemos dizer para um colega ‘sua cena está ruim’. Se o fizer, ganho um inimigo."

A peça tem direção do cineasta Djalma Limongi Batista, que em seu primeiro filme, Asa Branca, Um Sonho Brasileiro (1981), trabalhou com Walmor Chagas. No palco, ele interpreta um veterano ator que se prepara para entrar em cena num reality show, que pode levá-lo ao suicídio. No fundo, uma tela de cinema onde são projetadas imagens de vários personagens e amigos desse ator, como o diretor José Celso Martinez Corrêa e o também ator Ítalo Rossi, com os quais ele dialoga.

Limongi aposta justamente na tradição realista de interpretação do ator: "No sentido do drama, Walmor usa menos clichês. Ele ousa, produz, escreve e se arrisca. Não vai atrás de sucessos comerciais."