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Preso morre dentro de delegacia em S.Bernardo
Danilo Angrimani
Do Diário do Grande ABC
27/02/2003 | 20:28
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Alex Sandro Neto de Almeida, 24 anos, morreu no dia 14 de fevereiro nas dependências da Dise (Delegacia de Investigações sobre Entorpecentes) de São Bernardo. Ele estava preso no CDP (Centro de Detenção Provisória) de Santo André, sob a acusação de ter participado do seqüestro do comerciante L.Y.W., dono de um restaurante em São Bernardo. Almeida foi retirado do CDP para prestar depoimento na Dise e foi vítima de “mal súbito”, segundo o boletim de ocorrência 417 lavrado no 2º Distrito Policial de Diadema.

Removido para o Hospital Público de Diadema, chegou sem vida. De lá, seu corpo foi transferido para o IML (Instituto Médico-Legal) de Diadema, onde passou por necropsia.

O laudo, assinado pelo médico Arnaldo Teixeira Ribeiro, revelou politraumatismos, fratura de uma costela e perfuração do pulmão esquerdo. O legista constatou ainda “um grande hematoma atrás do baço”, “edema cerebral” e equimoses nos tornozelos, punhos, faces, coxa esquerda e no dorso do pé direito.

O delegado titular da Dise, Paul Henry Verduraz, comunicou imediatamente o fato ao delegado seccional de São Bernardo, Marco Antonio de Paula Santos; e também ao juiz-corregedor da Polícia, Luiz Geraldo Lanfredi. O promotor da Vara do Júri das Execuções Criminais e Corregedoria da Polícia Civil, Fábio Rodrigues Goulart, também foi informado do incidente.

Almeida era motoboy no restaurante de propriedade de L.Y.W.. Almeida era um ex-presidiário. Tinha cumprido pena por estelionato e porte ilegal de arma. Era casado e estava desempregado. O comerciante ficou com pena de sua situação e lhe deu uma “segunda chance”.

Segundo a polícia, Almeida levou um seqüestrador para jantar no restaurante de L.Y.W. e revelou detalhes sobre a rotina da vítima. Por ter passado as informações, Almeida receberia 50% do valor do resgate.

O comerciante L.Y.W. foi seqüestrado na noite de 27 de janeiro, dentro da garagem de um prédio no bairro Nova Petrópolis. Ficou 23 dias em poder da quadrilha. Foi libertado no dia 20 último, depois que a família pagou um resgate de R$ 70 mil.

A polícia capturou o motoboy Almeida graças a uma denúncia anônima. Ele foi preso no dia 10 de fevereiro. A mulher de Almeida, E., confirmou a participação do marido no crime. Durante o interrogatório na Dise, Almeida delatou três comparsas que fariam parte da quadrilha. Não foi suficiente para a polícia descobrir o cativeiro e libertar L.Y.W..

Ameaça – No dia 13 de fevereiro, a mulher de Almeida foi à Dise e comunicou que tinha sofrido ameaça de morte. Segundo E., dois homens estiveram em sua casa e disseram que, se Almeida continuasse delatando os comparsas, ela seria executada.

Diante desse fato novo e temendo pela vida do comerciante, que ainda estava no cativeiro, o delegado titular da Dise decidiu chamar Almeida para um novo interrogatório.

O motoboy chegou à Dise na hora do almoço do dia 14 de fevereiro. Segundo investigadores, que depuseram no inquérito, ele começou a passar mal. Desfaleceu. Os investigadores tentaram reanimá-lo fazendo massagem no coração e passando álcool em seu corpo. Como ele não reagia, foi chamado o Resgate. Quando Almeida chegou no hospital, estava morto.

Choques – Em um exame anterior, de praxe, feito no IML de São Bernardo, Almeida relatou ao legista que tinha sido torturado com choques elétricos nas orelhas. As lesões nas orelhas foram constatadas. No entanto, de acordo com o laudo assinado pelos legistas Abrahão Kfouri Neto e Manoel Gazze, elas não eram compatíveis com as informações do examinado.

O caso será analisado pelo juiz-corregedor Lanfredi, que vai decidir “se houve ou não ato ilícito na conduta policial”. O promotor Rodrigues Goulart disse que o inquérito ainda não chegou a suas mãos. “A autoridade policial tem 30 dias para encerrar o inquérito e o prazo ainda não se encerrou.” Rodrigues Goulart elogiou o delegado titular da Dise: “Trata-se de um excelente profissional da polícia. Eu o avalio como presidente das investigações nas quais acabo atuando como promotor.”

O delegado seccional de São Bernardo afirmou que o inquérito está em fase de conclusão e será encaminhado ao Poder Judiciário. “Estamos aguardando os laudos finais para concluí-lo.”

A Seccional solicitou ao IML de Diadema um laudo complementar para estabelecer a causa da morte e principalmente o horário em que Almeida teria sofrido a lesão na costela, que perfurou o pulmão, e teria sido decisiva para sua morte.




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