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Zé Ketti morre no Rio
Do Diário do Grande ABC
14/11/1999 | 18:16
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O cantor e compositor José Flores de Jesus, o Zé Ketti, morreu na manha deste domingo de parada cardíaca no Hospital Ordem Terceira da Penitência, na Tijuca, zona norte do Rio. O cantor de 78 anos estava internado desde o dia 25 de outubro em conseqüência de complicaçoes renais e pulmonares. O corpo de Zé Ketti foi velado na capela Santa Cassia do Cemitério de Inhaúma e enterrado no final da tarde.

O sambista encarnava a figura do típico malandro carioca e consagrou-se em 1966 com a marchinha de carnaval Máscara Negra. Seu repertório inclui grandes sucessos como "A voz do Morro" e "Diz que eu fui por aí". Esta última é a música predileta de sua filha Geisa Flores. "Acho que a letra diz muito da alma de meu pai", disse, emocionada.

Na década de 60, o sambista participou do lendário show "Opiniao", dirigido pelo dramaturgo Augusto Boal, ao lado do compositor Joao do Valle e das cantoras Nara Leao e Maria Bethânia. Sua música "Opiniao", com versos como "podem me bater, podem me prender, mas eu nao mudo de opiniao", foi um dos maiores sucessos do espetáculo.

O compositor Luis Carlos Miele lembrou neste domingo que o sambista costumava dizer que, depois do sucesso do "Opiniao", fora esquecido pela mídia e parara de receber convites para festas da sociedade. "Na época, era politicamente correto ter um sambista em uma festa", disse Miele. "Ele dizia que nao havia feito nada para entrar nessa roda e também nada para sair dela." Miele ressaltou a capacidade criadora de Zé Ketti, ao lembrar de um outro episódio ocorrido na década de 60 - época em que ele e Ronaldo Bôscoli produziam o quadro "Noite de Gala", na TV Excelsior. Os dois estavam montando um número musical cujo tema era a favela, mas ainda precisavam de músicas. "Chamamos o Zé Ketti e, no dia seguinte, ele apareceu com Acenderam as Velas, que é uma música belíssima", contou.

Pai de seis filhos, Zé Ketti morava há seis anos com sua filha Geisa em Inhaúma. Nos últimos anos, a saúde debilitada do cantor dificultava as saídas de casa. Ele tinha hidrocefalia decorrente de um derrame e problemas nos rins. Em setembro do ano passado, o cantor sofreu um princípio de derrame quando visitava um de seus filhos em Sao Paulo e foi internado na Clínica Santa Isabel.

Parentes contaram que ele vinha sofrendo de depressao desde a morte de sua mulher, India, há três meses. Mesmo separados, o casal ainda era muito amigo. Zé Ketti foi internado no final de outubro com desidrataçao, mas o quadro se agravou quando contraiu pneumonia. "Ele amava a vida", afirmou sua filha. Geisa lembra do pai como um eterno rebelde, que nao queria se entregar. "Muitas vezes era preciso mantê-lo dopado porque ele queria arrancar os tubos e levantar", lembrou.

No feriado de finados, o cantor recebeu, no hospital, a visita dos sambistas Elton Medeiros e Paulinho da Viola. Sua filha conta que o cantor ficou muito emocionado com a visita e chorou ao lembrar de seus grandes sucessos e parceiros. "Estou muito chocado com a morte dele", afirmou neste domingo Paulinho da Viola. "Era um dos maiores de todos os tempos." Paulinho da Viola lembrou que começou no samba pelas maos de Zé Ketti. "Eu nao dava muita importância à composiçao, mas ele sempre me estimulava a compor", contou. "Ele costumava me chamar de pupilo e era assim que eu me considerava." Paulinho lembrou ainda das particularidades das músicas de Zé Ketti. "Se ouvisse uma música desconhecida, saberia dizer se é dele", disse. "Ele tinha um jeito tao dele de fazer samba que é impossível traduzir em palavras." Para Paulinho, seu colega nao teve o devido reconhecimento da crítica especializada.

Outro que se sente devedor em relaçao a Zé Ketti é o também sambista Noca da Portela. "Foi ele que me descobriu e me levou para gravar com o grupo A Voz do Morro", lembrou. A Escola de Samba Boêmios do Inhaúma, do terceiro grupo, vai homenagear Zé Ketti no carnaval do ano 2000 com o enredo Os Bambas de Inhaúma, em referência ao cantor e a Pixinguinha.




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