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Eles precisam de atenção
Paula Nunes
Do Diário do Grande ABC
16/09/2006 | 20:48
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“É preciso que o empresariado faça alguma coisa porque os governos, quando podem, fazem.” O apelo é de Anna Gendankien, coordenadora do Grupo de Trabalho do Patrimônio Cultural do Grande ABC. Seu maior desejo é conseguir unir forças para preservar a história da região, espelhada em suas antigas edificações. Sua maior preocupação é que imóveis construídos no início do século passado não tenham o mesmo destino, por exemplo, do casarão erguido em 1930 na esquina da avenida D.Pedro I com a rua das Monções, no bairro Jardim, em Santo André, que foi demolido no fim de 2001 para dar lugar a uma loja do McDonald’s. “Entendo que todos somos responsáveis pela conservação da história”, defende.

São tantos os sobrados, torres, fábricas, capelas e igrejas que datam quase ou mais de um século de existência, que seria necessário muitas páginas para listar todos e resumir um pouco de seu glorioso passado. “Dá para escrever um jornal inteiro”, garante Ana Gendankien. Ela está certa. Cada cidade da região abriga verdadeiros tesouros arquitetônicos, alguns restaurados e preservados pelo poder público, comerciantes, empresários e paroquianos católicos. Outros, por sua vez, ainda esperam que alguém olhe por eles e definham expostos ao tempo.

É o caso do casarão da família Zampol, às margens da rodovia Índio Tibiriçá, na altura da Ponte Seca. Ali, uma construção semelhante às encontradas na zona rural do Norte da Itália vai, dia após dia, perdendo um pouco do que foi no passado. O telhado quase não existe mais e as paredes exibem profundas rachaduras. Tombado pelo Condephat (Conselho Municipal de Preservação do Patrimônio Histórico e Artístico), assim como a capela erguida em 1918 por Domingos Zampol, a propriedade aguarda há anos um comprador que queira restaurar o local e transformá-lo em um centro de lazer.

A Chácara da Baronesa, em São Bernardo, lugar que nasceu no requinte e na sofisticação de um Haras que criava cavalos de raça, com direito à piscina, palacete para encontros sociais e cocheiras com água encanada, também tombado pelo Condephat, hoje pertence ao Estado de São Paulo e será transformado em um parque. A questão é saber quando. Do palacete só restam as paredes e do complexo de baias, apenas uma parte está razoavelmente preservada.

Destino melhor terá o casarão no Centro de Ribeirão Pires, que durante a década de 1950 foi morada de um comerciante de armas, depois cartório, sendo adquirido pela Associação Comercial e vendido ao município, que não deixou a entidade demolir o sobrado de piso de madeira trabalhada e amplas salas. Sua restauração, segundo a Prefeitura, começa no fim do ano e dará lugar a Coordenadoria de Políticas Públicas para Pessoas com Deficiência, que deve funcionar ali em 2007.

Camuflados – Como a maior parte desses imóveis pertence a particulares, fica difícil aos governos, seja estadual ou municipais, intervirem na manutenção ou alteração de suas características originais. Isso faz com que, andando em pleno Centro de Santo André, ao lado da estação ferroviária, belos sobrados concebidos entre as décadas de 1910 e 1930 passem despercebidos.

Para modificar este quadro, o Gipem (Grupo Independente de Pesquisadores da Memória) busca na Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) um parceiro que os ajude a sensibilizar os comerciantes para trazerem de volta o esplendor de ruas como a Bernardino de Campos. “A preservação desse espaço ainda vira um atrativo a mais para a cidade”, garante José Duda Costa, um dos membros da entidade que não tem sede, estatuto ou registro, mas que reúne regularmente 30 pessoas que lutam para que a biografia da região não se perca entre novos arranha-céus e arquiteturas modernas.

Santo André
Escondidos atrás de letreiros e fachadas comerciais, belos sobrados erguidos no início do século passado sequer são notados pelos pedestres. Na rua Bernardino de Campos, 99, o casarão rico em detalhes e quase secular desaparece com as instalações da farmácia. O imóvel foi construído sob influência arquitetônica das correntes européias da época, ostentando traços neoclássicos. Esta concepção de construção é encontrada em outras casas da mesma via, como a de número 13, erguida em 1914 e que foi moradia de um grande proprietário de terras. Existem ainda os imóveis que estão em abandonados (foto à esquerda) e são alvo da luta de preservação do Grupo de Trabalho do Patrimônio Cultural do Grande ABC, que busca ajuda para, pelo menos, pintá-los.

São Bernardo
A Chácara da Baronesa, que abrigou o Haras São Bernardo, sofre com o abandono de suas instalações e com a invasão de seu terreno de mais de 15 mil metros quadrados. Tombado pelo governo estadual, hoje dono da área, perdeu o requinte e o glamour de quando era utilizado para a criação de cavalos de raça. Pouco resta de suas edificações originais e, de seu complexo de baias, apenas uma parte está razoavelmente preservada.

São Caetano
Conhecida como Matriz Velha, a Igreja São Caetano. no bairro Fundação, foi edificada em 1900 para substituir a capela erguida pelos padres Beneditinos entre 1717 e 1720. O piso original pode ser conferido na lateral do templo desde 1993, depois de um trabalho desenvolvido pela equipe de arqueologia histórica do Museu Paulista da USP (Universidade de São Paulo), em conjunto com a Fundação Pró-Memória de São Caetano. Foi tomabada pelo município em 1965 e é conservada pela paróquia. Ao lado, a fachada do primeiro cinema da cidade, que funcionou até 1949. Está conservada graças ao esforço do comerciante Mustapha Abdoumi desde que adquiriu o imóvel, em 1992.

Ribeirão Pires
O Complexo Educacional e Cultural Ibrahim Alves de Lima, no Centro de Ribeirão Pires, é um exemplo do que pode ser feito com construções de valor histórico. O Centro de Exposições Dom Helder Câmara está instalado no local onde funcionou a fábrica de sal Cotelês. Adquirida por um supermercado, seria demolida se o governo municipal não intervisse. O mesmo caminho será seguido pelo casarão que fica ao lado e que abrigará uma coordenadoria da Prefeitura.

Mauá
O Museu Barão de Mauá está instalado em uma Casa bandeirista construída em meados de 1700, época da colonização paulistana, para ser sede do Sítio da Bocaina. Construída em taipa de pilão, possui um alpendre frontal que faz ligação entre o salão central e as salas laterais. Estas eram usadas originalmente pelos bandeirantes como capela e quarto de hóspedes. Atualmente, restam poucos exemplares deste tipo de construção no Estado.

Diadema
Construída na década de 1930, o antigo Colégio Helena Guerra já foi casa-sede de um sítio de 70 alqueires que depois foi doado, em 1950, para uma congregação católica. De orfanato para meninas, tornou-se escola em 1961. Hoje, de propriedade do município, abriga o Centro de Memória da Cidade. A maior parte das construções de valor histórico da cidade foram demolidas para dar espaço a novas construções.




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