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Apeoesp denuncia vazamento de dados de professores

Lista com nome de quem não acessou aplicativo para aulas inclui profissionais afastados por licença

Aline Melo
Do Diário do Grande ABC
08/06/2020 | 23:12
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A subsede de Santo André da Apeoesp (Associação dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) denunciou o vazamento de dados de quase 100 professores que atuam nas escolas estaduais da cidade. Organizada pela Diretoria Regional de Ensino, a lista foi enviada para todas as unidades escolares na quinta-feira, mas começou a ser divulgada em grupos pedagógicos na sexta-feira.

Coordenador geral da Apeoesp em Santo André, Raphael Bueno Bernardo da Silva afirmou que, além de divulgar o nome e o CPF dos professores, a lista tem a palavra ‘não’ ao lado de cada bloco de informação, indicando que aquele profissional ainda não acessou o Centro de Mídias São Paulo, aplicativo desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação para que os alunos da rede tenham aulas on-line.

Segundo Silva, a maioria dos professores citados está de licença médica e também há casos de docentes que não têm conseguido realizar o acesso por problemas técnicos, mas que seguem desenvolvendo seu trabalho normalmente. “Nós ganhamos por hora aula. Se esta lista for usada para descontar possíveis faltas dos nossos salários, certamente muitas pessoas que estão trabalhando normalmente podem ficar sem pagamentos”, alertou o coordenador.

O professor citou o caso de docente que não tem computador e o celular não é compatível com o aplicativo. O profissional tem enviado as atividades aos alunos, com o conhecimento da escola, mas não tem conseguido se logar no aplicativo, única forma de controle de jornada.

A lista também traz um caso de transfobia. A professora Hainra Asabi Alves Costa, 38 anos, está afastada de licença médica desde 4 de março, por laudo psiquiátrico, após ter sido agredida verbalmente por alunos e ter síndrome do pânico. Na lista consta seu nome civil, contrariando resolução do próprio governo estadual que desde 2014 torna obrigatório o respeito ao nome social de pessoas transexuais em ambiente escolar, sejam alunos, professores ou funcionários.
“Estou de licença saúde, publicitam meu nome civil sem nem citar meu nome social, dados particulares e envia isso para todas as escolas. Já agendei com advogada e estou disposta a entrar com uma ação civil contra quem enviou o e-mail. Adoeci por estar em sala, trabalhando e recebo uma notícia dessa quando estou afastada. É o cúmulo”, afirmou.

Subsecretário de articulação interino da Secretaria de Educação, Henrique Pimentel lamentou a divulgação dos dados privados dos professores e afirmou que será criada hoje comissão para apurar o ocorrido e tomar as medidas cabíveis. Segundo Pimentel, a lista era restrita apenas para dirigentes e diretores e não se trata de caça às bruxas, mas, sim, tentativa de identificar professores que possam estar tendo dificuldades para acessar o aplicativo. “Não tinha nenhum objetivo de punição, era justamente para lidar com esses casos específicos de quem tinha dificuldade de acesso, se precisava de um equipamento ou até mesmo ir para a escola. O objetivo foi realmente evitar que houvesse apontamento de faltas indevidas”, garantiu. Segundo o secretário, caso fique provado que algum servidor foi responsável pelo vazamento, poderá ser aberto processo administrativo.

Uma professora que não quis ser identificada, cujos dados estão na lista e está de licença-maternidade, afirmou que se o objetivo fosse ajudar os professores, o governo teria tentado contato direto com os docentes. “Muitas pessoas já acham que servidor público não trabalha e aí eles divulgam nossos dados dessa forma?”, questionou a profissional. 




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