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Sesi homenageia Plínio Marcos com 'Prisioneiro de uma Cançao'
Do Diário do Grande ABC
28/02/2000 | 15:50
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Em 1977, o dramaturgo Plínio Marcos inaugurou o Teatro Popular do Sesi, na Avenida Paulista, com um tributo ao compositor Noel Rosa, "O Poeta da Vila e Seus Amores". Agora, é a vez de o Sesi homenagear o autor desse e outros musicais como "Chico Viola" e de peças como "Dois Perdidos numa Noite Suja", morto em novembro.

Para realizar a homenagem, a administraçao do Sesi convidou o dramaturgo e diretor Leo Lama, filho de Plínio Marcos que criou o musical "Prisioneiro de uma Cançao". Com apresentaçao única, esta terça-feira, às 20h30, o espetáculo reúne cançoes criadas em parceria por Plínio (letra) e Lama (música), trechos de peças e ainda poesias do dramaturgo santista.

A atriz Luciana Carnielli e o ator Marat Descartes revezam-se em personagens como o palhaço Bobo Plin e Madame Blavastsky, uma maga vivida pela atriz Walderez de Barros na montagem da peça que tinha essa personagem como protagonista. No palco do Sesi estará ainda um violonista e Leo Lama usará recursos como a voz gravada de Plínio Marcos.

"Prisioneiro de uma Cançao" é também o título de um livro publicado por Plínio Marcos que ele definiu como "a tragicômica história de um sujeito em busca do autoconhecimento". O personagem central de "Prisioneiro de uma Cançao" é um sujeito que vende seus livros na rua. "Olha o livro ruim e barato. Eu mesmo escrevi. Leva um, minha senhora. Para me ajudar. Dou um autógrafo e prometo morrer logo para valorizar o livro".

Um personagem que nao podia ser mais autobiográfico, pois era com essas palavras que Plínio Marcos apregoava seus livros, vendendo-os nas portas dos teatros. Isso porque ele jamais conseguiu viver das montagens de suas peças, até porque a perseguiçao da censura impediu que alguns de seus melhores textos, como "Barrela", chegassem ao palco durante anos. A esse "camelô do teatro" o Sesi convidou Leo Lama para homenagear.

"Nao gosto de homenagens, elas nao servem para nada", diz Leo. "Quando feitas em vida, apenas afagam o ego; depois da morte do artista parecem oportunismo", afirma num tom direto que reforça o ditado popular - filho de peixe, peixinho é. Ainda assim, ele afirma ter aceitado o convite nao só pelo fato de o pai ter inaugurado o teatro, mas porque a homenagem resultou num outro espetáculo. "O que o artista precisa mesmo é disso: oportunidade para trabalhar", garante.

A conhecida cançao popular tirada de uma brincadeira infantil - "Uma, duas angolinhas/finca o pé na pampolinha/ o rapaz que jogo faz?/ Faz o jogo do capao./ Diga lá Mané Joao/ que retire o seu dedinho/ senao vai um beliscao" - perpassa todo o espetáculo, assim como no livro homônimo é repetida pelo personagem. "Meu pai adorava essa cançao e vivia repetindo: daí o título "Prisioneiro de uma Cançao", conta Lama.

No palco, o público entrará em contato com trechos de peças como "Balada de um Palhaço", "Querô - Uma Reportagem Maldita" e "Mancha Roxa". Vai escutar ainda a poesia "Despedida", escrita por Plínio em 1990. "O Sesi emprestou para o elenco parte dos cenários e figurinos de "O Poeta da Vila", criados por Flávio Império, verdadeiras obras de arte", lembra Lama. Ele ressalta ainda a importância do excelente e bem cuidado acervo do Sesi, que conserva cenários e figurinos de montagens marcantes.

A voz em off de Plínio Marcos falando um texto de apresentaçao dos sambistas de Sao Paulo, retirado da abertura do disco "Histórias das Quebradas do Mundaréu", gravado por Plínio na década de 70, abre o show no Sesi. "Meu pai era muito querido pelo pessoal das Escolas de Samba", lembra Lama.

Apaixonado por música, Plínio ganhou no filho um parceiro para compor para suas peças. Aos 19 anos, Lama começou a musicar as poesias criadas pelo pai para as peças. "Ele adorava esses momentos de criaçao conjunta". Dez dessas cançoes criadas em parceria estarao agora no palco do Sesi em "Prisioneiro de uma Cançao", uma homenagem que certamente deixaria o Bobo Plin contente.




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