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Tapeçaria de Burle de Marx aguarda restauro em Sto.André
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
20/03/2001 | 18:02
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“Fazem-se longos discursos, com belas palavras, e depois o jardim fica esquecido”. A frase do arquiteto e paisagista Roberto Burle Marx (1909-1994) é visionária – assim como todo seu legado – e resume a situação em que se encontra sua obra em Santo André. Em especial, a bela e monumental tapeçaria fixada com dezenas de pregos em uma parede do Salão Nobre (9º andar) do prédio que abriga a Prefeitura, no Paço Municipal.

A peça está em estado de deterioração e mais uma vez o poder público do município demonstra interesse no restauro, mas ainda não há nada de concreto. De acordo com o secretário-adjunto da Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer da cidade, Alexandre Takara, “até o prefeito Celso Daniel tem interesse nesse restauro”.

“Estamos vendo com o departamento jurídico da Prefeitura quais são os procedimentos corretos que devem ser tomados para dar início ao processo de restauração”, fala a diretora do Departamento de Cultura da cidade, Marta de Betânia Juliano.

Além das perfurações, a obra do paulistano – datada de 1969 – está suja. Segundo informações do Museu de Santo André, ela nunca passou por nenhuma espécie de manutenção ou restauro. Fotos do Diário feitas em 1993 comprovam o uso dos pregos para a fixação da tapeçaria já naquele ano.

De acordo com Haruyoshi Ono, diretor da empresa de paisagismo Burle Marx & Cia (fundada por Roberto Burle Marx, em 1955, no Rio de Janeiro), essa é a maior tapeçaria assinada pelo artista: o trabalho mede 3,5 m x 26 m.

Bastante colorida, o tema da peça é abstrato, composto por traços geométricos disformes que lembram formas orgânicas. “No Brasil, só há tapeçarias do Burle Marx em dois locais públicos: na Prefeitura de Santo André e no Palácio do Itamarati, em Brasília”, conta Ono.

Na sala de banquetes do Itamarati encontram-se cinco tapeçarias de Burle Marx, que medem 5 m x 3 m cada. “Elas representam tipos de vegetação, como exemplo a caatinga”, fala Ono. Esses trabalhos foram executados por Jacques Douchez, 80 anos, considerado um dos mais importantes tapeceiros do país (porém não mais em atividade).

O valor da obra assinada pelo maior arquiteto paisagista do Brasil é incalculável. Para se ter uma idéia, a colecionadora de tapeçarias Mariana Cravo tem duas peças de Burle Marx no formato 2,30 x 2,10 m, datadas de 1972, e que têm, segundo ela, valores estimados em US$ 30 mil cada.

“Essas tapeçarias têm esse valor elevado também devido ao local em que foram feitas: a Manufatura de Tapeçarias de Portalegre (em Portugal), uma das mais importantes da Europa”, conta Mariana.

Segundo Douchez, a forma correta de instalar tapeçarias em parede não é complicada. O método é similar ao de instalação de uma cortina. “Em geral, a fixação é feita por meio de um cadarço que é costurado na tapeçaria, ao qual são instaladas argolas de metal. Esses anéis é que devem ser usados para a fixação. Pregos não devem ser utilizados jamais, até por motivos lógicos: o metal enferruja e estraga a peça”, explica Douchez. Ele completa: “Em tapeçarias planas pesadas, é indicado o uso de moldura de madeira”.

Já Ono, que trabalha na Burle Marx & Cia desde 1965, explica que o estudo para a tapeçaria da Prefeitura de Santo André foi elaborado por Burle Marx em guache e têmpera sobre papel. Depois, foi ampliado para o tamanho original por Burle Marx e sua equipe (da qual Ono participou), em têmpera sobre papel craft.

“A ampliação do desenho foi enviada para a extinta Tecelagem Parahyba (em São José dos Campos, no interior de São Paulo), empresa que fez a tapeçaria”, conta Ono. Ele ainda fala que a peça já integrou diversas exposições sobre a obra do paisagista, inclusive no exterior.

Por fim, Ono diz que a restauração da peça “valoriza a cidade de Santo André”. Afinal, ter um bem como essa tapeçaria é um privilégio que deve ser bem mantido.

“O assunto do restauro é complexo e a precipitação não ajuda em nada. Encaminhar as possíveis medidas acerca da restauração foi uma das primeiras preocupações do secretário Acylino Bellisomi em sua gestão”, diz Marta de Betânia. Ela completa que um restaurador contatado orçou o trabalho em cerca de R$ 100 mil.




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