Ex-titular da 7ª Vara Cível de São Bernardo, Gersino Donizete do Prado quebrou o silêncio e afirmou que vai se pronunciar sobre as denúncias de concussão e corrupção passiva assim que for comunicado pelos tribunais. Ontem, porém, quando deu a declaração, o magistrado já havia sido procurado há pelo menos 15 dias pelo Conselho Nacional de Justiça, órgão que o investiga.

O juiz foi denunciado ao CNJ em 10 de abril por empresário de Santo André. Na reclamação disciplinar, o denunciante diz representar empresa que enfrenta crise financeira, é alvo de processo e vinha sendo explorada desde 2008.

As exigências do magistrado iam de propinas semanais de até R$ 5.000 a compra de artigos de luxo e contratação de serviços terceirizados indicados por ele à empresa. O caso foi revelado pelo Diário no sábado.

Em declaração rápida, Donizete do Prado afirmou que ainda não pode dar esclarecimentos sobre o caso, pois desconhece o conteúdo da queixa.

O ex-titular da 7ª Vara Cível disse também que deverá ser comunicado em breve pela Justiça, quando, então, virá a público se defender.

Se o juiz pretende mesmo cumprir o desejo que manifestou de dar as suas explicações sobre a acusação, já o poderia ter feito ontem.

Em documento de 27 de maio, ao qual o Diário teve acesso, assinado de próprio punho, e remetido à Corregedoria Nacional de Justiça, Donizete do Prado responde a pedido de informações para as investigações.

Na peça, o juiz denunciado esclarece que está apresentando as informações solicitadas, desqualifica as denúncias e se declara inocente.

O magistrado escreve confiar "na certeza de que a experiência" da corregedoria ditará "a solução adequada à espécie, devendo ser julgada totalmente improcedente a presente ‘reclamação disciplinar', arquivando-a."

O documento, que termina com as demonstrações de estima e consideração de praxe, começa com a citação de uma passagem da Bíblia: "Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres, porque eu sou teu Deus."

Afastamento

Donizete do Prado foi afastado da 7ª Vara Cível há uma semana e está oficialmente fora de suas funções até 30 de agosto. A determinação é do Órgão Especial do Tribunal de Justiça.

O juiz é prestigiado no Grande ABC e costuma aparecer em festas, inaugurações, eventos beneficentes, shows e sessões solenes.

Entre outros processos, o magistrado estava conduzindo a ação que pede a extinção do bairro Jardim das Oliveiras, que foi erguido sobre antigo lixão, além da reintegração de posse de centenas de famílias que ocupam área particular no Jardim Scaff.