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Letícia Spiller de volta às novelas como vilã
André Bernardo
Da TV Press
31/07/2004 | 17:09
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Nos tempos de paquita, Letícia Spiller foi apelidada pela diretora Marlene Mattos de Pituxa Pastel. Das assistentes de palco do Xou da Xuxa, era a mais distraída e estabanada. “Coisas de geminiana”, brinca. Hoje, aos 30 anos, a agora atriz se mostra atenta e cuidadosa. Antes de responder a certas perguntas, pensa bastante e estuda cada palavra. Na carreira, ela também é assim. Para aceitar um determinado trabalho, como a ambiciosa Viviane de Senhora do Destino, novela das nove da Globo, pondera todos os prós e contras. Na dúvida, sempre se pergunta se já fez algum papel parecido com aquele. “Gosto de percorrer sempre o caminho oposto ao que já fiz antes. Só assim, sinto tesão em um trabalho”.

Na trama, Letícia interpreta uma mulher sensual, que exerce dupla função na vida do vereador Reginaldo, de Eduardo Moscovis. De dia, ela é assessora parlamentar. À noite, amante. “A Viviane usa o sexo em proveito próprio. Ela é bem cachorra, do tipo que existe aos montes por aí”, diz. Além de nunca ter feito um tipo parecido antes, Letícia quis retomar a parceria com o autor Aguinaldo Silva, o mesmo de Suave Veneno, novela que revelou a obstinada Maria Regina, uma de suas personagens favoritas. “Fiquei triste quando a Maria Regina morreu. No fundo, todo mundo merece uma segunda chance”.

Ao longo dos anos, a atriz deixou de interpretar outros tipos marcantes na TV. Por causa das filmagens de Oriundi, por exemplo, declinou dos convites de Wolf Maya para fazer Hilda Furacão e Pecado Capital. Anos depois, a história se repetiu. Às vésperas de estrear o espetáculo O Falcão e o Imperador, foi chamada por Luiz Fernando Carvalho para fazer Os Maias. Disse não. Pouco depois, um novo convite e uma nova negação. Dessa vez, de Jayme Monjardim, para interpretar a Jade de O Clone. Resultado: uma licença sem vencimentos de oito meses da Globo. “A vida é feita de momentos e, naquele momento, eu tinha a peça para fazer. Só espero que o Jayme não tenha levado para o lado pessoal”.

TV Press – Nos últimos anos, você recusou importantes trabalhos na TV. Por que resolveu participar de Senhora do Destino?
Letícia Spiller – Participar ou não de um trabalho depende muito do momento. Para falar a verdade, depende de tanta coisa. De tesão, principalmente. Para mim, sempre conta fazer algo diferente do que já fiz antes. Se o novo personagem vier no caminho oposto do anterior, ele vai me instigar. Foi isso que aconteceu com a Viviane. Ela é diferente de tudo que já fiz. E o diferente, costumo dizer, é sempre mais desafiador. Mas eu me arrependo, amargamente, de não ter feito Os Maias. Cheguei a ficar doente quando tive de dizer não ao Luiz Fernando. É uma pessoa que admiro muito e com quem eu gostaria de trabalhar de novo.

TV Press – Além de Os Maias, tem algum outro trabalho que você deixou de fazer e que tenha se arrependido depois?
Letícia – Tem O Clone também. Lamentei muito não ter feito a novela por causa do Jayme. Queria muito. Queria muito, não. Quero muito trabalhar com ele algum dia. Isso, se ele ainda me quiser.

TV Press – A Globo suspendeu você por conta da recusa.
Letícia – Pois é. Mas achei justo. No fundo, adoraria ter feito a Jade. Mas a Giovanna Antonelli mereceu o sucesso que fez. Fiquei muito feliz por ela. A Jade foi para a Giovanna o que a Babalu representou para mim. Serviu para reafirmar o talento dela como atriz. A Babalu também foi muito importante para mim. Foi um presente que ganhei do Lombardi e do Ricardo Waddington. Eles confiaram no meu taco e peguei aquela personagem com unhas e dentes.

TV Press – E o que a Viviane tem de novo a acrescentar na sua carreira?
Letícia – A Viviane é completamente diferente de mim. Ela é um mulherão sensual, e muito ambiciosa também. Ela arquiteta, engendra, articula. É a mulher por trás do vereador Naldo da Silva. Para ter poder, ela é capaz de tudo. Também me interesso por política, mas não sou de me engajar em campanhas. Ao mesmo tempo que articula e engendra, a Viviane é uma mulher um tanto simplória, que fala errado, inclusive.

TV Press – Mas você não se considera sensual?
Letícia – Sei lá. Tudo depende do estado de espírito. Para falar a verdade, tem horas em que não me acho nada disso. Eu diria que sou mais simples, básica, do que a Viviane. Eu nunca vestiria as roupas que ela usa. Nem ando de salto alto porque não consigo. Meus pés doem. Além disso, ela usa umas unhas enormes. E uma coleira de cachorra também. Coleira de cachorra, boca de bicho, um olhão preto. Uma mulher ‘superdiscreta’ não?

TV Press – Por que você sempre recorre à ajuda de uma psicanalista para criar seus personagens?
Letícia – Eu sempre gosto de construir uma história na minha cabeça. Se a personagem não tiver essa história, procuro criá-la. Geralmente, faço isso com a ajuda da Kátia Aschar. Mas, por enquanto, a única coisa que sei da Viviane é que ela é uma mulher ambiciosa. No fundo, a imagino como uma ovelha desgarrada. Pode ser que ela tenha perdido a família muito cedo, não sei. E, por isso mesmo, teve de cair na vida. Ainda não me decidi quanto a isso. Só sei que ela é uma pessoa, aparentemente, sem família. Por isso, age do jeito que age. Não tem muita ética.

TV Press – Na primeira semana, a Viviane apareceu na piscina do hotel com o Naldo. Você já está preparada para o assédio do público, principalmente do masculino?
Letícia – Já. As pessoas sempre me respeitaram muito. E, se não respeitarem, eu me retiro na hora. Não costumo ter problema com assédio. Só espero que ninguém me xingue nas ruas.

TV Press – E quanto ao assédio das revistas masculinas? Você ainda descarta a hipótese de posar nua?
Letícia – Na época da Babalu, resisti porque achei que não era o momento. Foi o meu primeiro papel como atriz e minha imagem poderia ficar estigmatizada. Hoje, dependendo da proposta, aceitaria o convite. Desconfio que deva rolar alguma coisa, até mesmo por causa do apelo sensual da personagem. Mas só faria por muito dinheiro. Quando lembro que tantas pessoas maravilhosas já posaram, quem sabe agora não é a minha vez?




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