Setecidades Titulo
Vizinhos de terrano com BHC nunca tiveram orientação médica
Elaine Granconato
Da Sucursal do Diário em São Caetano
11/09/2001 | 21:29
Compartilhar notícia


Os moradores da chamada Vila da Matarazzo – conjunto de sobrados geminados construídos entre as décadas de 40 e 50 ao redor das antigas instalações das Indústrias Reunidas Francisco Matarazzo –, em São Caetano, nunca receberam a visita de agentes de saúde ou assistentes sociais de algum órgão municipal ou estadual, ou mesmo de representantes da indústria. Há mais de 15 anos, o terreno onde ficavam as indústrias foi contaminado por mercúrio e resíduos de hexaclorociclohexano, conhecido popularmente por BHC (produto altamente tóxico e cancerígeno). Desde então, apenas uma moradora disse ter sido procurada por um funcionário da Prefeitura.

Vizinho ao terreno contaminado, o ex-funcionário da fábrica de rayon da empresa – área onde hoje é realizada a Festa Italiana –, o soldador Eliezer Gonçalves da Silva, 67 anos, mora em um dos sobrados da Matarazzo desde 1969. “Posso lhe afirmar que nunca fui procurado por ninguém da área de saúde aqui.” Indagado sobre o cheiro do BHC, já que sua casa faz divisa com o terreno, Silva disse que “nem o capeta tira”.

A dona de casa Ana Maria Pereira Santos, 40, mora desde 1972 em um dos sobrados da avenida dos Estados. Sua mãe e seu irmão são ex-funcionários da Matarazzo. “Não me lembro de ninguém ter passado por aqui para nos alertar sobre os riscos de contaminação.” Ela disse ainda que o cheiro diminuiu um pouco. “No calor é pior o odor de BHC. Vivo eternamente com enxaqueca”, disse.

Morador há 33 anos no bairro Fundação e funcionário durante 19 anos na área administrativa da Indústria Cerâmica Matarazzo, o aposentado José Carlos Évora, 57, disse que nunca teve ninguém da área de saúde em visita. “Felizmente, ninguém da família tem problemas de saúde.”

A única exceção foi a dona de casa Izabel Aparecida Ando, 65, que mora em um dos dois sobrados que abrigaram a antiga portaria e o refeitório da unidade química, na esquina da avenida dos Estados com a rua Mariano Pamplona. “Várias vezes, abri minha casa para a Cetesb (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) fazer a medição do ar e do terreno contaminado.” Ela disse que “alguém” da Prefeitura teria ido a sua casa. “Eles me disseram para procurar o pronto-socorro se sentisse algo.”

Ela é viúva de um ex-funcionário que trabalhou 33 anos na empresa. “Nossa saúde é perfeita”, disse, ao apontar para o neto Vicente Rocco Ando Neto, 14, que nasceu no local, ao lado do pai Vicente Júnior, 38. “Somos a terceira geração aqui”, lembrou Júnior.




Comentários

Atenção! Os comentários do site são via Facebook. Lembre-se de que o comentário é de inteira responsabilidade do autor e não expressa a opinião do jornal. Comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros poderão ser denunciados pelos usuários e sua conta poderá ser banida.


;