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Trapezista andreense pode ‘voar’ alto pelos mares do Pacífico
Rení Tognoni
Da Redaçao
17/07/1999 | 18:23
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Há três anos, a andreense Raquel Varuzza, entao com 15 anos, se inscreveu em um curso de iniciaçao ao circo para fugir da vida sedentária e animar suas férias escolares. No início, aprendeu técnicas de contorcionismo, mas descobriu, com o treinador José Araújo de Oliveira Maranhao, a paixao pelo trapézio. Hoje, aos 18 anos, ela comemora sua estréia em um circo famoso, o Betinho Carrero, instalado na avenida das Naçoes Unidas, em Sao Paulo.

Aparentando segurança e tranqüilidade quanto a sua escolha profissional, ela disse ao Diário, quinta-feira passada, que nunca se imaginou trabalhando em um circo: “Nao gostava de me imaginar com aquelas roupas brilhantes. Queria algo mais simples. Mas quando ensaiei no circo pela primeira vez foi algo mágico, e só quem já passou por isso consegue entender”.

Há duas semanas, no entanto, ela foi surpreendida com uma outra proposta de trabalho. Um norte-americano, em viagem pelo Brasil para recrutar artistas circenses, a convidou para fazer parte de uma turnê de navio, que começa em setembro próximo, pelas ilhas do Oceano Pacífico. Segundo ela, o projeto é viajar durante um ano, parando nas ilhas para apresentaçoes. “Ele ficou encantado com meus truques (números) no trapézio”, afirmou.   Apesar de feliz com os resultados que começam a surgir depois de três anos de dedicaçao, Raquel vive a dúvida da escolha. Em duas semanas, ela terá de decidir pelo circo ou pela turnê internacional. “Tudo está acontecendo muito rápido. É uma decisao séria, e ainda nao sei o que vou fazer”, diz.

O treinador Maranhao, que a define como “geniosa”, comemora o sucesso da aluna: “No trapézio, ela trabalha mais com o calcanhar do que com as maos. Sao truques difíceis, que poucos conseguem fazer. Em técnica, ela nao fica para trás em nenhum lugar do mundo”, explicou o treinador, que trabalha em circo há mais de 40 anos.

Apesar de nao ter discutido valores nas propostas de trabalho, Raquel diz que o salário de um trapezista varia entre R$ 500 e R$ 1 mil por semana.

Desafios – Desafiar o próprio corpo e até a morte, para Raquel, é o principal estímulo para continuar atuando como trapezista. No início do aprendizado, ela conta que seus calcanhares sangravam no trapézio e, apesar de machucada, continuava os treinos.

Seu trabalho também exige disciplina, como nao beber nem fumar, dormir cedo e se alimentar muito bem, além de treinar no mínimo quatro horas por dia. “Gosto do desafio, mas faço trapézio para mim. O público é uma consequência. Aliás, no trapézio, nao consigo ver ninguém”.

Foi assim, por exemplo, na apresentaçao que fez em Mauá, no ano passado, em comemoraçao ao Dia das Crianças. Segundo ela, cerca de 5 mil pessoas a assistiam, mas a emoçao deu lugar à concentraçao: “Quando subi no trapézio, esqueci que todos me olhavam, apesar de ouvir os aplausos. Você brinca com a sua vida, e se cair, morre. Entao, tem de estar certa do que está fazendo, e nao olhar para as pessoas”.

A vida no circo, a qual vem experimentando desde o início do ano, ainda é estranha para Raquel. Nas apresentaçoes, usa um decotado e minúsculo maiô brilhante para mostrar sua técnica no trapézio. Apesar disso, é severamente repreendida ao circular com a mesma roupa pelos arredores do circo, uma regra válida para todas as artistas. “Ao mesmo tempo que aparecem quase nuas no picadeiro, elas sao super-recatadas, porque nao podem nem falar pelos corredores. É muito esquisito.”




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