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Consórcio não acredita na UFABC
Luciana Sereno
Do Diário do Grande ABC
25/02/2005 | 14:15
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O presidente do Consórcio Intermunicipal e prefeito de São Bernardo, William Dib, afirmou quinta-feira que, diante da série de “contradições” que envolvem a instalação de uma universidade pública federal no Grande ABC, não acredita em sua viabilidade. Ele se queixa de não receber informações a res-peito dos rumos das discussões, e diz que a última informação oficial que recebeu é de que o projeto para a criação de uma unidade na região foi retirado do Congresso. Mas o que ocorre de fato é que o projeto ainda tramita na Câmara, embora sua retirada tenha sido anunciada quando o governo decidiu não mais criar uma universidade, mas trazer para o Grande ABC um campus da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), inclusive com transferência da reitoria para a região. Agora o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pediu mais tempo para analisar se quer uma nova universidade ou a extensão da Unifesp. O Consórcio só soube disso por meio das reportagens do Diário, muito embora na gestão anterior, presidida pela ex-prefeita de Ribeirão Pires, Maria Inês Soares, tenha participado dos debates.

“É impressionante anunciarem data para vestibular e contratação de professores para uma universidade que ainda não tem nome nem endereço”, diz Dib, que estranha o fato de o processo da suposta criação da universidade não seguir o percurso que ele entende como natural: terreno, verba para a cons-trução, definição dos cursos e do formato da instituição de ensino, datas para processo seletivo e aí sim, início das aulas. O Ministério da Educação chegou a anunciar que as aulas da UFABC começariam neste semestre. Mas o projeto ficou parado na Câmara, por conta de pressão de deputados da PFL, que exigiam a criação de uma universidade na Bahia e outra em Dourados (MS) como condição para apro-var uma instituição no berço do PT. Agora, o governo cedeu à bancada pefelista, anunciando as universidades pleiteadas, e o MEC anunciou seleção de pelo menos 2,5 mil professores, já com vistas às novas unidades. Quinhentos deles seriam para a universidade do ABC. “Professores para uma universidade fantasma, porque ainda não tem salas de aula.”

Mesmo distante das discussões que envolvem a UFABC ou similar, o consórcio pode colocar o assunto em pauta na próxima reunião, marcada para a segunda-feira, dia 7. “Se for de interesse do grupo, a UFABC entrará em discussão, mas sequer tenho o que levar para a mesa e apresentar. Vou levar as reportagens do Diário”, afirma Dib. Ele diz que não tem informações concretas sobre o projeto e conhece apenas o imbróglio de prazos não cumpridos.

As constantes “contradições”, como caracteriza o presidente do consórcio as notícias veiculadas sobre a universidade, põem cada vez mais distante a possibilidade de a UFABC vingar, segundo o prefeito Dib. Além disso, ele avalia que a formação técnica para a indústria é a principal demanda da educação no Grande ABC. Inicialmente, em funcionamento, a UFABC ministraria cursos de caráter social e humanas, como Filosofia e Pedagogia. “As indústrias não precisam deste tipo de profissional, mas sim de gente preparada para operar um torno. Temos demanda de cursos específicos para ganhar em eficiência e para isso não precisamos dar um salto que depende de grandes recursos como o da UFABC.” O vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional de Fabricantes de Veículos Automotores), Mauro Marcondes Machado, que quinta-feira esteve reunido com Dib,  tem a mesma opinião. “A região é o berço da indústria automobilística e, como empresário, posso afirmar que nas fábricas precisamos de pessoal altamente especializado. A universidade pública de que falam, na minha opinião, não tem lógica.”

Para sair do papel, o projeto da universidade custaria R$ 150 milhões. Hoje, apenas R$ 80 milhões estão garantidos pelo governo federal, orçamento que precisa ser esticado para atender os projetos de universidades no Recôncavo Baiano e na Gran-de Dourados (MS).

Afirmando não querer fazer críticas ao projeto da UFABC e se esquivando da possibilidade de se tornar peça chave para cobrar decisões federais , Dib afirma que a região precisa de projetos que fomentem a tecnologia e o desenvolvimento. “A proposta da UFABC não responde às necessidades regionais.”



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