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Bons teatros são atrações no circuito de SP
Mauro Fernando
Do Diário do Grande ABC
05/09/2003 | 19:43
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Suburbano Coração, de Naum Alves de Souza e Chico Buarque, Zoo Story, de Edward Albee, e Teresa D’Ávila, a Santa Descalça, de Fidelys Fraga, são três das estréias desta semana no circuito paulistano. Juntam-se a textos clássicos em cartaz como Antígona (Sófocles) e Otelo (William Shakespeare).

Se se somar, por exemplo, Perdoa-me por me Traíres (Nelson Rodrigues), O Homem com a Flor na Boca (Luigi Pirandello) e O Burguês Fidalgo (Molière), tem-se uma visão panorâmica da diversidade que marca o horizonte teatral paulistano. Autores brasileiros, modernos ou contemporâneos, convivem com a dramaturgia universal e atemporal. E há tanto produções dedicadas ao entretenimento puro quanto aquelas que se nutrem de acurado trabalho de pesquisa de linguagem.

Comédia musical dirigida por Charles Möeller, Suburbano Coração está no Teatro Cultura Artística (tel.: 3258-3616). A história revela a procura de Lovemar pelo grande amor. Passam por sua vida Frederico, Reverendo Cordeiro, Osíris e Amado. Amigas de Lovemar, Julinda e Trudes acompanham essa busca.

Cenário e figurinos, também assinados pelo diretor, expõem uma estética kitsch, calcada no exagero. Möeller guia a encenação na trilha do entretenimento descompromissado com o pensamento: “Não existe mais o tipo de teatro feito para mudar o mundo. O teatro político, de protesto, de contracultura, acabou há muito tempo e só existe em livros”.

Escrito em 1959, Zoo Story é o primeiro texto do autor de Quem tem Medo de Virginia Woolf?. O espetáculo dirigido por Olayr Coan fica no Teatro Ágora (tel.: 3284-0290) até o dia 28. Jerry e Peter se encontram numa praça. Dá-se, então, um confronto entre dois universos: um caótico e outro burguês e organizado.

“Jerry é um artista desajustado, que encontra obstáculos para se comunicar. Tem muita informação, uma inteligência extrema e uma percepção apurada das coisas, mas emocionalmente é um menino que se sente abandonado tentando um vínculo com o mundo. Peter é um jovem bem sucedido”, diz Coan.

Sob a direção de Luiz Arthur Nunes, Rita Elmôr atua no Centro Cultural São Paulo (tel.: 3277-3611) em Teresa D’Ávila, a Santa Descalça. A montagem toca em polêmicas como os êxtases que acometiam a santa como se fossem orgasmos e a perseguição que ela sofreu da Inquisição.

E vai além da questão religiosa. “Ela fala sobre a busca do mundo interior por meio da meditação. Quando tudo do lado de fora está péssimo, o contato com o interno revela a possibilidade da realização de muitas coisas. Quando você se percebe melhor como indivíduo, deixa de ser massa. Santa Teresa foi uma mulher de ação, realizou muitas coisas”, afirma Rita.

Antígona, com Os Satyros, e Otelo, com o Folias D’Arte, se escoram na pesquisa de linguagem. Antígona (no Espaço dos Satyros, tel.: 3258-6345) recebeu duas indicações para o Prêmio Shell e Otelo (no Galpão do Folias, tel.: 3361-2223), cinco.

Os dois grupos trouxeram as tragédias para a nossa época. Os Satyros discutem a relação Estado/cidadania por intermédio de um soberano indiferente a protestos, com um discurso que remete a George W. Bush. O Folias D’Arte trabalha com a relação império/colônia. A Veneza do texto original surge como uma Nova York na qual a elite se lixa para o povo.

Perdoa-me por me Traíres estréia neste sábado no Sesc Belenzinho (tel.: 6602-3700). A Cia. Luna Lunera, dirigida por Kalluh Araújo, defende o texto de Nelson Rodrigues. Baseado principalmente na exposição da fraqueza humana – as vísceras morais –, com as polaridades razão/desejo e sexo/morte contracenando furiosamente, o provocador universo rodrigueano passa longe da unanimidade.

O Homem com a Flor na Boca também inicia neste sábado temporada no Sesc Belenzinho. A peça é inspirada na obra de Luigi Pirandello, mestre na deflagração de conflitos relacionados às máscaras sociais, nos quais nem tudo é o que parece ser e a dissimulação é a principal arma. Sobre o tablado e sob a direção de Roberto Bacci: Cacá Carvalho.

Gênio da comédia, Molière bebeu na fonte da commedia dell’rte a fim de criar personagens inesquecíveis e ridicularizar aristocracia e burguesia. Como atira em poderosos de plantão, sua obra não se perde no tempo – o que também se deve à carpintaria teatral, ao mesmo tempo simples e sofisticada. Dirigida por Bete Dorgam, a Cia. do Miolo apresenta O Burguês Fidalgo, às terças, na praça da República, e às quintas, na praça da Sé.




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