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Sesc Sto.André apresenta A Cor do Revés
Everaldo Fioravante
Do Diário do Grande ABC
27/11/2002 | 20:23
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Negro, pobre, forte, religioso, esquizofrênico-paranóico, gênio. Arthur Bispo do Rosário, doente mental que ganhou status de artista plástico, é uma figura ímpar na história da arte brasileira. Embora nunca tenha considerado suas criações como arte – jamais aceitou um convite para expor – sua produção artística é respeitada internacionalmente.

Vida e obra de Bispo do Rosário são o tema do espetáculo de dança A Cor do Revés, cartaz desta quinta no Sesc Santo André, às 20h30, com entrada franca. O balé tem direção, coreografia e interpretação de Jadiel Alves. Além disso, a Editora Gráficos Burti escolheu como tema para o conceituado Calendário Burti do próximo ano a obra do artista.

Bispo do Rosário nasceu em Sergipe, em 1911. Em meados dos anos 20, mudou-se para o Rio, onde foi marinheiro, pugilista, lavador de bondes e borracheiro, entre outras atividades.

Num momento de alucinação, em dezembro de 1938, Bispo do Rosário viu Jesus Cristo acompanhado de sete anjos azuis. Logo foi internado no Hospital dos Alienados da Praia Vermelha, onde começou a bordar lençóis.

No ano seguinte, diagnosticado esquizofrênico-paranóico, foi transferido para a Colônia Juliano Moreira, em Jacarepaguá. Saiu do hospício em 1944, mas no decorrer dos anos 40 e 50 sofreu diversas outras internações.

Em 1960, arrumou emprego em uma clínica pediátrica, onde também morava e criava no sótão.

A Colônia Juliano Moreira voltou a ser sua casa em 1964. De lá, ele só sairia morto, vítima de infarto do miocárdio, em 1989. Na última década de vida, as portas do manicômio foram abertas para ele, mas Bispo não quis sair.

Foi no quarto-forte de cinco metros quadrados do Pavilhão Ulisses Viana onde viveu esses longos anos e produziu quase toda sua obra – sucata e sobras deram origem a centenas de objetos e miniaturas, assemblages e bordados, mantos e estandartes. As composições de Bispo aos poucos passaram a ocupar o corredor e outros quartos do pavilhão.

Em 1981, ele se apaixonou pela estagiária de psicologia Rosângela Maria Magalhães Gomy, cujo nome figura em sua obra em tecido.

Leitor voraz de textos bíblicos, Bispo do Rosário acreditava ser um emissário de Deus. Sua missão seria reunir objetos criados pelo homem para o dia do Juízo Final. Ele ouvia vozes que o instruíam a bordar mantos para serem usados no encontro com o Criador.

A primeira mostra individual do artista foi em 1989, na Escola de Artes Visuais do Parque Laje, no Rio. Em 1993, o Museu de Arte Moderna da mesma cidade realizou grande retrospectiva de sua obra. Em 1995, Bispo se consagrou no exterior, na Bienal de Veneza.

Sua obra foi destaque da Mostra do Redescobrimento Brasil + 500, em São Paulo, no ano 2000. E no final de 2001, parte da produção seguiu para o Museu Guggenheim de Nova York, nos Estados Unidos, batizada como Brazil: Body and Soul.

O Museu Bispo do Rosário, na Colônia Juliano Moreira, preserva hoje o conjunto de sua frenética produção, cerca de 1,1 mil obras.




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