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Luiz Sacilotto, a história de um mito da arte
Alessandro Soares
Do Diário do Grande ABC
10/02/2003 | 18:43
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Luiz Sacilotto (1924-2003) nasceu em Santo André, onde viveu até domingo passado. Durante 60 anos, reinventou o vazio e se tornou um dos mitos da arte nacional. Passou pelo figurativo, com naturezas-mortas e paisagens, depois pelo expressionismo. Finalmente se transformou no concreto dos concretos, pioneiro no país, nos anos 40. Manteve-se fiel a uma obra geométrica e modulada, em tela ou escultura, que cria ilusões de óptica estruturadas matematicamente. Claro, escuro, cheio, vazio, volumes e formas ganharam, com ele, novas perspectivas em cores puras, primárias e secundárias.

O início foi em 1952 com Sacilotto e Waldemar Cordeiro à frente de um grupo de artistas que lançou o manifesto fundador do Grupo Ruptura, em uma coletiva no MAM-SP (Museu de Arte Moderna). Ruptura significava romper contra a situação geral da arte acobertada pelas instituições e contra o conformismo teórico, pictórico e social.

A celeuma gerou o início do concretismo brasileiro, movimento tão renovador para a arte nacional quanto a Semana de Arte Moderna. O grupo lançou, nos anos 50, as bases de uma fase na qual não bastava copiar a natureza ou abstraí-la, mas criar imagens autônomas, sem modelos naturais.

Sacilotto rumou para a ruptura e para o concretismo como necessidade de expressão. Trabalhou como serralheiro e projetista de esquadrias, primeiro na Fichet, em Santo André, depois em serralheria própria. Antes, foi desenhista de letras, seu primeiro emprego nos anos 40, quando fontes tipográficas eram criadas à mão. Compôs letras para impressão de alta precisão de cartões de holerite da IBM. Da letra passou ao desenho da figura feminina e para a arquitetura.

Desenhando plantas para escritórios de Vilanova Artigas e outros arquitetos, descobriu o mundo dos grandes projetos e da grande arte. A distribuição dos elementos no espaço, a limpeza e vigor da composição e o estudo geométrico da superfície o empolgaram. O sentido bidimensional da planta de um edifício, para ele, era uma representação abstrata. Começou a ter contato com as experiências abstratas e cromáticas dos europeus Mondrian, Kandinsky e Max Bill, que fizeram-no inclinar-se à pintura não-figurativa em 1948 e abandonar o expressionismo. Seu último modelo figurativo foi sua mulher e musa Helena, em 1950.

Estreitou amizade com Waldemar Cordeiro, Lothar Charoux, Anatol Wladislaw e Geraldo de Barros, a gênese do Ruptura. Para eles, o abstracionismo estava superado, apesar do modernismo. A diferença do concretismo para a arte abstrata é que nesta podem ser tirados ou colocados elementos que não se destrói o quadro. Na concretista, tirar ou acrescentar um quadrado que seja elimina seu ordenamento rigoroso. Retirado da vida, Sacilotto deixa um vazio que em sua obra tem a mesma perspectiva que o cheio.




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