A fé e devoção dos romeiros em Juazeiro do Norte, a 521 km de Fortaleza, a capital do Ceará, prometem tomar conta da cidade a partir de amanhã, dia do aniversário da morte de padre Cícero (1844-1934) – se é que pode-se falar em morte para alguém que permanece tão vivo no imaginário popular. Embora Padim Ciço, como é conhecido, não tenha nascido no município, foi com ele que Juazeiro do Norte nasceu para o turismo e hoje chega a receber mais de 1 milhão de peregrinos por ano.

E não é por menos: lugares para turismo religioso são o que não faltam na cidade. Um bom ponto de partida para o turista que não conhece as histórias a fundo é o Memorial do Padre Cícero. Além de abrigar um auditório para conferências religiosas, o local possui biblioteca, fotos da época e um museu com objetos pessoais de padim.

Na mesma praça onde está situado o memorial, encontram-se a Casa dos Milagres e a capela de Nossa Senhora do Socorro, locais de parada obrigatória. O primeiro é um salão com centenas de ex-votos de pessoas que obtiveram graças por meio de padre Cícero. Fotos, documentos que atestam os poderes sobrenaturais do religioso e peças representando braços, pernas e muletas são algumas das preciosidades da casa.

A capela de Nossa Senhora do Socorro, por sua vez, é onde padre Cícero está sepultado, ao pé do altar. Todo dia 20 de cada mês, os devotos se reúnem no local, vestidos de preto, para uma missa em homenagem ao patriarca. Quando morreu, em 1934, o corpo foi levado para a igreja por mais de 80 mil pessoas em pranto, num caixão que mais parecia levitar sobre as cabeças, tamanha a quantidade de mãos que o conduziam.

Outra visita obrigatória para quem deseja percorrer os caminhos da fé é o Museu do Padre Cícero, com exposição permanente de objetos pessoais do sacerdote, como oratórios, imagens sacras, roupas, livros e quadros. Até a cama dele está lá, protegida por uma cerca, já que os devotos não hesitavam em deitar-se nela para serem abençoados.

Depois de inteirado das histórias de padim, o viajante pode iniciar a peregrinação propriamente dita indo à colina do Horto, um dos pontos mais freqüentados pelos fiéis. O caminho exige fé: são mais de 2 km a pé, entre trilhas da Mata do Horto. Mas o esforço é recompensado quando se chega à réplica nordestina do Santo Sepulcro de Jerusalém, criada por beatos e penitentes. A cruz de Cristo, a cripta e as estações da Via Sacra revelam crenças e símbolos de uma riqueza cultural incomparável.

Durante a Semana Santa, devotos de todas as partes do Brasil sobem a Ladeira do Horto para acompanhar os painéis que representam as passagens da Via Sacra. Os 7 km do trajeto servem de penitência para lembrar o sofrimento de Jesus que, a caminho do calvário, subiu o Horto das Oliveiras.

O local também conta com as Pedras dos Pecados, a Cacimba dos Milagres e diversas inscrições atribuídas a padre Cícero, além de museu e capela. Mas a atração mais esperada está no fim do percurso, onde encontra-se uma estátua de padre Cícero, com 25 m de altura. Lá, os fiéis se ajoelham emocionados, fazem pedidos e agradecem por graças alcançadas.

Emancipação – Além das homenagens prestadas a padre Cícero, a cidade de Juazeiro do Norte está com um motivo a mais para celebrar: no próximo domingo, dia 22, o município completa 90 anos de emancipação. Por isso, diversos eventos têm ocorrido desde o último dia 16, com palestras que resgatam a história política e religiosa de Juazeiro do Norte.

Neste sábado, um bolo com 90 m de comprimento será oferecido à população na praça do Socorro. Às 16h, grupos folclóricos farão exibições na praça do Memorial Padre Cícero, seguidos por apresentações de banda e coral.

E no dia 22, um grande desfile cívico-militar, composto por cerca de 1,5 mil pessoas, às 8h30, e uma apresentação de saltos dos pára-quedistas do Nordeste, às 15h, marcarão o término das homenagens à independência política de Juazeiro do Norte.

Arredores – A 22 km de Juazeiro do Norte fica a Chapada do Araripe, com 970 m de altura, que funciona como um paredão para as frentes frias que vêm do sul e para as massas de ar quente vindas do norte. Por isso, há uma grande incidência de chuvas e, conseqüentemente, de cachoeiras que esbanjam água em pleno sertão nordestino – ao todo, são 307 fontes.

A chapada também é um dos mais importantes sítios arqueológicos do Brasil. Há milhões de anos, a região foi coberta pelo mar. Com a seca, o solo agreste e de alta salinidade ajudou a preservar fósseis de animais e vegetais, hoje expostos no Museu de Paleontologia de Santana do Cariri. O acervo conta com cerca de 700 fósseis, alguns com mais de 100 milhões de anos.