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Sociólogo visita áreas contaminadas no Grande ABC
Raymundo de Oliveira
Do Diário do Grande ABC
03/10/2001 | 22:11
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  John Timmons Roberts, 40 anos, professor de sociologia norte-americano que dirige a área de Estudos Ambientais da Universidade William & Mary, no Estado da Virgínia, nos Estados Unidos, visitou nesta quarta áreas do Grande ABC contaminadas com produtos químicos. Ele afirmou que os problemas enfrentados pelos moradores em locais com contaminação não diferem muito dos apresentados em países desenvolvidos.

O professor veio à região a convite dos ecologistas José Contreras Castilho, do Gesta (Grupo Ecológico Salve o Tamanduateí), e Virgílio Farias, do MDV (Movimento em Defesa da Vida). Ele explicou as diferenças de tratamento do assunto aqui e nos países desenvolvidos. “A diferença é que nos Estados Unidos, por exemplo, há um fundo financeiro criado com verbas cobradas nos seguros das empresas com potencial de contaminação que serve para custear programas de atendimento às vítimas. E, nos casos graves, geralmente as remoções são feitas de forma mais rápida. A fiscalização por parte das agências ambientais e pelo governo também é mais eficiente nos países desenvolvidos”, afirmou.

Por outro lado, Roberts disse que a morosidade na recuperação das áreas contaminadas é equivalente à dos países de terceiro mundo. Segundo ele, em levantamento feito nos Estados Unidos, apenas 2 mil das 20 mil áreas existentes já foram recuperadas.

Roberts pesquisa os efeitos psicológicos sofridos pelas vítimas de locais contaminados por produtos químicos e prepara um livro sobre os locais contaminados na América Latina. Ele morou no Pará entre 1989 e 1990, quando pesquisou a urbanização de Carajás, tema de sua tese de doutorado no Instituto John Hopkins, em Baltimore. O professor já visitou outras áreas brasileiras contaminadas por produtos químicos e faz uma pesquisa sobre as inciativas de indústrias químicas no Brasil para melhorar as condições ambientais.

Segundo ele, entre as 649 empresas pesquisadas e que têm projetos ambientais, a maioria pertence a grandes grupos financeiros e são exportadoras para países desenvolvidos. Ele disse que, em boa parte dos casos, os programas de controle ambiental das empresas brasileiras são feitos para “inglês ver” e com interesse em evitar barreiras que possam prejudicar contratos de exportação.

O professor norte-americano disse que pesquisou um caso de contaminação de solo semelhante ao do condomínio Barão de Mauá, onde cerca de 6 mil pessoas moram em apartamentos construídos em uma área usada anteriormente como depósito de lixo industrial. Cerca de 500 pessoas em New Orleans, nos Estados Unidos, moram em um local que foi utilizado como lixão.

O caso completou uma década e, até agora, o que os moradores conseguiram foi a retirada de parte do solo e a colocação de uma camada plástica no local, para isolamento.

Roberts disse nunca ter visitado uma área contaminada com tantos moradores como no Barão de Mauá. Ele também visitou a antiga fábrica Matarazzo, em São Caetano, que utilizava BHC e cloro no seu processo produtivo; um terreno na Vila Metalúrgica, em Santo André, que era usado como depósito de terra contaminada por produtos químicos; a fábrica da Rhodia, em Santo André; o lixão do Alvarenga, na divisa entre São Bernardo e Diadema; e partes da represa Billings.

O norte-americano disse que vai fazer uma análise do que viu na região e divulgar os resultados pela Internet entre ONGs (Organizações Não-Governamentais) e universidades. Roberts afirmou que possui um cadastro com 1,1 mil endereços eletrônicos.

colaborou Márcia Pinna Raspanti




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