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Público do cinema nacional cresceu em 1999
Do Diário do Grande ABC
18/12/1999 | 18:19
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Um dos piores anos do cinema brasileiro foi também um dos melhores. Em meio à recessao e à desconfiança em projetos que espantaram os investidores, o que chegou às telas seduziu 4,5 milhoes de pessoas. O público em 1997 nao passou de 2,5 milhoes. Chegou a 3,6 milhoes no ano passado. De lá para cá, cresceu mais 20% segundo dados da Filme B, empresa de assessoria cinematográfica.

O recordista de público foi Simao, o fantasma trapalhao, de Renato Aragao, visto por 1,3 milhao de pessoas só este ano. Orfeu, de Cacá Diegues, emplacou o segundo lugar atraindo 961.961 espectadores até a semana passada. Zoando na TV, com a apresentadora Angélica, foi visto por 911.394 pessoas e abocanhou o terceiro lugar. Central do Brasil, de Walter Moreira Salles Júnior, lançado em abril do ano passado, só em 1999 arrebatou mais 403.016 pessoas. Mauá - O imperador e o rei, de Sérgio Rezende, levou quase 200 mil espectadores aos cinemas.

Todos juntos nao dao um Sexto Sentido, filme de Hollywood, com Bruce Willis. Os números entusiasmaram os técnicos do governo encarregados de fomentar a trôpega indústria cinematográfica nacional. 'Nem tudo é notícia ruim no cinema brasileiro``, comemora José Alvaro Moisés, da Secretaria de Audiovisual do Ministério da Cultura.

A onda otimista foi saudada com pelo menos duas providências costuradas para dar algum fôlego ao setor. A primeira foi a liberaçao de R$ 22 milhoes do programa Mais Cinema, um fundo de R$ 80 milhoes gerido pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social, para 30 projetos - 28 destinados à produçao, distribuiçao e comercializaçao de filmes e documentários e dois para a construçao e reforma de salas de cinema. A outra é o convênio que será firmado nesta terça-feira entre o Ministério da Cultura e a RioFilme destinando R$ 1,6 milhao para a empresa municipal de distribuiçao investir no lançamento e na confecçao de mais cópias de 18 produçoes.

'Com a primeira medida o governo acena para o mercado que pretende continuar investindo no cinema nacional. Com a segunda, aposta num projeto piloto para atacar um dos gargalos da indústria: a distribuiçao``, diz José Alvaro Moisés.

A taxas de juros de 17% a 20% ao ano, os financiamentos do Mais Cinema correm o risco de morrer nos cofres do BNDES. Os produtores estao temerosos de lançar mao dos recursos que oscilam tanto quanto o setor. O menor é de R$ 94 mil e vai servir para a realizaçao de um documentário sobre Abrolhos. Os mais altos chegam a R$ 1,5 milhao. É o que está reservado tanto para o debochado Aurélia Schwarzenêga, uma crônica social recheada com os clichês dos filmes de pancadaria estrelados por Arnold Schwarzenneger, como para O amor e outros objetos pontiagudos, próximo filme de Beto Brant, baseado em conto de Marçal Aquino.

'Entrei só para ver como funciona o programa``, diz Bruno Strolpiana, da produtora Sky Light, que assegurou um crédito de R$ 500 mil para a finalizaçao de Estorvo, adaptado do livro de Chico Buarque, e de R$ 625 mil para acabar O Xangô de Baker Street, baseado na obra de Jô Soares.

'Pretendo usar o financiamento apenas como garantia para a captaçao de R$ 3 milhoes autorizada pelas leis de audiovisual``, afirma Leilane Fernandes, diretora de Maria Moura, versao cinematográfica de Memorial de Maria Moura, de Rachel de Queiroz, que ela começa a filmar em abril. 'Só vamos pegar o financiamento se houver contrapartida nas leis de incentivos fiscais``, diz Sara Silveira, da Dezenove Som e Imagens Produçoes, que toca a parte operacional de Aurélia Schwarzenêga.

'Nao sei mais até onde é capaz de chegar o cinema brasileiro``, desconsola-se Paulo Sérgio de Almeida. Dono da Filme B, Paulo Sérgio foi diretor de obras como Banana Split e Sonho de verao. Há dois anos criou a empresa de consultoria e passou a se afogar em números. Entre suas preocupaçoes está uma pesquisa encomendada pelo Ministério da Cultura sobre o desempenho da Lei do Audiovisual. É do alto dessa experiência que ele arrisca um prognóstico: 'O número de interessados no financiamento surpreende, mas metade nao vai pegar o dinheiro por causa dos juros``, diz Paulo Sérgio. 'O convênio com a RioFilme é bom porque ataca um dos pontos fracos da indústria, a distribuiçao, mas nao sei se esta é a hora certa para lançar um programa como esse". Segundo ele, o cinema brasileiro sobrevive na intuiçao.

Sem nenhum planejamento, ele deve atrair público ainda maior no ano que vem. Castelo Rá-Tim-Bum, de Cao Hamburguer, que custou o equivalente a R$ 7,5 milhoes, e O Trapalhao e a luz azul, novo longa de Renato Aragao, aliados a títulos chamativos como Estorvo, O Xangô de Baker Street e Amélia, o novo filme de Ana Carolina depois de anos de retiro, podem garantir a fatura. É o milagre.




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