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Calouros quarentões invadem universidades
Renata Gonçalez
Do Diário do Grande ABC
28/10/2003 | 21:54
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Ao prestar vestibular para o curso de Teologia, no final do ano passado, a professora aposentada Maria Ignez de Figueiredo, 64 anos, de São Bernardo, queria realizar o antigo sonho de fazer uma faculdade, adiado para “um dia, talvez” quando se casou, em 1957. Sua decisão contribuiu para engrossar a estatística de estudantes com mais de 40 anos matriculados em cursos de nível superior. Segundo o censo de 2002 do MEC (Ministério da Educação), eles representam 6,4% dos universitários do país.

A conquista da caloura (ou bixete, na gíria dos universitários) foi muito comemorada entre os netos, alguns na faixa dos 20 anos. “Tem uma que vai se formar em Jornalismo no ano que vem”, conta Maria Ignez, que em dezembro conclui o segundo semestre de Teologia da Umesp (Universidade Metodista de São Paulo), do qual é a aluna mais velha. Como pretende se especializar na história da religião católica, a aposentada também matriculou-se no Instituto Teológico da Diocese de Santo André, entidade que tenta obter o reconhecimento do MEC.

Há também quem entra na faculdade depois dos 40 em busca de qualificação profissional. É o caso de Celso Cicarelli, 43 anos, que cursa o segundo ano de Administração em Negócios Internacionais na Escola Superior de Administração e Gestão Strong/FGV, de Santo André.

Desempregado desde 1998, quando a empresa da família encerrou suas atividades, Cicarelli resolveu estudar Administração para não repetir os erros do passado. Ele conta que a idéia era cursar Administração; depois, especialização em logística. Mas os horizontes se abriram, e o estudante já tem outros planos. “Agora tenho vontade de fazer mestrado e desenvolver uma pesquisa científica, cujo tema ainda vou definir”.

Por motivos semelhantes, o instrutor de treinamento da Metra Sistema de Transportes Metropolitanos Antônio Lázaro de Barros, 53 anos, de São Bernardo, vai prestar vestibular para Administração de Empresas ainda neste ano. “O objetivo maior é me posicionar melhor no emprego”, afirma.

Com vasta experiência no ramo de transportes, no qual atua há mais de 20 anos, Barros acredita que o diploma pode lhe abrir portas. “Tenho experiência técnica no que faço, mas sinto que tenho de me estruturar melhor na minha área, que está ligada a Recursos Humanos”, afirma o instrutor. Ele ainda não definiu em qual faculdade irá se inscrever.

Incentivo – Prestes a concluir o quinto e último ano de Direito, o deputado federal Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho (PT-SP), 47 anos, foi um exemplo notório de gente que decidiu encarar o vestibular depois dos 40. “Foi emocionante meu primeiro dia de aula, quando o professor nos perguntou se tínhamos noção de que compunhamos menos de 2% da população brasileira”, conta o deputado.

O deputado diz ainda que logo que divulgou que prestaria vestibular, em 1998, recebeu muitas cartas. “Muitos me escreviam dizendo que eu os incentivei a voltar a estudar, ou que usavam meu exemplo para chamar a atenção dos filhos sobre os estudos”.




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