Leandro Lehart, um dos maiores arrecadadores de direitos autorais do país, era o que mais amostras de competência dava, apesar de também ter contribuído para a sucateação do gênero com bobagens como Pagode da Amarelinha e Pimpolho. Tais concessões ao mercado, no entanto, se diferenciam muito de Solo (Virgin, R$ 22 em média), primeiro álbum do cantor e compositor sem a companhia do Art Popular.
A sofisticação das canções incluídas no projeto saltam aos ouvidos. Ao se aproximar da soul music, Lehart mostrou dotes que até então não eram perceptíveis quando inseridos no universo pop-samba. Mesmo o emprego de instrumentos de cordas – uma tarefa arriscada, que normalmente resulta num tom falso chique e pasteurizado, como ocorreu com o Acústico MTV Art Popular – se mostrou uma bem-vinda iniciativa.
Solo não é, no entanto, um disco complicado ou destinado a um público seleto. Este é um de seus maiores méritos: aliar qualidade, letras simples, nada pretensiosas, arranjos bem bolados e uma interpretação emocionada, qualidades indispensáveis em qualquer bom álbum de soul.
O músico surpreende ao dar uma roupagem a canções que até então nada tinham a ver com o gênero no qual agora trafega. Um exemplo é Esquenta Barracão, do grupo Sheik Tosado. Nas mãos de Lehart, a música nada lembra o hardcore gravado pelos jovens pernambucanos. Mas as canções mais surpreendentes são as do cantor, como Olhos, Pensamento e Desamarrou.
Ao mesmo tempo em que Solo é uma espécie de redenção, também é um trabalho que traz certezas (a capacidade de Lehart) e indagações (por que ele está fazendo isso apenas agora? O que esperar dos próximos trabalhos do músico como pagodeiro?). O chavão “o tempo dirá” é, por enquanto, a melhor resposta para esses enigmas.
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