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Vida é precária onde não há coleta de esgoto

Convívio com ratos, risco de doenças e mau cheiro são rotina

Cadu Proieti
Diário do Grande ABC
16/04/2012 | 07:00
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A vida de quem mora em regiões onde a coleta de esgoto é inexistente não é nada fácil. A equipe do Diário visitou alguns bairros da região em que o saneamento básico é precário e flagrou os problemas enfrentados pelos munícipes. A maioria das pessoas nunca viveu em local que disponha do serviço. O cheiro ruim, risco de doença e a presença de ratos são comum no cotidiano destas pessoas.

"Nasci aqui e sempre foi assim. O esgoto fica a céu aberto. Existem muitos ratos e até cobra aparece dentro de casa. Temos medo de pegar alguma doença", relatou o ajudante geral João Paulo Batista dos Santos, 31 anos, que mora na Vila Pelé, região do Riacho Grande, em São Bernardo.

Os dejetos de algumas casas são jogados direto em um córrego, que vai para a Represa Billings. Operários da Sabesp (Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental) trabalham no local para colocação de rede coletora. Porém, Santos pretende esperar a finalização dos trabalhos para ficar tranquilo. "Estão mexendo, mas não sei o que vão fazer. Estou aqui há tanto tempo, que só acredito quando tiver algo pronto. Todo ano de eleição fazem promessas, mas a situação nunca muda", disse.

No Sítio Joaninha, em Diadema, a situação é semelhante. "Aqui nunca teve coleta de esgoto. Vai tudo para dentro do córrego, nem temos o que fazer. Moro aqui há 20 anos e nunca vi melhorias. Só promessas", relatou o aposentado Miraldo Lima da Silva, 75 anos.

Para a dona de casa Adelaine dos Santos Lima, 34, que também mora no bairro à beira de um córrego, a preocupação é ainda maior: os filhos. "É um grande problema para a gente. Já teve criança que caiu nesta água suja e ficou doente. Sempre tem meninos e meninas brincando perto. Muito perigoso", afirmou.

Adelaine disse que em tempos de chuvas fortes a situação é ainda pior. "É horrível. Esta água de esgoto entra dentro de casa. Não temos o que fazer."

Segundo o infectologista Hélio Vasconcellos, o contato com águas poluídas por esgoto pode causar diarreia, cólera, leptospirose e doenças da pele. "A falta de saneamento é um grande problema a ser enfrentado pelos governantes", relatou o médico.

Em Mauá, no Jardim Oratório, os moradores estão cansados de conviver ao lado da sujeira. "Todo o esgoto vai para o córrego. É muito ruim. Nunca vi alguma coisa melhorar", afirmou Abílio Fernandes da Silva, 73 anos, aposentado.

A Vila Homero Thon, em Santo André, foi outro bairro visitado pela equipe do Diário. No local, as residências despejam dejetos diretamente no córrego Cassaquera, que desagua no Rio Tamanduateí. "Nunca teve coleta aqui. Sem querer, a gente acaba poluindo", declarou a dona de casa Eliane de Jesus, 32. "Quando está muito calor ou tempo úmido, o cheiro é insuportável. A gente fecha portas e janelas, mas mesmo assim o odor não sai", explicou a moradora.

A professora de ciências sociais da Fundação Santo André Terezinha Ferrari comentou a vulnerabilidade social em que vive estas pessoas. "Isso gera péssima qualidade de vida aos moradores destas áreas. O sistema de coleta de esgoto existe há cerca de 100 anos e se ainda não atingimos universalização, significa que estamos atrasados. O poder público deveria focar mais em investimentos que influenciem na vida dos munícipes", disse.




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