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Mostra resgata laços culturais entre Brasil e Africa
Do Diário do Grande ABC
13/03/2000 | 16:19
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O Zimbábue ganhou nesta segunda-feira a exposiçao "Brasil Terra e Gente - 500 Anos do Descobrimento", que estará em cartaz na capital do país, Harare, até o fim do mês. Mas o que o Zimbábue tem a ver com a data? Na opiniao da publicitária Dirce Carrion, idealizadora e curadora da mostra, tem muito, tanto ou mais que Portugal.

Para ela, muito tem sido organizado em comemoraçao aos 500 anos do Brasil mas nenhum evento enfoca com a merecida fidelidade a profunda ligaçao entre a Africa e o Brasil. "Estamos nos esquecendo de que, no mínimo, 70% do nosso povo é de origem africana", comenta Dirce. "A herança cultural que os africanos nos deixaram é forte demais para ser esquecida".

Na verdade, ela só se deu conta disso em uma viagem que fez pelo Zimbábue no ano passado. "Foi viajando pelo país que fui descobrindo pequenas semelhanças que me lembravam muito o Brasil", conta a publicitária. "Os hábitos do povo, as feiçoes a música e a geografia me fizeram perceber que a influência africana está mais presente do que pensamos na nossa história", reflete. Em sua opiniao, nada melhor do que resgatar esses laços para comemorar e fazer justiça a quem sempre esteve em segundo plano na história oficial".

Foi pensando nisso que Dirce decidiu convidar 18 fotógrafos brasileiros para expor suas fotos sobre o tema Brasil e Africa. Trabalhando em sua agência fotográfica, ela pôde descobrir muitos trabalhos que se encaixavam no perfil de sua idéia e conhecer vários profissionais. "Daí em diante, contatei todos e contei com a boa vontade deles em ceder as fotos", lembra. Entre as 60 fotos coloridas e quatro em preto-e-branco que estarao expostas, há trabalhos de Gal Oppido, Araquém Alcântara, Ricardo Teles, Márcia Alves, Adriana Zhebrauskas e vários outros.

Para contar um pouco da história brasileira, Dirce selecionou 48 fotos que primeiramente vao traçar um panorama diversificado da vida no País, abrangendo meio ambiente, gente e cultura, economia e trabalho e aspectos do Brasil urbano. Cada tema será abordado em uma das seis salas que compoem a exposiçao. "Cada sala conterá pequenos textos explicativos e legendas para as fotos, mas a linguagem mais importante ainda será a visual", explica Dirce.

Na sala dedicada ao tema "Gente e Cultura", foram reunidas fotos que enfocam a miscigenaçao do povo brasileiro. "Há fotos de alemaes, japoneses, índios e vários outros". Para ela, o povo africano também é racista e fazer com que ele veja a mistura de raças do Brasil os ajuda a mudar essa atitude. A parte mais curiosa fica por conta da segunda etapa, na qual as semelhanças entre Brasil e Africa estao retratadas em 26 painéis. As imagens comuns entre os dois continentes traçam um verdadeiro paralelo. Imagens do semi-árido brasileiro serao dispostas ao lado das paisagens das savanas africanas, por exemplo. "Retratos dos habitantes das aldeias irao compor com rostos brasileiros", observa Dirce.

Encaixe geográfico - Para ilustrar ainda mais esses laços, mapas dos continentes brasileiro e africano serao dispostos e ilustrarao até o "encaixe geográfico" que apresentam. "Se repararmos no contorno, veremos que um dia América e Africa foram um só; isso é muito representativo", comenta Dirce.

A exposiçao faz parte do calendário das comemoraçoes oficiais dos 500 Anos e sua próxima parada será a Africa do Sul, onde deve ficar até outubro. Depois, irá itinerar por vários outros países antes de retornar ao Brasil, onde os trabalhos devem ser expostos em Brasília e Sao Paulo.

Para facilitar a pesquisa de quem interessar-se em conhecer melhor a vida brasileira, Dirce vai doar livros sobre o Brasil para cada lugar que abrigar a exposiçao. "Vou fazer contato com vários países e levar a mostra para onde me chamarem", conta. A entrada também será gratuita em todas as mostras. Para que isso se torne possível, ela vai contar com o apoio das embaixadas brasileiras dos países africanos por que passar.

"Já tenho o apoio do Ministério das Relaçoes Exteriores do Brasil e de várias empresas", conta. "Quero que todos tenham acesso à exposiçao porque o africano merece conhecer melhor nosso país".




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