Economia Titulo
Porcelana de Mauá sobrevive com especializaçao
Fabiana Cotrim
Da Redaçao
14/10/2000 | 16:32
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A indústria de porcelana de Mauá, que viveu seu apogeu nas décadas de 60 e 70, tem sobrevivido à custa de produçao especializada e, ultimamente, beneficiada pela alta do dólar e a conseqüente reduçao da importaçao. Das 20 empresas existentes no município há 40 anos, restaram seis, das quais metade faz apenas a decoraçao das porcelanas ou distribui os produtos fabricados em outros Estados. A produçao ainda existente atende ao mercado técnico (componentes para a indústria eletrônica, por exemplo), e o de peças produzidas com técnicas especiais desenvolvidas pelas famílias proprietárias.

Segundo empresários e trabalhadores da área, este ano o setor tem mostrado uma pequena recuperaçao. Ao contrário dos outros anos, quando a produçao se mantinha em queda, em 2000 as indústrias estao encontrando a estabilidade. O mesmo quadro é observado no número de funcionários. "Até o ano passado, fazíamos entre 500 e 600 rescisoes ao ano. Neste, ainda nao houve fechamento de vagas. Quem deixou o setor foi substituído", disse o presidente do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Cerâmica, de Louças, Pó de Pedra, Porcelana e da Louça de Barro de Mauá, Antônio Fortunato Batista. Em Mauá, hoje, sao apenas 1,8 mil pessoas trabalhando no setor, ante 15 mil nos melhores anos dessas indústrias, disse o presidente.

A Porcelana Mizuno sobrevive no mercado devido às técnicas japonesas empregadas na produçao. De acordo com o proprietário, Hajime Mizuno, atualmente a procura por produtos orientais tem aumentado, elevando a produçao da indústria. "Além da procura mais forte por artigos orientais, a alta do dólar e conseqüente diminuiçao da concorrência com os importados está nos dando um pouco de mais fôlego."

Na Porcelana Chiarotti, segundo o consultor da empresa, Hugo Sufferdini, a produçao se mantém constante devido ao tipo de artefatos. "Produzimos porcelana técnica e sob encomenda." O que beneficia a empresa, destacou, é que os produtos desse segmento que sao importados têm pouca qualidade e nao atendem às especificaçoes exigidas pelo mercado.

Na Porcelana Kojima, a sobrevivência foi conseguida devido ao trabalho em família. "Produzimos porcelana típica japonesa. Nos últimos anos, com a entrada de importados e concorrência com os produtos de vidro e plásticos, tivemos uma grande retraçao. Mas, neste ano, a situaçao está revertendo, os grandes restaurantes voltaram a utilizar porcelanas", disse o proprietário, Yasuchi Kojima. Além destas, Mauá conta ainda com as indústrias de porcelana Rex e Schmidt, que nao forneceram informaçoes ao Diário, e Paulo Fukasawa, que está produzindo apenas produtos cerâmicos.

Matéria-prima - A queda do setor, segundo a diretora da Casa da Cultura de Mauá - que mantém uma área voltada à história da porcelana -, Sílvia Ahlers, deu-se pela falta de matéria-prima, a argila. Para Sufferdini, que é ex-diretor da Porcelana Schmidt, além da falta de argila, as indústrias, a maioria de gestao familiar, nao conseguiram se manter e fecharam as portas após crises financeiras. "Nenhuma empresa se transferiu de Mauá. Elas realmente faliram." Para ele, a escassez de matéria-prima nao foi o principal problema, pois a argila é facilmente encontrada em Suzano, Mogi das Cruzes e Sao Simao, locais relativamente próximos de Mauá.

A concorrência com produtos fabricados por outros materiais, principalmente plástico e vidro, também contribuiu para o declínio da indústria. "As técnicas para produçao sao mais caras, apesar de nao exigir altos investimentos dos empresários, o custo produtivo é mais alto", disse Batista.

A indústria de porcelana recolhe atualmente de Imposto sobre a Circulaçao de Mercadorias e Serviços (ICMS) cerca de R$ 80 mil por mês, conforme dados apresentados pelo secretário de Desenvolvimento Econômico e Social de Mauá, Paulo Eugênio Pereira Júnior. A principal fonte de arrecadaçao do município, as empresas do Pólo Petroquímico de Capuava, deixam todo mês nos cofres do Tesouro estadual por volta de R$ 2,5 milhoes. Para quem nao sabe, as petroquímicas sao produtoras de matérias-primas para a indústria do plástico.




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