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1º de abril 30 anos
Ademir Médici
Do Diário do Grande ABC
01/04/2010 | 07:17
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Há 30 anos, a partir da 0h hora de 1º de abril de 1980, os metalúrgicos do Grande ABC iniciavam aquela que seria conhecida como "a greve dos 41 dias". Foi a terceira grande manifestação do operariado local - antecedida pela greve da Scania de 1978 e da primeira greve geral de 1979. Das três, a de 1980 foi a mais politizada, hoje citada como passo decisivo no questionamento do regime militar.

Em 1980, além das questões econômicas em jogo - como a denúncia da manipulação pelo governo dos índices inflacionários para o reajuste salarial - os trabalhadores lançavam palavras de ordem contra a ditadura militar. Esta prometia a abertura no discurso do último dos generais à frente da República, João Baptista Figueiredo.

A greve dos 41 dias teve outros lances que ficaram marcados, como os voos rasantes de helicópteros do Exército sobre as cabeças dos trabalhadores no Estádio de Vila Euclides, a ocupação por soldados do Largo da Matriz da Boa Viagem, a organização do Fundo de Greve com o nome de Associação Beneficente e Cultural e a maior passeata de trabalhadores já feita num 1º de maio.

No Dia do Trabalhador de 1980, a passeata teve início na Matriz, a mais de três quilômetros do Estádio da Vila Euclides. Os trabalhadores desceram a Rua Marechal Deodoro, dobraram a Praça Samuel Sabatini onde está o Paço Municipal e quando os primeiros chegavam às portas do estádio, ainda havia manifestantes saindo do Largo da Matriz. Uma passeata puxada pelas mulheres dos líderes presos.

Detalhe: desde 21 de abril estavam proibidas as manifestações públicas na Vila Euclides e no Paço Municipal. Mas aqueles 100 mil trabalhadores em passeata conquistaram no grito o direito de, uma vez mais, reunirem-se num estádio com propósito triplo: celebrar o seu dia, pedir a soltura dos líderes presos e discutir os rumos de uma greve que alcançava o seu primeiro mês.

A greve dos 41 dias marcou a prisão de Lula, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo e Diadema, e das demais lideranças sindicais. O momento mais comovente foi a exceção para que Lula deixasse o Dops (Departamento de Ordem Política e Social) para acompanhar o sepultamento da mãe no Cemitério de Vila Paulicéia.

A greve dos 41 dias também destacou de vez a cobertura jornalística do Diário do Grande ABC. Desde as primeiras reuniões preparatórias, ainda em 1979, durante a paralisação e nos dias posteriores ao encerramento da greve, em 11 de maio, a equipe do jornal esteve no local dos acontecimentos e produziu uma média de 100 fotografias diárias sobre o movimento, a maioria ainda inédita, guardada em forma de negativos em preto-e-branco no banco de dados do jornal, todas devidamente datadas e com os nomes dos repórteres e fotógrafos.

Ou seja: vários foram os veículos que cobriram a greve geral de 1980, inclusive as equipes de comunicação dos próprios sindicatos. Mas a organização do arquivo das imagens feita pelo Diário, com a catalogação na época dos acontecimentos de todos os negativos, e a quantidade de cliques disparados, hoje é o termômetro mais seguro para o acompanhamento diário do que foi também aquela manifestação.

Trinta anos depois, nossa missão é eleger as imagens mais significativas de cada um dos 41 dias de greve, revivendo aquela que pode ser apontada como a mais exaustiva das coberturas jornalísticas da história deste Diário. É o que se verá a partir de amanhã na página diária de Memória.

Fotógrafo cruza com Lula a caminho do cemitério

Natural de Taiaçupeba, distrito de Mogi das Cruzes, nascido em 13 de fevereiro de 1957, Alberto Murayama iniciou na fotografia em 1972, com fotos comerciais. Ingressa no Diário em 1975 e permanece no jornal até 1993, quando, em sociedade com dois outros fotógrafos da empresa - Reinaldo Martins e Mauricio Pavan - abre o estúdio ABC Imagem.

LEMBRANÇAS - "As greves dos metalúrgicos abriram o Grande ABC às grandes coberturas jornalísticas nacionais e internacionais. Estávamos no meio do fogo cruzado realizando uma cobertura histórica, talvez sem consciência ainda disso. As fotos que fazíamos eram requisitadas por jornais e revistas dos mais distantes pontos do Brasil e do Exterior. Uma cobertura comovente foi o enterro da mãe do Lula. De repente encontro com a comitiva que levava o Lula ao cemitério. Fui atrás. Fiz muitas imagens. Era adrenalina pura", conta.AM

Depois viriam: as Centrais, a abertura, a nova Constituição...

O cenário econômico de 1980 mostrava o agravamento da crise do petróleo, com reflexos diretos no aumento do desemprego e da inflação. Caminhava-se para a hiperinflação.

Nas montadoras do Grande ABC a automação era implementada. Mesmo assim, o número de metalúrgicos superava os 200 mil. A "greve dos 41 dias" não resolveu os problemas dos trabalhadores. A volta ao trabalho ocorreu depois de muita repressão.

Foi necessária a reorganização tanto do sindicalismo como da classe empresarial. A Constituição de 1988 garantiu o direito de greve e a livre negociação trabalhista, o que não impediu a diminuição no número de empregos.

Turbulências sucederam-se. A temida hiperinflação chegou em 1983: 239% ao ano. Foi preciso gritar muito por eleições diretas. De 1986 a 1994, muitos planos econômicos.

A posse de Sarney com a morte de Tancredo, a vitória e impeachment de Collor, a fase Itamar, as eleições seguidas de FHC e Lula. A construção de nova democracia com todas as suas idas e vindas, um novo sindicalismo.

A maioria das lideranças sindicais das primeiras greves aposentou-se. As novas lideranças adotam posturas mais light e condizentes com os tempos modernos.




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