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Um mês depois, à
espera de Oswaldo
Renan Fonseca
Do Diário do Grande ABC
04/02/2011 | 07:36
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O auxiliar de limpeza Edson Edmilson da Silva Lima, 38 anos, teve de contar com o amparo dos amigos e familiares para refazer a vida nos últimos 30 dias. No dia 4 de janeiro, um deslizamento de terra no morro do Macuco, em Mauá, matou a mulher e o filho de 11 anos. Nada sobrou da casa que demorou 17 anos para comprar. Além da tristeza, resta uma dúvida para Lima: por que o prefeito Oswaldo Dias não achou necessário comparecer ao local do acidente durante o resgate? Para o pai, a resposta é única. "Isso não aconteceu com a família dele. Tive de colocar minha mão na lama para tentar salvar minha família, e o prefeito não quis sujar os sapatos de barro naquele dia", desabafou.

Hoje, Lima mora com a irmã, no Jardim Zaíra 6, próximo ao antigo lar. A casa de dois cômodos abriga os quatro sobrinhos, irmã e cunhado. O chão virou cama. A filha Tainara, 13 anos, está em São Caetano, na casa de conhecidos. "Ela sofre calada. A gente percebe. Vai ser duro criar minha filha sem a mãe."

Oito dias após o enterro, um alagamento invadiu a residência da irmã, e Lima novamente pressentiu a morte. "O nível da água chegou ao meu peito. Coloquei meus sobrinhos nas costas e nadei para sair de casa. Quase passo por mais uma tragédia", relembrou. Mais uma vez, os amigos e vizinhos fizeram o papel do poder público. "A Prefeitura deu um colchão fino. Mas aqui somos sete pessoas. As pessoas aqui perto que deram cesta básica", disse.

Depois do susto, uma ajuda maior apareceu. Ele foi readmitido na empresa que trabalhava. Na semana passada, Tainara foi levada ao Hospital Radamés Nardini para retirar os pontos de um dos ferimentos que teve no dia do acidente. O pai conta que achou estranho quando o médico pediu novo raio X. "O pezinho dela estava inchado. Mas o doutor falou que não era nada". Nesta semana, a menina foi encaminhada para o Hospital Municipal de São Caetano. Lá, Lima percebeu que mais uma vez não pode contar com o serviço público de Mauá. "Minha menina estava com o osso deslocado. O médico ficou assustado e agora ela vai ter de fazer fisioterapia", explicou.

Nesses últimos 30 dias, o auxiliar de limpeza recebeu uma vez apenas a visita de assistentes sociais da Prefeitura. "Isso aconteceu antes da enchente. Depois, não apareceram mais". Depois de tanto brigar na Prefeitura, o pai agora tenta dormir com a promessa de um novo lar, no Itapark. "Vamos ver se vão cumprir com o que falaram", criticou.

ANIVERSÁRIO
No dia 14 de maio Tauã completaria 12 anos. No dia 31, Tainara faz 14. A família costumava fazer uma festa para os dois. A tradição mudou. "Eu ia fazer um bolinho para minha filha, chamar os amiguinhos. Mas ela implorou para não fazer nada para não lembrar que o irmão morreu."

Lima morou em São Caetano por quatro anos. Retornar à cidade era um dos planos que fazia com a companheira. "Nos estávamos poupando dinheiro para voltar. Eu não sabia que no morro podia acontecer aquele acidente. Mas em São Caetano a estrutura é melhor para minha família."




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