Um levantamento feito pelo Incor (Instituto do Coração do Hospital das Clínicas de São Paulo) revela que a grande maioria dos fumantes quer abandonar o vício, mas não sabe como. Das 1.825 pessoas que participaram da pesquisa, 67% declararam querer parar de fumar, contra 7% que afirmaram que não. Trinta por cento dos entrevistados demonstraram vontade ainda maior, ao afirmarem que largariam o cigarro imediatamente. Para marcar nesta terça o Dia Mundial sem Tabaco, entidades médicas e ONGs (Organizações Não-Governamentais) de prevenção e combate ao câncer promovem, às 11h, na avenida Paulista, em São Paulo, a 1ª Caminhada contra o Tabaco e pela Vida. O ponto de partida é o vão livre do Masp (Museu de Arte de São Paulo).
Para o pneumologista da Faculdade de Medicina da Fundação ABC Adriano Guazzelli, também coordenador do Grupo de Apoio ao Tabagista do Hospital Estadual Mário Covas, de Santo André, a dificuldade em parar de fumar está no grau de envolvimento emocional que o fumante estabelece com o cigarro.
“A dependência química é controlada com medicamentos que diminuem a crise de abstinência de nicotina”, explica o médico. “Já o hábito de fumar está mais ligado ao comportamento do fumante. Só abandona o vício quem enxerga em si mesmo essa relação emocional com o cigarro.”
Com base na entrevista feita com pacientes encaminhados para o ambulatório, o médico em parceria com uma psicóloga avaliam os motivos pelos quais as pessoas alegam não conseguir parar de fumar e elaboram uma terapia específica. Por fim, os pacientes são convidados a participar de reuniões semanais com o grupo. Atualmente, cerca de 100 pessoas fazem o tratamento no Mário Covas.
Na Pastoral da Sobriedade, trabalho desenvolvido por 23 voluntários da Paróquia Santíssima Virgem, em São Bernardo, para dar apoio a alcoólatras, dependentes químicos e fumantes, menos de 1% dos assistidos procuram ajuda exclusivamente por causa do tabagismo. “A sociedade não cobra que fumante largue o vício como faz com os outros dependentes. Então o fumante só procura ajuda quando a saúde está afetada. E às vezes é tarde demais”, explica a voluntária Neli Cortello.
A cardiologista Jaqueline Scholz Issa, diretora de unidade do Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP (Universidade de São Paulo) enfatiza que o grau de motivação em parar de fumar e a preocupação com a saúde falam mais alto que a dependência química. “Alguém que fuma há pouco tempo pode não estar tão decidido quanto uma pessoa que fuma três maços por dia há 20 anos.”
A médica é autora do livro Deixar de Fumar – fumar é gostoso... parar é ainda melhor, que acaba de ser lançado pela MG Editores (R$ 20) com dicas de como travar a batalha contra o tabagismo. “O fumante tem de descobrir o companheiro que substituirá o cigarro. Pode ser caminhada, promover reuniões com amigos, trabalho manual, artesanato, enfim, aquilo que for de acordo com a aptidão dele. O cigarro, sem dúvida, deixa um buraco que tem de ser substituído.”
Força de vontade – Fumante desde os 18 anos, a dona-de-casa Marília Rocha Fernandes, 55 anos, de São Bernardo, comemora um ano de abstinência no dia 2 de agosto. Marília tem hipertensão controlada e atribui a preocupação com a saúde como fator que a levou a abandonar o vício. “Não quis esperar ter problemas mais sérios de saúde. Tentei parar várias vezes e não consegui, até que minha cardiologista me receitou o Zyban (antidepressivo). Tomei quatro caixas, e antes de terminar a primeira, larguei o cigarro. Mas é preciso persistência, principalmente depois das refeições, quando costumava fumar.”
A cada ano, quase 5 milhões de pessoas em todo mundo – o equivalente a 10 mil por dia – morrem por causa de doenças provocadas pelo uso do cigarro.
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