Não se trata apenas de parecer fisicamente com o personagem, porque esta é uma proeza da maquiagem. Mas falar, andar e gesticular como ele, aparentando aquele misto de força e contradições associado a Churchill, isso sim é uma interpretação. Churchill não foi apenas um grande homem, mas um formidável personagem, com seu inseparável charuto, comilão e beberrão, irascível às vezes, cheio de senso de humor em outras. Extrovertido e presa de depressões incontroláveis, Churchill era cheio de arestas, enigmas e ambiguidades. Coube a Oldman o mérito de haver entendido, até onde isso é possível, esse personagem insondável e emprestar seu corpo e alma para trazê-lo de volta à vida.
É um filme tenso, de punhos cerrados, em que cada palavra e gesto são decisivos. Churchill é visto ditando seus discursos à secretária, em casa com a mulher Clemmie (bela caracterização de Kristin Scott-Thomas), duelando com seus opositores que preferiam tentar um acordo diante da iminente queda da França. Também é visto numa escapada pelo metrô, para sentir como ia o moral do povo inglês àquela altura do campeonato.
O filme, claro, é de Gary Oldman, mas o mérito de Joe Wright não pode ser menosprezado. É de sua responsabilidade manter o fio tenso, naqueles poucos dias em que o destino da guerra esteve por um triz. Mesclar essa eletricidade permanente a momentos de humor e desafogo, que sempre esperamos desse personagem, é uma sabedoria. Como vê-lo enfim em toda a integridade, o único entre os participantes de todo aquele teatro político a estar, de fato, à altura dos desafios daquele tempo de guerra.
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