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Dois operários morrem soterrados em Santo André
Fabio Berlinga
Do Diário do Grande ABC
02/10/2006 | 22:28
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Dois homens morreram enquanto trabalhavam na construção de um prédio na rua 24 de setembro, bairro Casa Branca, em Santo André.

De acordo com testemunhas, Francisco Almir de Souza, 40 anos, e Manoel Henrique Neto, 48, estavam dentro de um buraco de aproximadamente dois metros de profundidade, onde preparavam o que seria o alicerce de um dos três edifícios em construção no canteiro de obras, quando foram soterrados por cerca de sete toneladas de terra.

O material havia sido retirado do mesmo buraco em que trabalhavam. Ainda não é possível saber o motivo do deslizamento da terra. Uma hipótese é de que o terreno, molhado por causa da chuva do fim de semana, não haveria agüentado o peso de uma retroescavadeira que escavava outro buraco ao lado. Um terceiro operário que trabalhava no local conseguiu sair ileso.

De acordo com o diretor do Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil de Santo André, Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra, Cleiton Sábio, que fez vistoria no local, os responsáveis pela obra afirmaram que todas as medidas de segurança foram tomadas para que a terra não deslizasse. “Eles me disseram que colocaram madeira para segurar a terra que tiraram do buraco, mas ela pode ter caído por causa da chuva. Com uma escavadeira por perto, porém, fica mais perigoso. Nós acionamos o Ministério do Trabalho que deverá vistoriar o local e averiguar as condições de segurança”, acrescentou.

O professor de Construção Civil e Urbanismo do Centro Universitário da FEI (Fundação Educacional Inaciana), Luiz Sérgio Coelho, concorda com o perigo em relação à distância entre o buraco e a retroescavadeira. “Existe uma distância segura a ser observada pelo engenheiro responsável pela obra, que deve levar em conta o tipo de terreno, a profundidade a ser escavada e as meteorológicas. Caso contrário, o terreno pode não suportar a pressão exercida pelo peso da máquina”, explicou.

Inquérito policial foi aberto para apurar a responsabilidade das mortes. A polícia técnica esteve no local para fazer a perícia. O laudo deve ficar pronto em até dois meses, segundo o delegado Marcos Duarte. “Ainda é cedo para dizer se houve um culpado ou se foi um acidente. Vamos falar com a empresa e com outros funcionários.”

No IML (Instituto Médico Legal) de Santo André, o filho de Manoel Henrique Neto, Aldemir dos Reis Henrique, 18 anos ainda muito abalado contou que ele havia conseguido o emprego na empresa havia 15 dias. Estava muito feliz por ter um trabalho com carteira assinada depois de oito anos fazendo bicos informalmente.

“Hoje fui eu que acordei ele para trabalhar. Ele estava dando graças a Deus pelo emprego”, contou. Aldemir trabalha como garçon apenas aos fins de semana e é deste emprego que deve vir o sustento da família de agora em diante. “Minha mãe é dona-de-casa. Tenho duas irmãs gêmeas, de 10 anos, e meu irmão mais velho está com problemas de saúde e não pode trabalhar.”

Foi a outra vítima, Francisco Almir de Souza, que havia indicado Manoel para a vaga. Ainda muito abaladas, nem a mulher nem a irmã quiseram falar com a imprensa, no IML.

Representantes da Proposta Empreendimentos, responsável pela obra, não quiseram comentar as mortes dos funcionários. Conversaram com os familiares e garantiram que todas as despesas com o velório e o enterrro dos operários serão arcadas pela empresa. 

Os dois operários moravam em bairros da zona Leste da Capital. O corpo de Manoel deve ser enterrado no cemitério Curuçá, em Santo André. Já a família de Francisco, até o fechamento desta edição, ainda não havia resolvido onde seria o sepultamento.




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