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Thiago Lacerda é Calígula
Ângela Corrêa
Do Diário do Grande ABC
28/11/2008 | 07:00
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Divulgação


Thiago Lacerda completou uma década de carreira este ano. Apesar de ter praticamente emendado trabalhos na televisão, estava desmotivado. "Não vem ao caso agora o porquê, mas estava me questionando", diz. A ‘crise' foi abreviada pelo convite do diretor mineiro Gabriel Villela, que queria o galalau de 1,94 metro para protagonizar Calígula, que estréia hoje no Teatro Paulo Autran, no Sesc Pinheiros. "Fui desafiado pelo personagem", diz.

É aconselhável, antes de assistir ao espetáculo, apagar qualquer memória do Calígula que Malcom McDowell interpretou no filme homônimo de Tinto Brass em 1979. O ponto de partida é o mesmo imperador cruel e extravagante que esteve à frente de Roma de 37 a 41. Mesmo com o aspecto lúbrico e explícito de Calígula, Villela preferiu despir, em lugar do belo torso de Lacerda, todo o desespero do personagem, que enlouquece depois que a irmã (e amante) morre. "É uma nudez de palavra. Preferia voltar para Minas e vender terrenos do que fazer qualquer outra coisa diferente."

Villela tem profundo respeito pelo texto em que se baseia. Foi escrito por Albert Camus (1913-1960) em 1938. Embora já tenha havido outras adaptações - incluindo uma com Edson Celulari (que, aliás, ficava nu), o diretor resolveu partir do zero. Pediu ao jornalista e dramaturgo Dib Carneiro Neto uma nova tradução, o mais fiel possível à pena do autor. "Não queria que a linguagem fosse coloquial", revela.

Os dois trabalharam na premiada Salmo 91, adaptação do best-seller Estação Carandiru, de Dráuzio Varella, montada no ano passado. Apesar do gabarito dos envolvidos, a nova produção quase não saiu do papel por falta de patrocínio. Os produtores acreditam que muito disso se deve à herança do longa-metragem de Brass, ícone soft-pornô nos anos 1980. "Foi preciso que pessoas do Sesc (que efetivamente apoiou o espetáculo) ligassem para as empresas reiterando que não era pornografia", lembra Villela. Calígula completa a trilogia niilista do diretor, que, começou com Leonce e Lena, de Büchner e Esperando Godot, de Beckett, ambas encenadas há dois anos.

Thiago Lacerda chega como protagonista em meio a um elenco já adaptado ao estilo de Villela. Pascoal da Conceição, Rodrigo Fregnan, Pedro Henrique Moutinho e Ando Camargo estiveram em Salmo 91. Magali Biff, que interpreta Cesônia, uma das amantes do imperador, fez com o diretor Esperando Godot. Antes dos ensaios, em setembro, o galã foi com a ‘turma' para o QG do diretor, no interior de Minas. Levou os boxes da série Roma, da HBO, e acredita que a reunião contribuiu para a unidade do espetáculo. "Lá eu zerei: fizemos nossos horários, tomamos café, jogamos bola", diz.

No ponto crucial de sua carreira, o ator foi chamado às pressas para substituir Fábio Assunção em Negócio da China. "Negociamos que eu começaria a gravar após a estréia de Calígula. Vai ser corrido, mas estou confiante", diz ele, que deve ficar na ponte aérea até fevereiro, quando a temporada chega ao fim.

Calígula - Teatro. Sesc Pinheiros - Teatro Paulo Autran - R. Paes Leme, 195. Tel.: 3095-9400. 6.ª e sáb., às 2 h; dom., às 18h. Ingr.: R$ 5 a R$ 20. Até 22 de fevereiro.

 

 




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