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Retorno às raízes

Sepultura, que toca hoje no Rock in Rio, fez os ensaios e afinou detalhes para o espetáculo ‘em segredo’ no Lauro Gomes

Vinícius Castelli
24/09/2017 | 07:00
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Nario Barbosa/DGABC


Um pouco mais de volume no microfone. Outro botão na mesa de som ajuda a ajustar as vozes de apoio. Regulagem perfeita do timbre do contrabaixo. Guitarra afinada e plugada nos amplificadores cor de laranja. Toda a parafernália e universo de cabos e instrumentos montados para uma grande apresentação. Pausa para observar com mais atenção os detalhes da bateria e as luzes azuis, vermelhas e de diversas cores que iluminam e trazem clima de rock ao ambiente mais acostumado a apresentações teatrais. Tudo pronto. É hora da banda passar e repassar trecho de uma música sem parar, até que tudo fique como tem de ser.

Assim foi parte da preparação do Sepultura para o show que fará, às 20h, no palco Sunset do Rock In Rio. No começo da semana, o grupo montou arsenal em São Bernardo, no Teatro Lauro Gomes. Na terça-feira, o Diário acompanhou com exclusividade um pouco do processo, que só pôde ser revelado hoje, dia da grande apresentação no festival.

Os ensaios ocuparam quase todo o dia. O sol foi embora e o grupo seguiu firme, para que tudo funcionasse bem. Entre os que estiveram com olhos e ouvidos atentos para que nada passasse despercebido estava o guitarrista Andreas Kisser. Tudo precisava estar perfeito para o espetáculo do grupo, que conta ainda com Paulo Jr. (contrabaixo), Eloy Casagrande (bateria) e Derrick Green ( voz).

A atividade na região é espécie de ‘volta às raízes’, já que Andreas nasceu em São Bernardo e viveu em Santo André. Eloy é andreense e a banda, nos anos 1990, viveu baita história pelas redondezas. “Conheço muita gente aqui. O Sepultura ensaiou em Santo André, no Centro, perto da loja Fucker Records. Usamos muito da estrutura da região na época do disco Chaos A.D.”, relembra o guitarrista.

Andreas conta que estava procurando por bom local para os ensaios do show e lembrou do Grande ABC. A Prefeitura topou e tudo deu certo. “Precisava montar o palco do Rock in Rio, que é inédito. A estrutura é diferente do que a gente estava usando”, afirma. Preferimos ficar por São Paulo e apareceu a oportunidade de ensaiarmos em São Bernardo. Um dos nossos empresários mora na região.”

A estreia do Sepultura no Rock in Rio foi em 1991 e esta será a sétima passagem da banda pelo evento, contando as edições realizadas no Exterior. “O show será baseado no último disco, Machine Messiah”, diz Andreas. Para acompanhar os riffs de peso, o Sepultura terá no palco os violinos de Amon Lucas e Moisés Lima, da Família Lima, convidados especiais da noite. Os músicos vão reproduzir o trabalho feito pela Myriad Orquestra (Tunísia) no último disco do grupo.

Outro que marca presença é o maestro Renato Zanuto, da Orquestra Dynamic, de Santo André, que será acompanhado por alguns músicos do conjunto. A parceria de Zanuto com a banda vem de longe. Ele já participou de dois álbuns do Sepultura e de trabalhos solo de Andreas, entre outras atividades. “O processo de preparação foi intenso. Além dos arranjos que já estavam definidos no disco, ainda tive que preparar um novo arranjo para a música Roots Bloody Roots integrando as cordas e o hammond (teclado) a esse hino consagrado”, explica o maestro.

Segundo o guitarrista, esse tipo de experimentação, do Sepultura com outros artistas, instrumentos e linguagens musicais, é algo que o evento sugere. “Em 2011, na volta do Rock in Rio ao Brasil, tocamos com o grupo (percussivo) Les Tambours du Bronx. Foi show inédito que rendeu muitos frutos”, diz ele. A banda também tocou no evento com o cantor e compositor Zé Ramalho. “A galera ‘torce o nariz’ no início para essas parcerias, mas depois todo mundo curte. Isso ajuda a quebrar preconceitos”. Para Zanuto, esse tipo de projeto também é válido. “A visão do Sepultura é muito aberta a inovações. Eles conseguem unir a essência da banda a experimentalismos de formas corajosa e criativa, o que combina demais com a minha maneira de pensar”, explica.

RECEPÇÃO
Apesar de ter sido tratado como segredo absoluto, na terça-feira, antes de começar o ensaio do grupo, a banda recebeu cerca de 40 fãs convidados da região para fotos e autógrafos. “É legal fazer isso, já que temos a oportunidade. É a primeira vez que o Sepultura vem para São Bernardo”, reflete Andreas. “O encontro com fãs é algo que a cidade conseguiu”, diz Adalberto Guazzelli, diretor de Cultura do município.

Entre os presentes estava Ronaldo Oliveira, 40 anos, de São Bernardo, conhecido como Animal. “Trouxe minha coleção de discos de vinil e revistas. Estou ansioso. É um momento muito importante para mim. Nunca tive essa oportunidade, de conhecer os músicos da banda”, explica. Laércio Soares, 38, também de São Bernardo, é outro que marcou presença. “Nunca vi o grupo ao vivo e nunca pude conhecê-los. Ficamos felizes por eles serem daqui e terem alcançado tudo o que conseguiram. Dá orgulho mesmo.”

Andreas espera que esses ensaios e recepção dos fãs em São Bernardo sejam o primeiro passo para uma relação mais estreita com a cidade. Guazzelli adianta que há conversas para parcerias futuras. “Em Santo André já tocamos várias vezes. Em São Bernardo ainda não aconteceu, mas espero que esses ensaios abram possibilidades. Quem sabe a gente toque por aqui em breve.” Todos nós estaremos de olho.




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