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'Orquestra dos Meninos' é música transformadora na telona
Do Diário do Grande ABC
07/11/2008 | 07:06
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Foi por meio de um texto do cronista Matthew Shirts, em um jornal paulistano, que o diretor Paulo Thiago soube, há 13 anos, de fatos que ocorriam no Nordeste e terminaram dando origem a seu novo filme, Orquestra dos Meninos, que estréia hoje. Em janeiro de 1995, jornais de todo o País noticiaram o seqüestro do garoto que integrava a Orquestra Sinfônica do Agreste, formada por um maestro idealista na cidade de São Caetano, em Pernambuco. As primeiras notícias davam conta de que o próprio maestro Mozart seria o seqüestrador, em meio a insinuações de abuso sexual.

Shirts percebeu a fraude e a desmontou em sua reportagem. Desde que a leu, Paulo Thiago carrega a história que agora concluiu. Orquestra dos Meninos está longe de ser um filme perfeito. Para o espectador e o crítico interessados em seus defeitos, não será difícil encontrá-los e expô-los em textos virulentos. Mas com todos os defeitos que possa ter, o filme tem também momentos de delicadeza e sensibilidade, e a história é realmente bonita.

"Quando a li pela primeira vez, dei-me conta, imediatamente, de que coloca uma questão radical e emblemática do País", avalia o diretor. "O maestro fez um trabalho extraordinário tirando os meninos da periferia e do campo, conseguiu abrir para eles a possibilidade de uma vida mais digna e de um futuro melhor. Como uma pessoa assim podia sofrer difamação tão grande a ponto de poder destruir seu trabalho?"

O texto de Shirts já apontava para o conservadorismo das forças políticas que dominavam a região. As velhas oligarquias sentiram-se ameaçadas pela semente do novo plantada pelo maestro. "Ele só se salvou porque conseguiu apoio do bispo dom Hélder Câmara, que era uma personalidade política forte e uma grande liderança progressista. Conseguiu apoio de artistas como Tom Zé e Geraldo Azevedo, que se manifestaram a seu favor. Haveria várias maneiras de contar essa história. Não quis fazer um filme sobre a violência nem mais uma história sobre miséria. O que me interessou foi uma coisa mais generosa. É a história do artista que luta para mudar o mundo. A música ocupa grande parte do filme e é ela que está sendo atacada, a sua capacidade de elevação sobre todas as dificuldades. A luta do maestro é a do artista e eu resolvi fazer dela a minha luta", explica o diretor.

Ao longo de sua carreira, iniciada com Senhores da Terra, em 1970, Paulo Thiago fez muitos filmes, como O Vestido, sobre Carlos Drummond de Andrade. Com altos e baixos, vem desenvolvendo uma obra com a intenção de pensar o Brasil. E tem flertado com o melodrama, que reaparece agora em Orquestra dos Meninos.

O filme tem momentos bonitos, que mostram a descoberta da musicalidade. Mais tarde, com a orquestra já formada e o maestro absolvido, a garota canta as Bachianas, de Villa-Lobos, e a voz na trilha é a de Eliane, a cantora da orquestra real, que inspirou a personagem.

O elenco foi de uma entrega total: Murilo Rosa como o maestro, Othon Bastos como o político que se opõe a ele e a garotada, selecionada por meio de testes (e preparada por Lais Correia).

Mas já que o personagem que inspira o longa é real e está vivo, qual foi sua reação ao ver o filme? "Ele quase teve um enfarte. Chorou muito." Mas o diretor adverte: "Murilo conheceu Mozart antes da filmagem, mas tivemos o cuidado de não transformar seu maestro numa cópia do original. O risco seria cair na caricatura. Nossa história é real, mas narrada como ficção."




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