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Relação com prefeituras é difícil
William Cardoso
Do Diário do Grande ABC
24/05/2009 | 07:00
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O presidente da Fundação ABC, Marco Antonio Espósito, recebeu a reportagem do Diário e foi questionado sobre temas polêmicos, muitas vezes tratados apenas nos bastidores da administração pública, sem chegar de forma clara aos cidadãos, aqueles que de fato financiam os serviços prestado. Tudo isso foi permeado pela atuação da autarquia nas cidades da região - e também na Praia Grande. Um negócio de quase meio milhão de reais em receita, por ano.

Falou também da relevância da entidade. Expôs um retrato instantâneo de como se dão as relações entre Fundação e as diversas prefeituras do Grande ABC.

O resultado da entrevista está logo abaixo, contextualizado pelo Diário.

SANTO ANDRÉ - "Santo André ainda não entendeu que tudo que recebo repasso em salários e encargos. Não ficamos com nada. A Prefeitura me dá 1% do que está contratado no Hospital da Mulher e mais nenhum centavo. É o pagamento pelos próprios serviços. Eles dizem que é muito, mas então me digam qual é o serviço que querem cortar ou mudar. É só falar. Nós cumpriremos a vontade da Prefeitura. Não adianta falar que a Fundação é cara. Caros são os serviços que foram contratados pelo governo anterior, que eram mais complexos. A principal característica disso tudo é o desconhecimento em relação ao que é a Fundação, que tipo de serviço é prestado e pelo que recebe. É difícil entender que logo em Santo André, que é onde está a Fundação, aconteça essa coisa toda. Se ele (o prefeito Aidan Ravin) pedir para pintar o Hospital da Mulher de preto, a gente pinta, mas que diga o que quer. O prefeito não fala. Mas agora o discurso mudou. Eles pretendem otimizar os recursos. As pessoas com o perfil mais técnico já perceberam que, se diminuir aqui, aumentará lá".

A relação entre Prefeitura de Santo André e a Fundação tem sido instável nos últimos meses. O prefeito Aidan Ravin anunciou auditoria em contas e serviços com a Fundação ABC, falando ainda sobre uma possível redução no volume de repasses para a autarquia.

O presidente da FUABC informou que, em abril, recorreu a instituições financeiras para pagar salários (cerca de R$ 2,3 milhões), porque a verba não foi enviada pela administração municipal.

Questionada, a Prefeitura não se pronunciou sobre as declarações de Espósito.

DIADEMA - "A Fundação ABC está deixando Diadema. De 12 meses de repasses que deveriam fazer, pagaram apenas seis deles em todo esse tempo. Agora, ficamos com uma situação em que tenho de mandar funcionários e médicos embora, arcando com as rescisões contratuais. Temos 16 funcionários que prestam serviço em parte do Quarteirão da Saúde e os repasses eram da ordem de R$ 140 mil mensais".

A Prefeitura de Diadema respondeu às informações passadas por Espósito. A administração municipal informou que a Fundação prestou contas apenas de uma parte dos recursos repassados desde junho de 2008, e que não teria atingido as metas estabelecidas no plano de trabalho quando da assinatura do convênio. A Prefeitura então suspendeu os repasses até a comprovação dos gastos. A Secretaria de Saúde diz que está tomando todas as medidas necessárias para retomar os procedimentos realizados pela Fundação ABC.

SÃO BERNARDO - "Cumpriram todos os contratos estabelecidos na gestão passada. Eles têm, na verdade, rediscutido os contratos, uma reforma administrativa no sistema de saúde municipal. Sempre somos informados de tudo o que pretendem fazer com antecedência. Criaram mais de 500 novos cargos operacionais, pela Fundação, e extinguiram 102 cargos comissionados."

A Prefeitura de São Bernardo firmou recentemente um convênio com a Fundação em um serviço de internação domiciliar. Não se trata exatamente da ampliação da parceria, tendo em vista o corte significativo de parte dos serviços prestados em áreas cruciais, como Pronto-Socorro Central do município. Apesar das críticas iniciais da administração petista aos contratos firmados entre a gestão anterior, de William Dib (PSB), e a autarquia, o município segue como aquele que mais repasses faz à entidade.

CARGOS X POLÍTICA - "No Hospital da Mulher, em Santo André, mandaram embora gente que trabalhava na manutenção. Em São Bernardo, tinha pessoas com muitos anos de serviço e que foram demitidas, gente que colocava dinheiro do próprio bolso quando era necessário. De fato, há um corte significativo, sim. São enfermeiros, psicólogos, entre outros. Faz parte, segundo a administração, de um plano de reforma administrativa. É um absurdo você jogar tudo fora e colocar novas pessoas, sempre digo isso. Quando sair, vou pedir para o próximo presidente não mandar embora todo mundo que torce para o São Paulo, só porque eu, atual presidente, sou são-paulino fanático. Martin Luther King dizia que seus filhos deveriam ser julgados pela competência e pelo caráter, não pela cor de sua pele. Acho que se aplica também à visão partidária. Temos um banco de currículos, com mais de 2.000 nomes, que serve para realocar pessoas que foram demitidas. Teremos a AME em Santo André. Com certeza, é uma oportunidade".

O presidente da Fundação ABC fez os comentários baseado também nas informações colhidas pela reportagem de que funcionários de locais como o PS Central de São Bernardo foram demitidos e substituídos por outros mais "afinados" com a administração municipal. A Prefeitura de São Bernardo foi questionada sobre as denúncias de demissão por questões políticas e, por meio da Secretaria de Saúde, informou que foi feita uma reordenação administrativa com a Fundação ABC, pela qual alguns cargos foram extintos e outros estão sendo providos por meio de seleção pública. A Prefeitura de Santo André não se manifestou.

RELEVÂNCIA - "Hoje, mais de 50% dos médicos que trabalham na região são da Fundação ABC. Expoentes da profissão, como David Uip (infectologista), Artur Guerra (psiquiatra), José Roberto Pagura (neurologista) são formados pela Faculdade de Medicina do ABC. Serviços de dermatologia, urologia e oftalmologia são referência nacional. Temos a quarta melhor faculdade do Estado de São Paulo, a segunda melhor entre as particulares do Brasil. São 300 residentes fazendo especialização. Temos mestrado, terá doutorado, fechando-se uma carreira completa. Formamos também enfermeiros e farmacêuticos. Somos um dos grandes empregadores da região, o que é muito importante num momento de crise como este."

A Fundação ABC emprega atualmente 6.500 pessoas, que trabalham em Santo André, São Bernardo, São Caetano, Praia Grande e, por enquanto, em Diadema. Todos eles têm contratos de trabalho, registro em carteira e fundo de garantia.




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